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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Os dois predinhos com o metro quadrado mais valorizado do Pacaembu

Os dois imóveis são exceção no decadente bairro, cheio de placas de vende-se e com apenas estimados 4 000 habitantes, pouco mais que o Copan,

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 jul 2020, 06h00

Uma raríssima exceção no Pacaembu tem a área mais valorizada no decadente bairro. O metro quadrado nos apês de dois solitários predinhos pode chegar a 10 000 reais, enquanto o das casas na mesma região atinge no máximo 7 000 reais, segundo dados do DataZAP (com sorte, são vendidos a 5 000), ou menos da metade do valor dos vizinhos Higienópolis e Perdizes. Surpreendentemente, o bairro central já exibe valores similares por metro quadrado aos do também problemático Morumbi.

O Pacaembu tinha 10 000 habitantes há trinta anos. Mas, dos anos 1990 para cá, as famílias encolheram, empregados deixaram de morar nos casarões e pelo menos 30% dos imóveis se encontram à venda ou para alugar. Hoje, o número é estimado em
4 000 habitantes. Pouco mais que o número de moradores do Copan, no Centro (o Pacaembu tem 1,2 milhão de metros quadrados, ou sessenta vezes a gleba ocupada pelo colosso de Niemeyer). A pandemia só coroou esse declínio.

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Em uma live no Instagram da @vejasp, o CEO do Grupo ZAP, portal de ofertas imobiliárias, deu pistas. Segundo Lucas Vargas, a procura de casas, que já estava baixa, mudou um pouco durante a quarentena. Com a possível eternização do home office para muitos profissionais liberais, livres do trânsito e de longas viagens, boa parte dos compradores está priorizando morar perto de comércio e de serviços. O que falta no Pacaembu.

O tombamento e o zoneamento do bairro, certamente defendidos por moradores de alta renda, mas que provavelmente nunca leram nada da urbanista Jane Jacobs nem do economista Ed Glaeser (que explicam, de forma clara, o mix necessário para fazer um bairro seguro e vivo), acabaram desvalorizando a área.

Os dois predinhos podem inspirar uma alternativa aos espigões ou aos casarões desvalorizados. O primeiro surgiu a partir da junção de quatro lotes, somando um terreno de 2 880 metros quadrados. Chamado Queen Elizabeth, foi projetado em 1953 pelo engenheiro Probo Falcão Lopes e ficou pronto em 1957. Tem 35 apartamentos, de 97 a 154 metros quadrados, e seis lojas no térreo — uma delas ocupada pelo belo estúdio da designer Jacqueline Terpins. Onde poderiam existir apenas quatro casas, talvez com placas de vende-se, há 35 apartamentos confortáveis, além de comércio na rua.

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O segundo, e menor, é o Edifício Flamboyant, projeto dos arquitetos Roberto Aflalo e Plínio Croce, erguido em um lote de 930 metros quadrados, que abrigaria uma única casa. Possui nove apartamentos (padrão é de 180 metros quadrados, em cinco andares).

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A dupla de predinhos solitários da rua Gustavo Teixeira: valor do m2 mais alto e raro comércio no térreo, em bairro (o sem muro nem grade é o Queen Elizabeth) (Ricardo @drone.cirillo/Divulgação)

Lançado em 1957, sofreu com o maremoto econômico da construção de Brasília, e sua inflação descontrolada. A obra só ficou pronta em 1967, terminada pelo engenheiro-arquiteto Lamartine Maia Rosa.

De forma indolor, sem um muro altíssimo, como o de muitas casas vizinhas, sem um espigão que altere a fisionomia da região, os dois pequenos criaram um quarteirão com vida — e com apês mais acessíveis ao bolso do que uma casa de 900 metros quadrados.

(A coluna agradece ao oficial Jersé Rodrigues da Silva, do 2º Registro de Imóveis, e a seu funcionário, Marcelo Tadeu dos Santos, pela valiosa ajuda na pesquisa destes predinhos — eles merecem ser mais conhecidos).

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de julho de 2020, edição nº 2696. 

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