“Eu me sinto o maior broto”, diz Louise Cardoso
A atriz carioca Louise Cardoso tem 58 anos, mas no palco do Teatro Folha vai interpretar uma personagem de 70 que jura mal ter completado 50. Com a comédia “Velha É a Mãe!”, texto de Fábio Porchat dirigido por João Fonseca, Louise leva à cena a obsessão em torno da eterna juventude e, sem nunca […]
A atriz carioca Louise Cardoso tem 58 anos, mas no palco do Teatro Folha vai interpretar uma personagem de 70 que jura mal ter completado 50. Com a comédia “Velha É a Mãe!”, texto de Fábio Porchat dirigido por João Fonseca, Louise leva à cena a obsessão em torno da eterna juventude e, sem nunca ter recorrido ao bisturi, jura que não entende tamanha preocupação. A estreia está prometida para a sexta (2).
Como vê a neurose da personagem – e das mulheres de hoje – em relação às cirurgias plásticas?
As pessoas estão muito loucas. Eu não tenho tempo para pensar nessas coisas. Minha vaidade é mais intelectual e espiritual. Faço minha ginástica, claro, mas nunca apelei para cirurgia alguma. Jamais tive vontade e morro de medo de entrar na faca. Uma vez, a Tônia Carrero, uma pessoa que adoro, me disse: “Louise, comece a fazer plástica aos 40 anos!”. Eu fiquei tão impressionada com aquilo. Como pode marcar uma data para começar a fazer plástica? Relaxo mais à medida que falo minha idade, e as pessoas ainda dizem que tenho poucas marcas. Eu me sinto o maior broto (risos).
Você tem um currículo bem variado, mas se tornou mais conhecida pelas comédias? Como vê isso?
É natural. A maioria das vezes que fiz sucesso foi com personagens cômicos, principalmente na TV. Participei de muitas novelas das sete. Depois de mais de duas décadas, o “TV Pirata” ainda é um estouro hoje no Canal Viva. Eu me orgulho de ser reconhecida por isso também no teatro. Talvez as minhas peças dramáticas não tenham tido tanta repercussão como as cômicas. Mas, confesso, por um lado ficar triste porque muitas vezes são trabalhos extremamente elaborados. E talvez o público não tenha a mesma disposição para sair de casa e ver um texto tão denso com aqueles escritos por Bertolt Brecht ou Tennessee Williams.
Você percebe isso porque é de uma geração que fez muito teatro antes de ir para a televisão, não?
Ah, sim. Por isso também ter um currículo variado é proposital. Sempre foi meu objetivo. Passei muitos anos no Tablado – escola de teatro do Rio –, ao lado da Maria Clara Machado, primeiro como aluna e depois como professora de lá. Fiz muito teatro antes de ir para a televisão. Eu estreei na Rede Globo em 1978 com a novela “Gina”. E, depois da terceira mocinha, essa repetição começou a me incomodar. Então fui fazer o “Viva o Gordo”, programa do Jô Soares. Nessa época, a Janete Clair me convidou para fazer a protagonista da novela “Coração Alado” (1980) e não aceitei. O papel ficou com a Vera Fischer. Fico triste porque ela ficou chateada comigo, não entendeu minha recusa. Talvez eu tenha errado mesmo. Mas a verdade é que não tinha estrutura para fazer aquela personagem. Não era meu momento.
Com a comédia, o retorno do público também é mais imediato e perceptível, não?
No caso de “Velha É a Mãe!”, todos conhecem uma pessoa como a minha personagem. Pose ser uma tia, a mãe, uma amiga. Tem muitos homens também nessa neurose. Mas já tive retornos emocionantes. Quando apresentei “Mãe Coragem e Seus Filhos” (2008) no Rio de Janeiros, os ingressos eram muito acessíveis e tivemos uma plateia realmente popular. Um dia, uma mulher levou um bebê. A peça tinha muitos tiros, muito barulho, e a criança desandou a chorar sem parar. Perturbou mesmo a apresentação. Na saída, essa espectadora veio falar comigo e perguntei por que ela tinha levado uma criança de colo ao teatro. A moça me disse não tinha com quem deixar o filho e preferiu levá-lo a perder o espetáculo. Fiquei tão comovida. Não temos noção de quantos obstáculos o público supera para nos ver.
Por que “Mãe Coragem e Seus Filhos” teve uma carreira tão curta?
Pois é… (silêncio). Eu fiquei devendo, inclusive, esse espetáculo para São Paulo. Foi um trabalho que me deu uma estafa tão grande, eu passei muito mal. Voltei para a análise. O cenário está guardado, qualquer hora eu posso retomá-lo, mas eu precisei parar. Talvez tenha faltado um pouco de humor no processo, no dia a dia. Era uma parceria com a Armazém Companhia de Teatro, tudo muito sério. Não sei muito bem explicar. Não misturo personagem com a minha vida pessoal, tanto que nunca nem namorei colega de trabalho. Quer dizer… Até namorei o Ney Sant’Anna enquanto a gente filmava “Gente Fina É Outra Coisa (1976)”, mas naquela época éramos tão jovens, faz tanto tempo.
E o próximo espetáculo será drama ou comédia?
Um drama (risos). No ano que vem, eu devo estar escalada para alguma novela, então pretendo estrear em janeiro de 2014 “O Doce Pássaro da Juventude”, mais um Tennessee Williams. A Tônia Carrero protagonizou no final dos anos 70. Chamei o Cauã Reymond para dividir o palco comigo, tomara que ele possa. Sei que o Cauã não tem experiência de teatro, mas acredito que se sairá muito bem. Gosto demais dele. Nos conhecemos quando ele interpretou meu filho na novela “Como Uma Onda” (2004/2005) e ficamos amigos. A gente batia o texto juntos lá em casa. Além de talentoso, é um querido.