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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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A história do Toriba, primeiro hotel turístico de Campos do Jordão

Na parte mais alta da cidade, em um enorme parque povoado de araucárias e bromélias, parece blindado contra a vulgaridade estética dominante na cidade

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
31 jul 2020, 05h52

TORIBA QUE RESISTE

Uma epidemia de tuberculose e gripes diversas transformaram Campos do Jordão em destino médico. Mas foi a impossibilidade de a elite paulistana viajar para o exterior, durante a II Guerra, que converteu o mais alto município brasileiro em potência turística. A história se repete.

Alfredo Duntuch, em frente ao Toriba, em 1943: vitória, depois de epopeia pela sobrevivência (Reprodução/Veja SP)

Foi em 1940 que o empresário Ernesto Diederichsen, da Fazenda Morumbi e da indústria têxtil, e seu genro, Luiz Dumont Villares, da Aços Villares e dos elevadores Atlas, decidiram abrir um hotel na parte mais alta da cidade, a 1 780 metros, sem relação com tratamentos respiratórios. O escritório de engenharia Severo Villares (do genro e sócio de Ramos de Azevedo, Arnaldo Villares, primo de Luiz) ficou com a encomenda. Em tempos em que luxo não era confundido com ostentação, foi pensado um hotel austero, de inspiração vagamente alpina (sem o kitsch exagerado que se alastraria em Campos nas décadas seguintes).

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Por sorte, o Severo Villares tinha acabado de contratar o engenheiro-arquiteto Alfredo Duntuch, que coordenou a execução. Judeu polonês, ele já havia projetado mais de vinte edifícios em sua Cracóvia natal quando conseguiu escapar da invasão nazista. Com a mulher, Antonina, e a filha Olga, de 3 anos, Alfredo conseguiu vistos apenas no consulado brasileiro em Istambul. Com medo do Mediterrâneo, o trio atravessou Oriente Médio, Índia e África. Meses depois, ele já estava coordenando as obras do Hotel Toriba, aberto em 1943.

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O artista ítalo-brasileiro Fulvio Pennachi se encarregaria de fazer 60 metros de murais nos salões do Toriba, com motivos rurais brasileiros, de bandeirantes a gaúchos (à época, não era obrigatório remeter a Aspen ou à Suíça medieval na decoração). Dentro de um enorme parque povoado de araucárias e bromélias, o hotel cresceu (são 26 quartos no prédio principal e outros 26 distribuídos em chalés), com spa, fazendinha para crianças, restaurantes e até tours de trilhas, o “Aventoriba”. Há seis anos no comando do lugar, o empresário Aref Farkouh, formado em arquitetura pela FAU-USP, projetou um belo pavilhão de vidro que abriga a charutaria e adquiriu um vagão histórico para instalar uma lanchonete. Apresentações musicais foram mantidas, apesar da queda do movimento na quarentena. O hotel parece blindado contra a vulgaridade estética dominante na cidade — as 10.000 residências de temporada de paulistanos adotaram um pastiche arquitetônico da pior qualidade, replicado no comércio local. O charme, que perdeu espaço nas montanhas, tem no Toriba um reservatório — para quem sabe que arquitetura é um item nada supérfluo.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.  

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