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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Shrek ensina: soluções mágicas para problemas custam a felicidade

Aceitar a realidade e aprender a lidar com ela de forma aberta e honesta leva cada vez mais a uma existência plena de sentido

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 8 ago 2017, 19h22 - Publicado em 8 ago 2017, 19h21

O longa Shrek Para Sempre mostra o que aconteceu com o ogro mais famoso do cinema depois do “viveram felizes para sempre”. Nele Shrek é um pai de família mergulhado em uma plena rotina de família mediana (crianças chorando, discussões de relacionamento com a esposa, cuidados com a casa etc).

Ninguém mais tem medo de seus urros e sua casa se transforma em uma espécie de ponto turístico no pântano de Tão Tão Distante. Essa crise de identidade quase leva Shrek à loucura, o que o faz queixar-se constantemente de sua vida mediana.

O maligno Rumpelstiltskin, ao escutar as queixas do ingênuo ogro, oferece a ele um pacto. A troca é bastante simples. Shrek ganharia um dia no qual poderia viver como ogro em troca de um dia de seu passado. Um dia por outro. A fim de escapar por um dia das obrigações de pai de família, Shrek aceita a proposta de Rumpelstiltskin sem pensar muito.

Acontece que o vilão não escolhe um dia qualquer da vida de Shrek. Ele escolhe um que faz com que Shrek jamais tenha existido. Isso significa que Fiona nunca foi salva e que o senhor absoluto do reino foi na verdade o próprio Rumpelstiltskin. Já Shrek, ao ser conduzido ao seu dia de ogro obtido por direito, acaba em uma realidade paralela.

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Apesar de parecer uma troca simples (um dia por outro), Shrek foi bastante ingênuo ao achar que poderia resolver magicamente seu cansaço com a rotina de pai e marido. Assim, o que parecia ser um pagamento barato (um dia de seu passado) acaba representando a perda de sua própria existência.

As escolhas que fazemos diante das dificuldades que a vida impõe acontecem da mesma forma. Não existem soluções fáceis para os problemas e que não dependam do real enfrentamento deles. Nada se resolve por magia.

Não significa que temos de sofrer para resolver um problema ou para sermos felizes. A questão é… se a situação não se mostra fácil, não há um caminho que não exija inteligência e dedicação.

Ao ceder à tentação das soluções fáceis, corre-se o risco de entregar um pagamento caro por um benefício tacanho e efêmero. O que é melhor? Comprar um vibrador corporal na Polishop ou praticar exercícios regularmente? Fazer uma lipoaspiração ou reeducar-se quanto à alimentação saudável? Apoiar um grupo de políticos de boa imagem que oferece soluções prontas para os problemas complexos da sociedade ou engajar-se na construção das soluções?

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Financiar um carro e levá-lo hoje mesmo para casa ou juntar um pouco por mês até poder comprá-lo à vista? Bater na criança para que ele deixe de fazer algo errado imediatamente ou dedicar tempo para ensiná-la como fazer do modo correto? Seguir o horóscopo ou dedicar-se a refletir sobre a vida e tomar as decisões necessárias? Procurar a igreja que lhe oferece milagres ou agir para que a dificuldade seja superada? Aceitar o dogma de que todo o universo foi criado por Deus para a existência de nós, humanos, ou suportar o vazio de explicações até que elas sejam aos poucos elucidadas pela ciência?

Os exemplos são infinitos. É fácil responder para cada escolha acima qual a alternativa menos exigente. Mas é igualmente fácil afirmar com certeza que absolutamente nenhuma delas funciona. E o mundo está cheio de Rumpelstiltskins prontos para nos oferecer contratos mágicos.

Eu recebo no consultório muitas pessoas angustiadas porque fazem vários pactos dessa natureza em suas vidas. Todos querem se beneficiar d’O Segredo. Vocês acham mesmo que o mundo estaria tão cheio de injustiça se as soluções de felicidade anunciadas aos quatro ventos fossem reais? Reflita bastante e identifique em sua vida os seus próprios Rumpelstiltskins.

Você pode ter boas intenções assim como Shrek mas, ao escolher soluções mágicas para seus problemas, você estará determinando sua infelicidade e ainda por cima pode determinar a infelicidade também de outras pessoas, assim como acontece na animação. A notícia boa é que aceitar a realidade e aprender a lidar com ela de forma aberta e honesta leva cada vez mais a uma existência plena de sentido.

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