“Erêndira” ganha o palco como metáfora da exploração brasileira
Marco Antonio Rodrigues dirige no Teatro do Sesi a versão musical da novela de Gabriel García Márquez com canções de Chico César
Um tom de revolta sufocada permeia a encenação de Erêndira — A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada criada pelo diretor Marco Antonio Rodrigues. A novela de Gabriel García Márquez ganhou versão teatral de Augusto Boal adaptada por Claudia Barral e se encaixa no mundo dos musicais através das canções compostas por Chico César.
Uma adolescente (papel de Giovana Cordeiro) é prostituída pela avó (representada por Celso Frateschi), que a acusa de ser a responsável por sua miséria. Erêndira passa a vida de mão em mão até o momento em que descobre o amor de Ulisses (o ator Mauricio Destri) e ganha a chance de fugir dos maustratos. Acostumada à exploração, no entanto, a personagem-título, apresentada como uma metáfora da submissão brasileira, encontra dificuldades de virar a mesa e se livrar da avó.
O diretor explora a estética circense e, claro, foge do realismo, opção reforçada pela participação de Frateschi, que, pouco à vontade, ainda segura o freio em excesso na sua composição. Na figura do narrador, o ator Dagoberto Feliz trava diálogo constante com a plateia e, graças ao carisma, torna a trama mais palatável sem desmerecer o espectador.
Estreante no palco, Giovana Cordeiro tem o perfil esperado para a personagem e deve fortalecer sua entrega durante a temporada. O mesmo se espera de Destri, bastante inseguro na pele do mocinho. São ajustes esperados para uma montagem ambiciosa e promissora. No elenco aparecem ainda, entre outros, Gustavo Haddad, Demian Pinto, Eric Nowinski e Marco França, também diretor musical (130min). 14 anos. Estreou em 5/9/2019.
+ Teatro do Sesi. Avenida Paulista, 1313. Quinta a sábado, 20h; domingo, 19h. Grátis. Ingressos pelo site https://www.centroculturalfiesp.com.br. Até 8 de dezembro.