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Sérgio Quintella é repórter de cidades e trabalha na Vejinha desde 2015
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“Vocês estão loucos?”, questionou Gegê do Mangue, antes de ser morto

Número dois do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi assassinado no ano passado, no Ceará

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 jul 2019, 15h39

Assassinado em fevereiro de 2018 por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa a qual pertencia e da qual era o número dois no critério de liderança, Rogerio Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, mostrou indignação ao ser abordado pouco antes de sua morte, ocorrida durante uma emboscada na reserva indígena de Aquiraz, a 30 quilômetros de Fortaleza, no Ceará.

“Vocês estão loucos?”, teria dito, segundo relato do piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais. Gegê foi morto com um único tiro na região do nariz. Além dele, foi encontrado sem vida Fabiano Alves de Souza, o Paca (atingido com quatro tiros: têmpora e maxilar direitos, cotovelo e barriga). O crime foi motivado por disputas internas do grupo criminoso e denúncias de desvios de dinheiro oriundo do tráfico. A ação culminou com outros assassinatos pelo país.

Na semana retrasada, o Ministério Público cearense ofereceu uma denúncia contra dez pessoas, incluindo o piloto Morais. Segundo relatos dos promotores, o especialista em aeronaves foi ao local do crime e sobrevoou-o pouco antes da ação, juntamente com dois homens, para uma espécie de verificação prévia do terreno. Ao voltar a um hangar na capital, a aeronave levantou voo novamente e pegou as duas vítimas em um heliponto abandonado na Praia do Futuro. Lá, embarcaram Gegê e Paca para uma suposta reunião com outros criminosos.

“Felipe afirmou que, do trajeto da Praia do Futuro ao local da suposta reunião, percebeu algo errado a partir do momento em que Wagner (um dos criminosos envolvidos na execução) informou às vítimas que pousariam em um sítio para pegar galões de gasolina, versão diferente da apresentada ao piloto, vez que a aeronave já possuía seus compartimentos de combustível”, escreveram os membros do MP do Ceará à Justiça. Ainda segundo o relato, “Felipe pousou a aeronave (…) e, desconfiados, Gegê e Paca passaram a indagar onde eles iam acomodar os galões, pois o helicóptero já estava cheio com malas.” Nesse momento, cinco homens saíram de um matagal e executaram Gegê e Paca. Felipe deixou bem claro que ambos estavam desarmados e que tudo aconteceu de forma rápida.”

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Depois dos tiros, houve uma discussão sobre se os corpos seriam queimados ou enterrados. Também falaram sobre o que fariam com os relógios e os cordões de ouro dos mortos. Após o crime, o piloto Felipe Morais disse que retornou, atordoado, a Fortaleza, e depois pegou um avião para São Paulo. A aeronave usada no crime foi levada por outra pessoa para uma fazenda em Goiás. Ele foi preso pouco tempo depois.

História

Segundo filho de uma família de quatro irmãos, Gegê do Mangue nasceu em 1977, na Rua Fidalga, 1010, no meio do Mangue, favela com cerca de trinta casas encravadas desde os anos 60 na Vila Madalena. Seus pais, Marlene Jeremias e Ítalo Alfredo de Simone (morto em 1982, ao cair do telhado de casa), ganhavam a vida como artesãos, tecendo almofadas e vendendo-as na rua. Nada na infância do pequeno Rogério parecia indicar seu destino. Tímido e obediente, ele ajudava na faxina da casa da família e foi coroinha na igreja da área. Na adolescência, no início dos anos 90, passou a frequentar bares da Rua Aspicuelta, o extinto Sujinho, na Mourato Coelho, a sede da escola de samba Pérola Negra, na Girassol, e festas de axé, seu ritmo preferido. Não usava drogas nem abusava do álcool. Aos 15, trabalhava como office-boy em empresas do centro, mas percebeu que ganharia mais dinheiro por meio do tráfico.

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Passou a distribuir maconha e cocaína a frequentadores de barzinhos da Vila. A primeira prisão ocorreu em 1995, quando foi pego em flagrante com drogas na Rua Fidalga. Como era réu primário, ficou menos de um ano preso. Depois, alternou idas e vindas da cadeia, até receber, em 2000, uma condenação: doze anos de reclusão por tráfico e assassinato. Sua trajetória confirma a máxima de que a cadeia no Brasil funciona como uma escola do crime.

Dentro das celas, aproximou-se das lideranças do PCC e aderiu à facção. Começou no posto de “sintonia”, espécie de gerente na estrutura do crime. Entre outras funções, recebia a visita de advogados da quadrilha e repassava aos comparsas as informações vindas de fora do presídio. Em 2003, subiu alguns degraus na hierarquia da bandidagem após tentar enviar para Marcola um bilhete falando da morte do juiz corregedor Antônio Machado Dias. Tido como um dos principais inimigos do PCC nos tribunais, o magistrado foi executado dentro do carro com três tiros, na saída do Fórum de Presidente Prudente.

Colocado na rua após um “deslize” da Justiça, em janeiro de 2017, Gegê fugiu para a Bolívia e passou a frequentar o Ceará, utilizando um avião particular da facção, onde gostava de passear de buggy e desfrutar de uma casa de luxo, localizada em um condomínio fechado. Antes de subir no helicóptero para aquele que seria seu último vôo, o traficante desembarcou de uma Land Rover preta.

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