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Diretor de “Jantar”, o uruguaio Mauro Baptista Vedia fala sobre teatro e cinema no Brasil: “eu detesto a separação entre entretenimento e inteligência”

O diretor uruguaio Mauro Baptista Vedia, de 50 anos, despontou como promissora revelação no espetáculo “A Festa de Abigaiu”, em 2007. Na sequência, ele apresentou os irregulares “Êxtase” e “Ligações Perigosas”, ambos de 2010, e alcançou um resultado melhor na proposta alternativa de “Gangue” (2012). Com a comédia “Jantar”, da inglesa Moira Buffini, em cartaz […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 21h49 - Publicado em 5 jun 2014, 18h24
Mauro Baptista Vedia: diretor uruguaio naturalizado no Brasil (Fotos: Heloísa Bortz)

Mauro Baptista Vedia: “meu repertório é muito mais cinematográfico que teatral” (Fotos: Heloísa Bortz)

O diretor uruguaio Mauro Baptista Vedia, de 50 anos, despontou como promissora revelação no espetáculo “A Festa de Abigaiu”, em 2007. Na sequência, ele apresentou os irregulares “Êxtase” e “Ligações Perigosas”, ambos de 2010, e alcançou um resultado melhor na proposta alternativa de “Gangue” (2012). Com a comédia “Jantar”, da inglesa Moira Buffini, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, o encenador reencontra o equilíbrio entre a condução firme dos intérpretes e uma refinada proposta estética. Além disso, o texto traz um pertinente debate sobre a luta de classes e o consumismo. Paige e Lars (representados por Michelle Boesche e Helio Cicero) recebem um grupo de amigos. Wynne (papel de Erika Puga) e o casal Hal e Siân (os atores Mauro Schames e Juliana Vedovato) se instalam ao redor da mesa servida por um discreto garçom (Victor de Seixas). Durante a refeição, a inesperada visita de um estranho (Marco Barretho) traz à tona uma tensa e hilária discussão de valores, evidenciando a intolerância em relação às diferenças sociais e comportamentais. Mauro Baptista Vedia não é menos surpreendente. Com muito sinceridade, ele bateu esse longo papo comigo e, assim, deu para entender um pouco qual é a sua.

Uma pergunta boba para começar, mas como o uruguaio veio parar no Brasil?

Quando tinha 9 anos, fomos morar na Espanha, perto de Barcelona, por causa da ditadura militar, pela crise econômica e o clima horrível que havia no Uruguai. Voltamos para Montevidéu cinco anos depois, por razões familiares, e meu pai ficou em Barcelona, depois de infindáveis idas e voltas, algo que foi traumático para mim. Então, essa experiência na Espanha me marcou, fez a identidade de imigrante, de estrangeiro. Não me adaptei na volta ao Uruguai. Era muito opressivo, o país era triste e pequeno. Nos anos 80, o Brasil era um lugar incrível a explorar, uma diversidade cultural. Um dos problemas e virtudes do Uruguai é um excesso de homogeneidade. Eu não gostava de ter tanta gente parecida comigo (risos). Então, na segunda metade dos anos 80, depois de me formar em comunicação, comecei a viajar pelo Brasil e me apaixonei pela Bahia, por Salvador mais precisamente. Aquela cultura me salvou, me libertou de toda aquela repressão e do clima opressivo que pairava no Uruguai. Tempo depois, fiquei mais de um ano no Uruguai juntando dinheiro e me mandei rumo ao Rio de Janeiro. Passei no mestrado na Escola de Comunicação da UFRJ. A minha dissertação foi sobre semiótica francesa, mais precisamente sobre a narratologia no cinema. Até que vim fazer doutorado na USP. São Paulo, tão criticada, é o lugar mais aberto às pessoas de todo Brasil e de fora do Brasil. É o mais próximo a uma meritocracia que temos. E me naturalizei aos 39 anos, numa cerimônia com uns cinquenta asiáticos, duas portuguesas de 80 anos e eu, que chorava copiosamente, algo bem piegas (risos).

A mesma pergunta vale para o diretor… Como do cinema você foi para o teatro? 

Olha, nos anos 2000, participei ativamente de uma revista de cinema chamada Sinopse, na USP, e eu já insistia com meus colegas que a gente tinha que se espelhar no exemplo dos anos 60 e em diretores, como os britânicos daquela época, que foram fazer teatro porque cinema era muito difícil, caro e burocrático. O cinema tinha perdido o frescor e o debate intelectual dos anos 60 e 70. O teatro ainda tinha isso, frescor, pesquisa, debate. Também sempre fui muito apaixonado e interessado pela escalação de elenco, pela direção de atores. Para mim, no cinema, o ator é essencial, central, e, na época, achava que era algo esquecido nos filmes contemporâneos, por influência da publicidade. Pesquisei muito vários cineastas, John Cassavettes, Domingos Oliveira, até ver umas sessenta vezes o filme “Nu”, de Mike Leigh. E fiz uma retrospectiva completa de sua obra no CCBB em 2002. Lá, eu descobri “A Festa de Abigaiu” como peça e telefilme.

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Mas a peça foi lançada em 2007. Antes veio o filme “Jardim Europa” então?

