Antunes Filho, Lagarce e visões subjetivas de um mundo feminino
O grande diretor volta aos palcos com "Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse", texto do francês Jean-Luc Lagarce
Um dos maiores encenadores brasileiros, Antunes Filho ficou quietinho desde a montagem de Nossa Cidade, em 2013. Ao abraçar o universo do autor francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995) no drama Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse, o diretor retoma o tradicional diálogo entre a tragédia grega e conflitos contemporâneos em uma peça carregada de referências.
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Na trama, cinco mulheres aguardam ansiosamente o retorno do caçula da família, que deixou o lar há muitos anos depois de um desentendimento com o pai. Cada uma delas, à sua maneira, expõe visões pessoais, um tanto subjetivas, sobre o homem que o tal menino deve ter se tornado e se alimenta da espera. As narrativas não são lineares, tampouco de fácil compreensão.
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O texto conversa com Esperando Godot, de Samuel Beckett, e os poemas de Odisseia, de Homero, sutilezas que exigem atenção e, por vezes, tornam a peça pouco palatável. O principal trunfo de Antunes vem do afinado elenco, algo que faltava em seus espetáculos anteriores. Suzan Damasceno e Rafaela Cassol são presenças expressivas, assim como as revelações Daniela Fernandes e Viviane Monteiro.
O melhor trabalho, porém, é o de Fernanda Gonçalves, intérprete da filha mais velha, que alivia um pouco o excesso discursivo e demonstra maturidade em seus monólogos (70min). 14 anos. Estreou em 21/9/2018.
+ Teatro Anchieta — Sesc Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até 16 de dezembro.