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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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#SPSonha: a valorização dos parques é boa para as finanças municipais

Diferentemente de Nova York, São Paulo ignora e não faz bom uso de suas áreas verdes

Por Raul Juste Lores
Atualizado em 18 jan 2019, 06h00 - Publicado em 18 jan 2019, 06h00

Na foto acima, o Jardim Botânico de São Paulo até fica parecido com o Central Park nova-iorquino. Mas há uma grande diferença: a selva de pedra espalhada ao redor do parque paulistano quase ignora o precioso verde ali. Esse monte de torres genéricas no Jabaquara e na Vila Guarani despreza não só a arquitetura: elas estão de costas para o verde. Exatamente o oposto das dezenas de edifícios de luxo que circundam o Central Park e pagam os maiores impostos de Manhattan. São Paulo ainda não aprendeu a fazer esse casamento entre valor imobiliário e arrecadações maiores, pelo bem das finanças municipais.

A gestão do prefeito Michael Bloomberg (2002-2013) foi pródiga em criar parques em Nova York, em áreas antes degradadas. Os antigos píeres, fábricas e galpões portuários que povoavam as margens do East River, passando por Brooklyn, Williamsburg, Long Island City e Queens, formavam um paredão barra-pesada que separava a cidade das águas. Bloomberg concebeu um bem-bolado: mudou o zoneamento dessas áreas industriais, permitindo grandes edifícios multiúso, com apartamentos e escritórios, que teriam uma vista incrível para o rio (e para Manhattan). Como contrapartida, os construtores deveriam patrocinar e manter novos parques à beira-rio — bem na frente dos empreendimentos aprovados, o que os valorizaria, então valeriam o investimento e o capricho.

O Jardim Botânico, vizinho ao Zoológico e quase três vezes maior que o Parque do Povo: entrada a 10 reais (só em dinheiro, não se aceita cartão) e entorno com baixa densidade de moradores (FOTOS MAURÍCIO VILELA/INSTAGRAM @SOUDRONEIRO/Divulgação)

Nos últimos quinze anos, Nova York ganhou o equivalente a um Ibirapuera inteiro de parques lineares na costa. Os mais badalados são o Brooklyn Bridge Park, que se destaca pela quantidade de quadras esportivas, churrasqueiras e gramados para piqueniques; o Hunter’s Point South, com muitas áreas de recreação para crianças pequenas; e o Domino Park, que aproveitou as ruínas de uma antiga refinaria de açúcar e tem paisagismo assinado pelos responsáveis do High Line, o parque suspenso de Manhattan. Ali, foram instalados passarelas elevadas sobre as ruínas — aproveitando guindastes e tanques da própria usina —, espreguiçadeiras, um jardim japonês, um dog park e quadras de vôlei. O local fica aberto das 6 da manhã à 1 da madrugada.

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O incorporador que bancou o Domino Park, Jed Walentas, da construtora Two Trees, afirmou em junho passado, quando a área ficou pronta: “Nunca me diverti tanto em uma obra como me diverti nessa”. O parque foi muito além do que a prefeitura exigia. Ali, ele está construindo cinco torres, entre elas uma residencial de 42 andares e uma de 22 andares de escritórios. A barreira verde dos parques ainda protege a facilmente alagável Nova York, como o furacão Sandy, em 2012, demonstrou. Bloomberg dizia que não criaria parques com dinheiro da prefeitura, pois faltavam recursos para os já existentes. Soube viabilizar parques com dinheiro alheio. Enquanto isso, em São Paulo, a prefeitura ainda costuma cobrar das construtoras contrapartidas viárias, de passarelas a viadutos. Muitos parques são cercados por casas, servindo a poucos vizinhos que podem visitá-los a pé.

As fotos do Botânico paulistano, que completou oitenta anos em 2018, são do empresário da área de seguros Mauricio Vilela, que pilota o perfil @soudroneiro no Instagram.

A selva de pedra de costas para o verde: perdem os moradores, perde a arrecadação de IPTU (FOTOS MAURÍCIO VILELA/INSTAGRAM @SOUDRONEIRO/Divulgação)
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