“Loloucas”: comédia de Heloísa Périssé tropeça no óbvio
A montagem, em cartaz no Teatro Raul Cortez, ganha algum interesse pela contracena afinada entre a autora e Maria Clara Gueiros
Em suas investidas como autora, a atriz Heloísa Périssé costuma escapar da cilada do lugar-comum. O solo E Foram Quase Felizes para Sempre (2015) é uma prova de sua habilidade para fugir dos estereótipos. Loloucas, sua nova comédia, dirigida por Otávio Muller, surge como uma amostra menos feliz de sua dramaturgia, justamente pelo tropeço no óbvio, e ganha o interesse, lógico, pela contracena afinada entre Heloísa e Maria Clara Gueiros.
Duas senhoras chegam atrasadas a uma sessão de teatro. A peça escolhida por elas começou faz pouco e, sem que percebam, ambas invadem o palco, aproveitando-se de um problema técnico. Iolanda (papel de Heloísa) e Ieda (representada por Maria Clara) são amigas desde os tempos de escola, enfrentaram a adolescência como dois patinhos feios, riram e choraram juntas nas décadas seguintes. Nunca se casaram, passam o tempo inteiro implicando uma com a outra e, hoje, bebem e jogam cartas, além de, lógico, ir ao teatro.
O espetáculo se torna a narrativa dessa relação, cheia de passagens divertidas para o grande público, mas repletas de situações comuns para a maioria dos mortais às quais só o carisma da dupla é capaz de dar alguma credibilidade.
O bonito desfecho, que remete ao companheirismo de Heloísa e Maria Clara nos últimos trinta anos, é a parte mais tocante da montagem. Nessa cena final, aparece uma delicadeza que faz falta no restante, e talvez o diretor Otávio Muller não tenha percebido que naquele diálogo poderia estar o começo de tudo (75min). 12 anos. Estreou em 5/4/2019.
+ Teatro Raul Cortez. Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista. Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 90,00. Até 26 de maio.