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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Patrimônio moderno na Nove de Julho é vítima da priorização do automóvel

Fachadas dos condomínios estão deterioradas e edifícios sofrem com problemas de preservação

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 fev 2020, 11h45 - Publicado em 21 fev 2020, 06h00

No primeiro grande boom de verticalização de São Paulo, a Avenida Nove de Julho tinha papel estratégico. Servida por bondes, ligação natural entre centro, Paulista e Jardins, não foram poucos incorporadores que decidiram erguer ali prédios no início dos anos 1950, de unidades espaçosas a, principalmente, diminutas quitinetes.

Nas décadas seguintes, a avenida foi mais uma vítima da priorização absoluta do automóvel, em detrimento do bem-estar do pedestre ou dos moradores, e o trânsito pesado afugentou a classe média. As fachadas dos condomínios se deterioraram.

Dezenas de apês modernistas na Nove de Julho (Raul Juste Lores/Veja SP)

Ironicamente, são os fundos do Edifício Nove de Julho (antes, Jorge Bey Maluf) que parecem de um prédio novo e reluzente (no alto). Esses fundos dão para a Rua Adma Jafet, do Hospital Sírio-Libanês, bem mais protegida do trânsito pesado. Projetado pelo arquiteto Eduardo Corona em 1953 e entregue pela Construtora Zarzur & Kogan em 1956, tinha cores mais vivas (os pilotis eram azul-escuros originalmente, assim como a fachada apresentava pastilhas amarelas, azuis, brancas e cinza). Os elementos vazados permitem ventilação e insolação nos corredores e nas unidades, e mesmo a escadaria recebe iluminação.

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Apê modernista Rio Vermelho (Raul Juste Lores/Veja SP)

Ainda nesse pedaço da avenida entre o centro e a Paulista, há diversos exemplares de boa arquitetura moderna, como o Normandie (1953), do arquiteto Franz Heep, o Urupês (1954), do arquiteto e incorporador Majer Botkowski, e o Rio Vermelho (1964), do arquiteto e construtor Israel Galman. Todos sofrem com problemas de preservação. No Normandie, onde existem dois andares de galeria (térreo e sobreloja, ligados por rampas), a maioria dos locais se encontra vazia.

Edifício Normandie na Nove de Julho (Raul Juste Lores/Veja SP)

A prefeitura não cuida de uma das avenidas mais densamente povoadas da cidade (muitos desses prédios têm centenas de apartamentos). A gestão Haddad transformou o Viaduto Plínio de Queiroz em exclusivo para os ônibus no fim de 2015. O mundo não acabou, e se perdeu uma boa oportunidade de pensar na demolição da estrutura. Quando assumiu, em janeiro de 2017, o então prefeito João Doria começou seu programa “Cidade Linda” por ali, para limpar o abandonado baixio do viaduto, na Praça 14 Bis (que pouco tem de praça). A zeladoria empacou. Pior: o trânsito pesado voltou a esse pequeno Minhocão. Na mesma época, carros tiveram a permissão de trafegar por ali, desde que com pelo menos um passageiro. A exigência foi extinta em março de 2017. A demolição de viadutos, tão comum do Rio a Madri, não emplaca na capital (o fim do Viaduto Diário Popular foi prometido há dez anos). Pobre de quem recebe fumaça e barulho rente à janela.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 26 de fevereiro de 2020, edição nº 2675.

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