“Elizabeth Costello”: Lavínia Pannunzio e a senhora de múltiplas leituras
A atriz protagoniza monólogo, adaptado e dirigido por Leonardo Ventura, com base no romance do escritor sul-africano J.M. Coetzee
Alguns espetáculos conquistam a atenção do espectador na marra, principalmente por causa de suas estranhezas. O monólogo Elizabeth Costello, adaptado e dirigido por Leonardo Ventura, com base no romance do escritor sul-africano J.M. Coetzee, é um deles.
Esse pacto começa a ser firmado pela presença da atriz Lavínia Pannunzio desde o momento em que recebe os espectadores na entrada da sala. Se não fosse ela, aquela imensa quantidade de texto, por mais pungente que seja em vários trechos, e a encenação minimalista não sustentariam o interesse da plateia.
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Lavínia tem 53 anos e garante credibilidade impressionante ao dar corpo e voz a uma mulher de 80. Trata-se de uma velha que mora rodeada por gatos em um sítio afastado do que seria chamado de civilização. Diante de um gravador, ela começa a destilar suas memórias e solta a imaginação.
Aos poucos, a narrativa pessoal é fundida na de uma personagem fictícia, Elizabeth Costello, que precisa convencer um suposto tribunal sobre crenças e valores para, enfim, cruzar um portão que simboliza a transição para a morte.
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A encenação concebida por Ventura explora o mesmo caminho literário imaginado por Coetzee. A identidade das personagens e de Lavínia é borrada o tempo inteiro, a ponto de a intérprete, sem interromper o diálogo com a plateia, abandonar o palco mais de uma vez para tomar água ou recompor o figurino, algo inusitado em um solo.
Desafios como esses são propostos e tornam o espetáculo menos palatável. Fica, no entanto, a impressão de que o diretor e a atriz fizeram tudo do jeito que desejavam, respeitando a força das palavras de Coetzee e impondo suas aspirações artísticas. E isso é louvável (70min). 16 anos. Estreou em 22/1/2020.
+ Tusp. Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque. Quarta a sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 30,00. Até 16 de fevereiro.