Maria Maya dirige Nathalia Timberg: “Ela e Iris Apfel têm muito em comum”
A peça "Através da Iris", estreia do Teatro Faap, enfoca a empresária, designer e referência fashion americana e celebra os 90 anos da atriz brasileira
Nathalia Timberg volta aos palcos paulistanos na pele de Iris Apfel, de 97 anos, empresária e designer que se tornou referência no mundo fashion. A peça Através da Iris, escrita por Cacau Hygino, estreia na sexta (18) no Teatro Faap e tem a direção da atriz Maria Maya, de 37 anos, que assina sua quinta experiência como encenadora. O espetáculo também antecipa as comemorações em torno dos 90 anos de Nathalia, em agosto. Maria conta um pouco sobre Através da Iris e da relação com Nathalia, que é sua madrinha de batismo.
Quais eram suas referências sobre Iris Apfel?
Eu acompanhava Iris pelas redes sociais, por reportagens, tinha assistido ao documentário sobre ela. Sua persona me fascinou de cara. Brinco que Iris é uma grande acumuladora com senso estético. Queria descobrir quem era a mulher que vive atrás daqueles óculos enormes.
Foi difícil deixar de enxergar Nathalia como madrinha para encará-la como a atriz que você precisa dirigir?
Apesar de ser minha madrinha de batismo, ao lado do Chico Anysio, Nathalia e eu tivemos uma convivência pequena no decorrer da vida. Ela sempre trabalhou muito e essa correria não permitiu que fossemos mais presentes uma na vida da outra. Então, o trabalho veio como a possibilidade de curtir pela primeira vez essa relação. Fui me surpreendendo aos poucos com o resultado, não só do espetáculo, mas da nossa troca pessoal.
Como o trabalho consolidou essa relação?
Nathalia nem gosta de falar que é minha madrinha (risos). O que me comove é a nossa troca intelectual. Descobrimos juntas o lado humano da Iris. As pessoas se surpreendem porque colocamos em cena uma Nathalia mais irônica, mais solar, bem próxima do que ela é na vida. Todo mundo está acostumado a vê-la em personagens mais densas, pesadas. Ela e Iris têm muito em comum.
O que as duas têm em comum?
A Iris não tem um grande conflito, um acidente trágico que tenha mudado sua vida, uma questão avassaladora. Ela e Nathalia são mulheres de uma mesma geração que enfrentam a velhice, não tiveram filhos e administram a solidão. As duas também perderam um parceiro depois de uma longa convivência e, por isso, se tornaram mais fortes. A Nathalia não é só a intérprete da Iris, ela faz uma apropriação. Trabalhamos uma metalinguagem em que o espectador se pergunta em certos momentos quem é que está no palco. Contamos um pouco dessas mulheres que chegam aos 90, mudando muito mais coisas do que era esperado delas.
A metalinguagem é sempre delicada, não? Como não confundir o público?
Eu não gosto de espectador passivo. O público precisa caminhar junto com o espetáculo, imaginar na sua cabeça como vai ser a continuação da história. O que podemos trazer para a plateia em um momento tão pesado é otimismo, e tanto Iris quanto Nathalia transmitem isso. Via no Rio de Janeiro uma plateia cheia de senhoras e senhores que comentavam o quanto se sentiam motivados diante da história. A Nathalia é assim, não fica quieta. Viaja, trabalha o tempo inteiro, está com esse espetáculo e fala novos projetos, sobre o que pretende fazer daqui para frente.
E como está o seu lado de atriz?
Eu estou onde o trabalho está. Minha primeira direção, Adorável Garoto, teve uma repercussão surpreendente e, desde lá, emendei mais três espetáculos. Talk Radio, Não Somos Amigos e Lady Christiny, com o ator Alexandre Lino, quando experimentei pela primeira vez a linguagem do documentário cênico que aplico agora em Através da Iris. Eu trabalho ainda com publicidade, estou dando os primeiros passos como assistente de direção de audiovisual. Precisamos pluralizar. A atriz continua aberta aos convites. Tanto que precisei recusar a participação em um seriado porque estava muito envolvida com o processo de Através da Iris. Venho de uma família (seus pais são os atores e diretores Wolf Maya e Cininha de Paula) que não procura o glamour e sim a realização do trabalho.