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O homem, a besta e as virtudes de Débora Duboc

Como a hipocrisia e o falso moralismo não saem de moda, a comédia “O Homem, a Besta e a Virtude”, do italiano Luigi Pirandello (1867-1936), continua atualíssima. Montada no Brasil em 1962, a história só voltou aos palcos há cinco anos, trazendo a atriz Débora Duboc no papel consagrado por Fernanda Montenegro. Desde então, a […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h51 - Publicado em 18 nov 2012, 11h44

Gabriel Miziara e Débora Duboc na comédia que reestreia no Sesc Bom Retiro (Foto: Bruno Zanardo)

Como a hipocrisia e o falso moralismo não saem de moda, a comédia “O Homem, a Besta e a Virtude”, do italiano Luigi Pirandello (1867-1936), continua atualíssima. Montada no Brasil em 1962, a história só voltou aos palcos há cinco anos, trazendo a atriz Débora Duboc no papel consagrado por Fernanda Montenegro. Desde então, a peça correu 52 cidades e, agora, encerra a programação de 2012 do Teatro do Sesc Bom Retiro, com reestreia prometida para sábado (24). Também diretora ao lado de Marcelo Lazzaratto, Débora dá vida à dissimulada Senhora Perella. Ela engravida do amante (papel de Gabriel Miziara) e precisa esconder a verdade do marido (o ator Fernando Fecchio), um capitão que está sempre em alto-mar e não lhe dá atenção.  Os conceitos da commedia dell’arte são fundamentais para o espírito farsesco. Com o auxílio de máscaras, o elenco – completado por Thiago Adorno – divide-se em onze personagens e foge do naturalismo. Enquanto Senhora Perella disfarça a traição, o público rola de rir e percebe que, em qualquer época, o importante é manter as aparências.

Entrevista:

“Andava indignada com peças que ensaiavam três meses, cumpriam seis semanas de temporada e ponto final”, diz Débora Duboc

A atriz paulista de 47 anos comenta o sucesso de sua montagem para “O Homem, a Besta e a Virtude”, que estreou em novembro de 2007.

Cinco anos, entre idas e vindas. Qual é o segredo do sucesso dessa peça? Ela virou seu curinga, não?

Eu tive outros espetáculos que tiveram vida longa, mas “O Homem, a Besta e a Virtude” é incrível. Já tentei parar, pensei em me desfazer do cenário, mas sempre vem um convite e a gente põe a trupe na estrada de novo. Com mais prazer ainda. Essa montagem é fruto de um encontro de artistas excepcionais. É um luxo ter Marcos Caruso na tradução, Chico Spinosa na direção de arte, Gustavo Kurlat e Rubem Feffer compuseram a música. O encontro foi mágico ainda com um talentoso time de comediantes, Fernando Fecchio, Gabriel Miziara e o Thiago Adorno . Eu tenho o privilégio de trabalhar com três atores vocacionados. Tudo isso contamina o espetáculo até hoje.

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Essa longevidade também vem do próprio texto cada vez mais atual?

Acho que é isso sim… A genialidade do Pirandello traz temas muito caros a nós. É um autor que fala ao nosso tempo com este texto. Tudo que eu sonhei para este espetáculo aconteceu. Eu queria mergulhar no popular e já nos apresentamos em teatros com 1500 lugares que recebem a vovó, o adolescente, a mamãe e o papai. Fizemos São Paulo, Rio, Bahia, Rio Grande do Sul. Eu andava indignada com as peças que ensaiavam três meses, cumpriam seis semanas de temporada e ponto final. Estamos comemorando cinco anos de estrada e mais de 45 000 espectadores! A gente faz porque o publico gosta.

Fernanda Montenegro, que foi sua colega na novela “Passione”, soube que você fazia “O Homem, a Besta e a Virtude”? Vocês chegaram a trocar alguma figurinha sobre isso?

Fernanda sabia do meu Pirandello sim e me falou sobre seu tempo no Teatro dos Sete, grupo que ainda incluía o Fernando Torres, o Sérgio Britto, entre outros. Acho que tenho uma busca muito parecida com a deles naquele momento. Eles fizeram um festival de comédias, textos incríveis. Vejo nisso um desejo de falar com um publico maior e dialogar com o seu tempo. O diretor Gianni Ratto era um artista único, mas o grupo tinha uma característica forte à frente de uma companhia de atores. Hoje é o que tenho com o meu núcleo de  pesquisa e produção, a Olhar Imaginário.

Gabriel Miziara, Fernando Fecchio, Débora e Thiago Adorno: “tenho o privilégio de trabalhar com três atores vocacionados” (Foto: Claudio Lelles)

Uma coisa que acho estranha é a razão dessa peça ter sido tão pouco montada no Brasil. A que você credita isso?

Eu não consigo entender, juro. É um texto hilário! O Pirandello retoma o cômico de rua, a comedia dell’arte e é o que confere a ele uma grande tessitura. “O Homem, a Besta e a Virtude” celebra o popular e o erudito. Os temas que ele discute são contemporâneos. Ele traz à luz a educação, que é a grande questão do planeta. Aprendemos a ser honestos ou desonestos, violentos ou afetuosos. Pirandello fala de como podemos educar fascistas ou libertários, só que ao contrário de um belo filme que revi há pouco, “A Fita Branca”, ele faz com humor, rindo desta nossa sociedade, cilada que criamos para nós mesmos.

Quase um século depois, vemos muitas mulheres que ainda têm uma postura leviana, que lutam para manter as aparências a todo custo. O que mudou e o que continua igual, na sua opinião, em relação à postura feminina na sociedade?

O mundo mudou muito, principalmente para as mulheres. Hoje, a gente tem uma presidente, mas há uma “coisificação” da mulher que nunca foi tão forte. Neste sentindo, Pirandello revela esta violência. A mulher ainda é tratada como objeto. Qualquer coisa que a propaganda quer vender, coloca uma bunda e um peitão. A hipocrisia é a escravidão que impomos a nós mesmos. E vivemos em tempos hipócritas. É trágico, mas não podemos viver em estado de sinceridade. Pirandello já dizia que “ao fim e ao cabo, só os atores são honestos. Todos nós, por alguma razão, mentimos, não por dever ou por profissão, sobre um palco, mas na vida”.

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E até quando você pretende levar “O Homem, a Besta e Virtude”?

Quando eu estudava na Unicamp, a Fernanda Montenegro nos visitou a convite do Celso Nunes, que era então diretor. E Fernanda disse que quando a gente tem uma peça que se torna sucesso, não podemos esnobá-la e parar de apresentá-la. Caso a gente faça isso, os Deuses mandam sete anos de sofrimento. Quem sou eu para brigar com os Deuses (risos). Devemos, se tudo der certo, fazer ainda uma temporada pelas unidades dos CEUs (Centro Educacional Unificado), em São Paulo.  Mas eu tenho alguns outros trabalhos engatilhados para 2013, claro.

Quais são esses projetos?

Fui convidada pelo cineasta e diretor de teatro Mauro Baptista Vedia para fazer um texto muito bom, “O Jantar”, da inglesa Moira Buffini. O espetáculo “JT – Um Conto de Fadas Punk”, que fiz com a Natália Lage sob a direção do Paulo José, volta para nova temporada no Rio. Além disso, o Elias Andreato escreveu um texto lindo para mim. É um musical que terá Yaniel Matos, músico cubano incrível, dividindo o palco comigo e o nome diz tudo, “Coração de Gueixa”.

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