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“Em situações de mudança, todos nós somos líderes”

Joana Mao fala de adaptações: "A gente supera tudo quando o relacionamento vem primeiro, porque essa é, de verdade, a direção de tudo o que existe"

Por Joana Mao
Atualizado em 3 abr 2020, 12h36 - Publicado em 3 abr 2020, 06h00

O guia desta leitura

1. Um relato da montanha-russa de mudança de planos por que passei, como tantos profissionais, desde o começo da pandemia.

2. Como podemos diminuir a tensão e agilizar uma adaptação.

3. Práticas para redesenhar o tempo e liderar a adaptação.

Um relato de muitas mudanças

Há um ano moro e estudo em Aarhus, na Dinamarca. Planejei vir a São Paulo para dar dois workshops, um de design e um de liderança, no dia 25 de março. Meu voo foi cancelado na quarta-feira 11. Na quinta 12 remarquei a viagem para a sexta 13. Minha conexão em Madri partiu pouco antes de o espaço aéreo espanhol fechar, no dia 14. Chegando aqui, os workshops foram adiados. Eu já vinha trabalhando, doze horas diariamente, na plataforma digital de acesso ao framework de Clareamento de Propósito — uma ferramenta estratégica que criei para ajudar lideranças a estruturar pensamentos com um propósito claro. A equipe de desenvolvimento foi afetada pela pandemia, e a data de lançamento do site também teve de ser alterada.

Observava a ascensão da curva de casos da covid-19, adaptava os planos e fazia minha parte: ficar em casa. No sábado 21, fui convidada para moderar uma reunião entre vinte lideranças da sociedade civil sobre como mitigar o surto de covid-19 na população em situação de vulnerabilidade — hoje aproximadamente 15 milhões de brasileiros. De prontidão, adaptei formatos de facilitação para o on-line. em menos de 24 horas a reunião aconteceu, levantou recursos e conectou pessoas para gerar soluções neste momento de calamidade.

Depois desse convite, eu me senti chamada a repensar prioridades nesta hora em que precisamos de clareza em meio a tantas incertezas. A pandemia mostrou que nenhum plano é tão prioritário, muito menos infalível. Mas também mostrou que, mesmo confinados, podemos assumir nossa função dentro da sociedade e ser úteis no que for prioritário.

Adaptar a própria rotina, enquanto tomamos decisões para não parar nossos projetos, e ainda ajudar no for possível é uma tarefa complexa, mas que pode ser feita gerando menos stress.

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Como podemos diminuir a tensão?

Começaria repensando nossa visão de liderança. Estamos acostumados a considerar a liderança como um cargo ou mérito que alguém consegue por conquistas do passado. Nesse caso, há os que lideram e os que não lideram. Isso nos restringe, e podemos nos sentir impotentes. Em situações de mudança, todos nós somos líderes.

Esqueça planejamentos rígidos. Quando as coisas mudam, e elas sempre mudam, isso abala a confiança, gera resistência e derruba a energia de qualquer projeto. Agora, essa é uma fórmula para ser jogada fora.

A liderança na adaptação começa sobre nós mesmos. É a atitude de usar a consciência para sentir como nos engajarmos e sermos úteis para o mundo. Essa liderança faz olhar para fora a fim de encontrar o que é prioritário e quem pode colaborar. É o relacionamento que vai nos ajudar a gerar confiança em uma nova situação. Desenvolver relacionamento está diretamente ligado a quanto conseguimos confiar para gerar um ambiente mais seguro, aprender um com o outro, procurar juntos uma solução e, assim, ganhar agilidade de adaptação. Não sabemos o que vem pela frente. Vamos ter de colaborar para encontrar soluções. Mas como fazer isso rapidamente, na prática?

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Práticas para redesenhar o tempo e liderar a adaptação

Quanto antes cada indivíduo abandonar a confiança nos planos e realocar a confiança nas pessoas, mais rápido vamos encontrar conforto no processo de mudança. Para isso, precisamos redesenhar o uso de nosso tempo. Aqui vai uma sequência de práticas que, levadas nesta ordem, estruturam essa transição. Se você estiver trabalhando sozinho, procure pessoas em sua rede que podem auxiliá-lo.

