O fenômeno da comédia teatral ‘Irma Vap’
Marco Nanini e Ney Latorraca protagonizaram por onze anos a peça que entrou para o 'Guinness Book'
Em meados da década de 80, o teatro brasileiro conheceu o auge de um gênero batizado de besteirol. O público, cansado das peças políticas ou experimentais, lotava as salas para rir de histórias absurdas que fizeram a fama de uma turma formada por Miguel Falabella, Guilherme Karam, Pedro Cardoso e Miguel Magno, entre outros. A comédia O Mistério de Irma Vap, escrita pelo americano Charles Ludlam, é um exemplar refinadíssimo da vertente, com referências a filmes de terror e suspense.
A atriz Marília Pêra, de passagem por Nova York em 1985, assistiu a uma das sessões da peça e voltou ao Brasil decidida a explorar por aqui o oportuno potencial do texto criado para dois atores. Marco Nanini e Ney Latorraca foram as apostas certeiras da diretora, e, em novembro de 1986, no Rio de Janeiro, teve início uma das mais bem-sucedidas parcerias dos tablados brasileiros. A dupla deixava a plateia de queixo caído ao se revezar em oito personagens e trocar de roupa 54 vezes em segundos. Na trama central, Lady Enid (vivida por Nanini) acaba de se casar com um lorde e vai morar em uma mansão que, dizem, é mal-assombrada. Sua maior inimiga, a governanta (interpretada por Latorraca), inferniza a moça.
O espetáculo chegou a São Paulo em abril de 1988, no Teatro Procópio Ferreira, e reuniu 105 000 pagantes até o fim daquele ano. O sucesso levou a montagem a mudar de endereço, dessa vez para o Teatro Cultura Artística, com o dobro de cadeiras, e o recorde de lotação foi batido. O fenômeno permaneceu em excursão pelo país até 1997 e, depois de onze anos, entrou para o Guinness World Book of Records como a peça que mais tempo ficou em cartaz com o mesmo elenco. Uma nova versão de O Mistério de Irma Vap, dirigida por Jorge Farjalla, ganha os palcos da cidade em 12 de abril. Mateus Solano e Luís Miranda protagonizam a gincana cênica, que vai ocupar o Teatro Porto Seguro e tem ingressos à venda entre 80 e 150 reais.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 27 de março de 2019, edição nº 2627.