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Ator e palhaço, Nando Bolognesi reflete sobre a comédia

A comédia e o riso são os pontos principais da vida do ator e palhaço

Por Nando Bolognesi
Atualizado em 21 dez 2018, 06h00 - Publicado em 21 dez 2018, 06h00

Sou ator e, sobretudo, palhaço. Ser palhaço transborda dos palcos para a vida. Somos palhaços 24 horas por dia. Para o bem e para o mal. Ser palhaço transborda da vida para os palcos. A comédia é minha matéria, e a partir daqui posso pensar a felicidade, e só a partir daqui. Desse prisma o bom humor emerge como uma espécie de prima-dona, uma diva, a estrela máxima da felicidade. Contudo, ele só não basta. Nada que seja só basta.

Outro aspecto da comédia interessa mais nesse momento. Também definidor e indispensável, fundador tanto quanto o bom humor, é seu aspecto coletivo. O riso é contagioso. Qualquer um que já tenha contado piada na vida sabe disso. Se alguém por perto começa a rir, a coisa se espalha incontrolável e contamina a todos, transformando o particular sorriso discreto em sonora gargalhada coletiva. A comédia é um acontecimento social também porque depende do contexto. Piadas funcionam dentro do grupo. É o contexto do acontecimento que pode lhe conferir graça. Fora dele a piada não funciona, o riso não vinga e a comédia vira um fiasco. Novamente, isso só não basta.

Ainda que bem-humorada e em grupo, a graça só emerge do compartilhamento das informações. Sem cumplicidade não existe riso possível. O riso pode ser a alegria que nasce exatamente do saber estar compartilhando informações, saberes, convenções, acontecimentos comuns. A pior coisa que existe é ter de explicar uma piada.

O riso pode ser sarcástico, demolidor. O escárnio denuncia ou aponta aquilo que está fora do padrão social, aquilo fora da norma estabelecida. Mais uma vez o aspecto coletivo está na raiz do riso. Não posso conceber a felicidade fora desse enquadramento, no qual a coletividade exerce papel determinante. Como na comédia, na vida não dá para ser feliz sozinho. Para eu gargalhar de alegria preciso dos outros. Quando ia assistir aos jogos do Corinthians na arquibancada do Morumbi — tenho 50 anos e meu time não tinha estádio quando eu ainda os frequentava —, a maior alegria era sempre vivenciada com o outro. Todos os domingos, abraçava o desconhecido a meu lado na hora do gol, e esse encontro era o ponto alto daquelas tardes.

Um palhaço sempre tem uma dupla, um parceiro, uma cara-metade, um irmão para abraçar ou dar um pé na bunda. Trabalhamos sempre em parceria. E, se estivermos sem ele ou ela, ainda temos a plateia, jogamos sempre com o outro, seja um palhaço, uma criança ou um velho. Só acredito no palhaço em relação. Só somos palhaços quando e porque estamos em relação.

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Seja a crítica, seja a graça, seja a comoção, tudo no palhaço e na comédia precisa do outro como a vida precisa da água. Para o contexto da graça, para o contágio do riso, para o jogo do comediante, para a transgressão do escárnio o aspecto coletivo é indispensável. Como nos esquetes dos palhaços, não posso ser feliz se meu irmão não o é. Não existe felicidade em meio à tristeza, assim como não existe bonança possível cercada pela miséria. Impossível saciar-se diante da fome escancarada nos faróis e nos jornais. Não é possível.

Como na comédia vivida pelos palhaços, a felicidade tem de ser um acontecimento social, se não for será tão falsa e constrangedora quanto o riso forçado de uma plateia condescendente com o fiasco de uma piada. A graça e a felicidade, que não sejam nem possam ser compartilhadas, é um flop. Só acredito em relação.

(Arquivo pessoal / reprodução/Veja SP)

Nando Bolognesi é ator e palhaço, autor do livro Um Palhaço na Boca do Vulcão e da peça Se Fosse Fácil, Não Teria Graça, na qual compartilha sua trajetória desde o diagnóstico de esclerose múltipla, no fim dos anos 80.

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