1. Motivação pelo relacionamento. Foque interações com atividades que trazem a mente para o presente, retiram a sensação de diferença e de medo. Gerando segurança para a comunicação, ficamos mais propensos a colaborar, mesmo que as coisas ainda não estejam claras. Em reuniões, por exemplo, vale pedir a cada integrante que traga, em um minuto, um momento na semana em que ele se sentiu grato por alguém que está presente ao encontro. São exemplos que elevam os ânimos e unem nosso foco em sentimentos que podem ser compartilhados entre nós. Volte sempre para o relacionamento se algo estiver se desalinhando.

2. Observação da situação. Conseguir observar claramente uma situação depende basicamente de separar os fatos do que se pensa sobre eles. Para gerar essa abertura, um recurso importante são as perguntas. Em que contexto a situação está inserida? Quais são os fatos desse contexto? Como esses fatos afetam a situação?

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3. Integração pelo aprendizado. Definir como integrar às possibilidades o que foi observado e decidir que direção tomar pode ser difícil. Há passos importantes para incorporar o aprendizado — e assim unificar o foco. Precisamos estabelecer o que queremos aprender. Transformar o foco de aprendizado em uma pergunta, para manter o estado de abertura e aumentar a receptividade. Ficar de olho nos potenciais de uma situação, como a tecnologia — eles podem ainda estar inativos, mas podemos aprender como usá-los. Isso faz toda a diferença.

4. Decisão pela experiência. Não existe entendimento sem prática. Na adaptação, é mais seguro tomar uma decisão com um pequeno teste na prática do que com uma grande ideia ou com uma teoria. Experimentar e testar é um meio objetivo de clarear o resultado e uma excelente forma de compartilhar a decisão para definir uma nova direção — deixa evidente se estamos mais perto ou longe da solução.

5. Foco em processos. É comum trabalhar em planos com foco no objetivo. Só que fechar a mente para resultados predefinidos é imaginar o alvo e, pior, desconhecer o percurso. Isso nos deixa cegos, principalmente para a potencialidade que as pessoas podem descobrir e desenvolver ao longo do caminho. Focar o processo para aprender com a situação até chegar à visão de uma solução torna o percurso mais consciente, inclusivo e aumenta nossa capacidade de dar novas ideias à medida que enxergamos objetivos mais realistas a cada momento.

6. Priorização da agilidade. Planejamentos longos e feitos muito antes de cada fase de uma nova situação tendem a provocar queda de produtividade. A falta de clareza gera atrito e falsas expectativas, e as decepções desgastam e desbalanceiam nossa energia. A agilidade ajuda a evitar a resistência e a frustração quando enfrentamos, e frequentemente enfrentamos, a necessidade de adaptação. A vantagem de focar a agilidade mais que a produtividade é ter flexibilidade para ajustar a energia e o tempo necessários para investimentos equilibrados. Nem mais nem menos.

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De volta à montanha-russa

Nos projetos que estou tocando, apoiei o processo no relacionamento desde o início. Decidimos dia a dia as prioridades, sempre com foco no que estamos vivendo juntos e observando o desenrolar da situação para tomar continuamente medidas de adaptação. Na Coexiste, escola existencial onde estou há nove anos, vi pela primeira vez, e em poucos dias, 100% das atividades migrar para o on-line. O maior objetivo da Coexiste é ensinar a desenvolver relacionamentos, e a rápida adaptação foi feita nesse aspecto.

Em relação à Dinamarca, as coisas ainda estão incertas. Em reunião com a escola, a Kaospilot, a direção que recebi foi: “Nós estamos aqui para você. Se quiser estar nesse curso, vamos fazer as adaptações necessárias para que isso aconteça”. A adaptação com a premissa de que estamos aqui uns pelos outros só gera mais disponibilidade. A gente supera tudo quando o relacionamento vem primeiro, porque essa é, de verdade, a direção de tudo o que existe.

(Cássio Crow/Divulgação)

Joana Mao está à frente da @clearpurpose.global. É designer estratégica, facilitadora criativa e autora do Clearing Purpose Framework, um processo que ajuda líderes e equipes a estruturar pensamentos com um propósito claro para desenvolver visão e atuar em contextos complexos e de mudanças. Conduz facilitações para profissionais e equipes que querem pensar como trazer impacto e transformações para o mundo.

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