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Não basta querer

Michel Alcoforado, doutor em antropologia, faz uma reflexão a partir do rap do verso "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci"

Por Michel Alcoforado
Atualizado em 8 jan 2019, 17h57 - Publicado em 8 jan 2019, 17h54

Sorte a nossa que já havia gravadores de áudio quando Cidinho e Doca compuseram o Rap da Felicidade. Caso contrário, os funkeiros estariam roucos de tanto cantar: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar e ter a consciência que pobre tem seu lugar” como se fosse uma oração. Desde o lançamento, os deuses se fazem de surdos aos clamores da dupla. Para ser feliz é preciso mais do que querer.

O Relatório da Felicidade, criado pela ONU, em 2012, mede a felicidade interna de 158 nações. O objetivo do estudo é criar uma métrica alternativa de sucesso e auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas. No calculo, observa-se: o amparo aos mais necessitados, a liberdade de expressão, a generosidade do povo, os casos de corrupção, as desigualdades sociais, a expectativa de vida, os níveis escolaridade e renda. Nos últimos cinco anos, perdemos posições no ranking. Fomos ultrapassados por doze países, ocupamos o 28º lugar, atrás do México, Costa Rica e Panamá. No topo da lista, está a Finlândia. Não é para menos.

Há 100 anos, os finlandeses lutam por igualdade. Homens e mulheres ganham o mesmo salário quando desempenham funções semelhantes. Elas já se acostumaram aos pleitos eleitorais. Votam desde 1906 e são eleitas para cargos majoritários. Quando mães, contam com a ajuda financeira do governo, dividem as tarefas com os maridos e dormem tranquilas. Seus filhos estudarão em escolas de alta performance, não sofrerão com a violência urbana e morrerão no curso natural da vida, depois dos 82 anos. Por lá, felicidade não é privilégio.

No Brasil, os felizes vivem como ilhas isoladas a beira de um tsunami. Ora parecem alienados, distantes da realidade, ora temem uma iminente reviravolta. É duro ser feliz no país em que 1/3 das mães não sabem como farão para alimentar seus filhos durante o mês com o salário que ganham. Apesar da jornada dupla, ganham menos do que os homens e chefiam, sozinhas, lares pobres ou miseráveis. Seus filhos terão de lutar chegar ao Ensino Médio de escolas sucateadas. É mais provável que desistam antes. Ou por conta da desmotivação, ou porque morrerão. A cada 23 minutos, uma mãe chora a morte de um filho negro. A violência urbana matou 325 mil jovens nos últimos dez anos. Por aqui, dente na boca, sorriso branco, diploma na parede e alegria são símbolos de status. É coisa para compartilhar no Instagram.

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Concordam os gurus indianos, os livros de autoajuda e o Relatório da ONU que as portas para a felicidade aumentam de acordo as oportunidades criadas pela vida social. Os esforços individuais são inúteis se não houver contextos favoráveis. Temos mais chances de sermos felizes quando temos o básico garantido e sobra tempo para sonhar com o supérfluo, onde a vida é tão previsível que sorrimos diante do inesperado e tomamos decisões sem temer os riscos. A felicidade é o resultado de um jogo de forças no qual indivíduos, a sociedade e os governantes são protagonistas.

No último verso do Rap da Felicidade, Cidinho e Doca cobram, dos poderosos, a sua cota de responsabilidade no jogo. Já prevendo a costumeira incompetência, nos lembram que “o povo tem a força, só precisa descobrir. Se eles não fazem nada, fazemos tudo por aqui”. Façamos.

Michel Alcoforado, doutor em antropologia, é sócio-diretor da consultoria Consumoteca e acredita que, coletivamente, é possível transformar o caos do mundoAcredita que é possível transformar o jeito como as marcas lidam com as mudanças do mundo.Acredita que é possível transformar o jeito como as marcas lidam com as mudanças do mundo. (Divulgação/Veja SP)
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