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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Campos do Jordão deveria pensar em ter mais charme e atrações o ano todo

Depois da pandemia, é hora de saber se reinventar, sem repetir tantos erros, e incluir hotéis esplendorosos, comércio sofisticado e boa arquitetura

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
31 jul 2020, 06h00

RESET FORÇADO NA MANTIQUEIRA

A pequena Gramado, no Rio Grande do Sul, recebe 6 milhões de visitantes por ano, 50% mais que Campos do Jordão. Em média, os turistas passam maior número de dias na estância gaúcha e gastam bastante mais. O resultado é que a renda per capita de Gramado é de 50.000 reais anuais por habitante, enquanto a de Campos é de 23.000. Isso se traduz em empregos, claro: 66% dos gramadenses estão ocupados, contra 28% dos jordanenses, segundo o IBGE Cidades. Campos conseguiu desperdiçar sua proximidade com as duas maiores cidades do país (a 172 quilômetros de São Paulo e a 333 do Rio).

Espelhado alpino: arquitetura deixa a desejar (Raul Juste Lores/Veja SP)

Enquanto Campos se limitou a seu Festival de Inverno, em julho, Gramado montou um calendário de atrações o ano inteiro, de festivais de jazz e blues ao de cinema, de torneios de golfe e motocross a encontros de carros antigos. Até o festival Natal Luz transformou o mês de dezembro em temporada quente de uma cidade invernal, mesmo competindo com praias no verão.

Mix de arquiteturas defeituosas: Suíça medieval aparece entre as construções (Raul Juste Lores/Veja SP)

Quando a alta temporada é tão curta, como em Campos, o turista acaba pagando um preço que banque a estrutura ociosa do resto do ano. O barato virou caro, assim como o pouco inspirado comércio na cidade, à altura de sua arquitetura: não há justificativa para o kitsch alpino. Telhados até o chão onde não neva, janelas minúsculas que só se explicavam nos Alpes medievais, pré-calefação e vidro duplo, sem falar dos materiais baratos. Se é para imitar a Suíça, que seja a atual, terra de arquitetos fantásticos. Herzog & De Meuron, Peter Zumthor, Annette Gigon e Gion Caminada fazem milagres no friozinho das montanhas.

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Áspen, só que não: a cultura da Mantiqueira desapareceu dos pontos turísticos (Raul Juste Lores/Veja SP)

Gramado também tem uma arquitetura derivativa e passadista (afinal, réplicas “copia e cola” são um mal nacional), mas, pelo menos, os gaúchos já se livraram do trânsito pesado de caminhões na frente das pousadas, de obras sem guarda-corpo na avenida principal e da debilidade de oferecer poucas opções quando chove.

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Charme deveria entrar na pauta. Que Punta del Este, os chilenos Atacama e Torres del Paine, a colombiana Villa de Leyva, para não falar de Oaxaca ou Playa del Carmen, no México, tenham hotéis esplendorosos, comércio sofisticado e boa arquitetura por todos os lados, deveria envergonhar o paladar infantilizado de certos endinheirados paulistanos, adeptos do design mais enjoativo, como a criança que adiciona muito açúcar ao que já é doce ou ketchup em tudo (o gosto do olhar só evolui via informação, como o paladar). Turismo não é só Orlando. Os excessos nestas fotos mostram como falta de critério degrada mesmo um cenário natural belíssimo. Se a pandemia vai dizimar centenas de negócios em Campos (a estimativa é que receba apenas 10% dos visitantes da temporada do ano passado), é hora de saber se reinventar, sem repetir tantos erros.

Salada de referências fake: neon na defeituosa Torre Eiffel (Raul Juste Lores/Veja SP)

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.  

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