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De volta ao campo autoral, Nando Reis fala sobre o CD “Sei”

Sempre que Nando Reis aparece com um novo trabalho, ouvir as suas canções torna-se um agradável passatempo. Não apenas pela beleza das letras (ora escancaradas, ora cifradas), mas também pelo tom confessional que elas carregam. O seu último disco, Bailão do Ruivão (2010), foi frustrante por trazer apenas releituras, enquanto todos esperavam por mais criações inspiradas do […]

Por Leonam Bernardo
Atualizado em 27 fev 2017, 11h48 - Publicado em 30 nov 2012, 08h00

O compositor: “O valor que o meu trabalho tem não pode ser medido por aquilo que ele rende” ( Foto: Ana Beatriz Elorza e Thiego Montiel)

Sempre que Nando Reis aparece com um novo trabalho, ouvir as suas canções torna-se um agradável passatempo. Não apenas pela beleza das letras (ora escancaradas, ora cifradas), mas também pelo tom confessional que elas carregam. O seu último disco, Bailão do Ruivão (2010), foi frustrante por trazer apenas releituras, enquanto todos esperavam por mais criações inspiradas do calibre de O Segundo Sol e Relicário. Lançado de forma independente em outubro, o álbum Sei marca o retorno do cantor e compositor (com êxito) ao campo autoral. No Credicard Hall, ao lado da banda Os Infernais, ele mostra o resultado do CD, que lista a balada Pra Quem Não Vem e o rock Back in Vânia. Confira um bate-papo com Nando Reis:

Como você se sentiu como intérprete ao longo da turnê do disco Bailão do Ruivão?

Foi um desafio curioso. Cantar uma música de outro autor, por mais que eu a tenha escolhido, exige uma certa obediência aquilo que a pessoa estabeleceu. É diferente do que eu posso fazer com as minhas músicas. Exige mais até da minha qualidade como cantor. Foi lindo, porque peguei músicas que eu gostava e me tornei porta-voz delas, mas acho que tenho melhor resultado quando canto as minhas próprias composições.

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Você teve um bloqueio criativo?

Em 2009, eu gravei o disco Drês que, de certa maneira, esgotou tudo o que eu tinha como compositor. O resultado foi até um pouco frustrante. Quando chegou a hora de fazer um novo CD, nada me parecia animador. Se eu tivesse vinte canções novas, como eu tinha no começo de 2012, talvez eu preferisse gravar um disco de inéditas, mas o Bailão não foi um tapa buraco. Sempre quis fazer um trabalho assim. Achei uma boa oportunidade para isso.

Quando a inspiração voltou?

Inspiração não é uma coisa que fica sob o nosso controle. Não é só apertar um botão que as coisas surgem. É uma combinação de elementos fortes que te dão o desejo de criar alguma coisa. Para uma pessoa que tem o meu trabalho, a inspiração é sempre bem-vinda. Às vezes, tenho uma relação desesperadora a ponto de achar que eu sou vítima dela. Quando eu olho para as músicas que julgo especiais e inspiradas não sei como elas aconteceram. Parece misterioso e assustador o fato de serem tão boas e ao mesmo tempo serem minhas. Quando a inspiração surge, é uma delícia. Quando não vem, tem que sentar, arregaçar a manga e trabalhar.

Nando Reis: “Eu nunca fui um best-seller” (Foto: Ana Beatriz Elorza e Thiego Montiel)

O que pesou mais para o disco Sei ter sido lançado de forma independente: a Universal não ter renovado o contrato ou um desejo de seguir por esse caminho?

Para ser bem honesto, eu nunca imaginei que eu estaria nessa situação. No momento em que a Universal não quis renovar, achei chocante, mas acabou sendo positivo. As outras gravadoras que quiseram me contratar não ofereceram aquilo que eu vejo como valor para o meu trabalho. O valor que o meu trabalho tem não pode ser medido por aquilo que ele rende, mas esse pensamento não tem sentido para uma empresa multinacional. Ainda mais em um momento de crise. Quando o presidente da minha ex-gravadora falou que os meus discos davam prejuízo, eu falei: ‘o problema é seu, bicho. Eu tenho que fazer o disco e você tem de vender’. Acabou sendo oportuno, porque comecei a cuidar da minha própria carreira. Eu nunca fui um best-seller. Agora, posso fazer de um jeito mais próximo ao do meu perfil, porque não existe mais esse mercado em que um disco pode ser vendido para um público que compra discos. Não, ele só vai ser comprado por quem gosta do seu trabalho.

Essa situação é reversível?

Irreversível. Durante trinta anos, eu trabalhei com gravadoras e nunca tive problemas. Simplesmente o modelo artista-gravadora não tem mais a importância de antes. Acho justo que nos mantenhamos afastados. A principal diferença é a maneira de vender o trabalho devido a ideia de que o disco como objeto ou produto de expressão ficou um pouco pulverizada pela música digital. Isso me incomoda. Eu componho, mas o que eu gosto é de fazer discos. A ordem das músicas tem uma importância, o som também. Atualmente, vender um disco parece coisa de marciano, como se mais ninguém comprasse e como se o produto não tivesse mais importância. Não é nada disso o que eu penso. O disco físico é relevante e não pode ser desprezado pela conveniência da forma como se baixa e se adquire. Existe a ideia de que a internet dá liberdade e é mais justa, mas não é bem assim. A liberdade da internet deve ser para as pessoas escolherem o que elas querem e não para meter a mão naquilo que é uma criação. Eu faço discos. Tem uma quantidade de músicas, uma ordem, uma capa e um som, que, geralmente, é muito mal reproduzido nessa bosta de mp3.

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A imprensa já se utilizou de algumas composições para explorar a sua vida pessoal. Hoje, você está mais cuidadoso com o que fala?

Putz, eu espero que sim. Tem uma maledicência que move alguns veículos, então tenho de ficar esperto. Eu tenho filhos, mulher e as pessoas já usaram isso de maneiras ardilosas, covardes e escrotas. Eu dei brecha. Às vezes, eu sou obrigado a ser artificial. As pessoas acham incrível falar sobre drogas e sexo, mas as minhas músicas são bem mais loucas. Quando eu escrevo de uma maneira mais exposta, não é porque eu acho que a minha vida tem um interesse para os outros. Em Back in Vânia, por exemplo, a minha intenção não é que as pessoas saibam que a minha mulher se chama Vânia. Falo sobre a força de uma mulher, então a Vânia passa a ser Sandra, Estela, Regina, a Vânia de quem quiser, porque as pessoas se identificam. O público não gosta da minha música por achar a minha vida interessante, mas pela maneira como eu falo dos sentimentos.

Nando Reis: “Sinto como se eu ainda tivesse 15 anos” (Foto: Ana Beatriz Elorza e Thiego Montiel)

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Em janeiro, você completa 50 anos…

Putz, já é jubileu? Não teve isso recentemente com a rainha?

Teve os 60 anos de reinado, mas ela é a rainha.

Mas eu sou o Reis, não se esqueça disso. (risos) Eu não tenho esse grilo com a idade. Já sou avô, que é igual a ser pai, tio e filho. Reparo que estou mais careca, a minha barba é branca e fico mais cansado. Mas eu gosto, porque eu adoro fazer festa. Não acho que a idade soe mal. Se falarmos profundamente, acho que a idade tem uma juventude que a própria juventude não tem. Como a gente é mortal e uma hora vai morrer, é óbvio que parece uma contagem regressiva. A verdade é que eu ainda me sinto como se ainda tivesse 15  anos e talvez esse seja esse o meu maior problema.

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