Então, inspirado no exemplo de Leigh, fiz, durante todo 2003, um processo de criação de universo e de personagens com vários atores, entre eles Ester Laccava, Marcos Cesana, Silvio Restiffe e Laerte Mello, sem um tostão. Enquanto criávamos os personagens e as cenas, íamos criando a interpretação. Eu tinha três empregos. Entre uma aula e outra como professor universitário, uma produção de uma mostra e outra, dormia uma breve soneca e ensaiava. Foi muito bom. Filmamos em 2004, demorei um tempão para editar e conseguir o dinheiro para finalizar. Perdi vários editais públicos, até que ganhei um prêmio da prefeitura. Hoje, dez anos depois, o filme vai ser lançado no circuito comercial no segundo semestre. Desse processo do Jardim Europa, surgiu a parceria com a Ester Laccava, que é um monstro da interpretação. Apresentei “A Festa de Abigaiu” para ela, ganhamos o edital da Cultura Inglesa e tivemos ótimas críticas. Veio um inesperado sucesso de público e ficamos em cartaz um tempão apenas com a bilheteria.

"Jantar": comédia de Moira Buffini em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil

“Jantar”: comédia de Moira Buffini em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil

Enfrentou preconceito da classe por ser um cara de cinema fazendo sucesso com “A Festa de Abigaiu”?

Não, a peça foi muito bem recebida, teve um contato fantástico com o público e isso é fundamental para eliminar preconceito. A classe me recebeu muito bem. No processo da minha primeira peça, eu tive alguma dificuldade em me fazer entender, já que sou muito intuitivo, não conhecia os termos técnicos e eu não tinha tido nenhuma experiência anterior no teatro. Nem como ator ou assistente de direção, nem na produção ou na luz. Minha única experiência era como espectador.

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E como foi começar sem qualquer experiência?

O interessante de ter vindo da experiência radical de fazer “Jardim Europa” é que apliquei várias coisas do cinema moderno e pós-moderno que admirava na hora de dirigir teatro. Coloquei personagens de costas, não me importei com o volume de voz, trabalhei muito as pausas, misturei gêneros, tive atores com interpretações que aparentemente colidem entre si. Por exemplo, em “Jantar”, a personagem Paige é paródica, enquanto o Mike, realista. De certa forma, essa formação cinematográfica e minha inexperiência teatral me deu bastante liberdade.

Qual é a diferença principal entre dirigir atores para o teatro e para o cinema?

No teatro, o ator é tudo. É intérprete, mas também é montador e editor de som. Você tem que criar uma sintonia fina com cada um deles. Mas tanto no cinema quanto no teatro, eu abordo cada ator de forma diferente. Não acredito em uma forma geral de interpretação, faço uma polifonia. A performance do ator tem que ter uma certa independência de uma análise formal do texto, fugir dos psicologismos, sair do previsível. Temos que sair dos moldes clássicos dos anos 50, mas entendendo o texto na essência. No teatro, eu crio a encenação, em todos os sentidos, dependendo dos atores que tenho. Até posso considerar o teatro que faço pós-dramático e pós-moderno, mas sempre com uma forte base no texto. Sem um bom texto, não tem jeito. Por isso, exijo um comprometimento total do ator, um envolvimento profundo e uma confiança absoluta em mim. Não tem como ser diferente. Eu exijo muito, mas jogo limpo, firme, como o Lugano (risos), capitão da seleção uruguaia. No cinema, num processo tradicional, a criação já é muito anterior à chegada do ator, com as equipes de arte, figurino, a fotografia, a produção de locações, o som. Então, o ator é realmente o último a chegar naquela “festa”. O teatro e o cinema como artes são sagrados. Quem não acredita nisso e vê o teatro e o cinema como degraus de uma carreira, não me interessa. “A Festa de Abigaiu”, por exemplo, nunca foi um projeto “comercial”, e deu um bom dinheiro para todos os envolvidos.

"A Festa de Abigaiu": os atores Ester Laccava, Ana Andreatta, Eduardo Estrela, Fernanda Couto e Marcos Cesana (Foto: João Caldas)

“A Festa de Abigaiu” (2007): os atores Ester Laccava, Ana Andreatta, Eduardo Estrela, Fernanda Couto e Marcos Cesana (Foto: João Caldas)

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É um processo muito diferente realmente…

Em 2012, escrevi e dirigi o telefilme “A Performance”, com Luis Dantas, num esquema bem industrial, e senti isso na pele. Gostei muito do filme e da experiência, fomos selecionados entre os dez melhores telefilmes do ano no FIPA da França, mas sendo sincero, acho um processo previsível. Foi uma experiência boa para aprender certas coisas, sobretudo na pós-produção. No meu segundo longa, quero de novo inovar nos procedimentos, em particular no momento de filmagem. Se a gente não inova nos procedimentos, não temos como fazer filmes ou peça diferentes. Não dá para você querer fazer filmes inspirados, sutis, filmando seis dias por semana, doze horas por dia. Na segunda semana, você já não raciocina mais e está todo mundo querendo matar o outro. No meu longa “Jardim Europa”, filmamos durante quatro semanas em duas locações, sem um roteiro escrito, apenas um argumento, com oito personagens, e sem deixar informar aos atores o que eles iam fazer no minuto seguinte. Eles iam vivendo a experiência do filme ao mesmo tempo do que os personagens. Acho necessário incorporar essas formas de criação de pesquisa e processo no cinema brasileiro, sair da ditadura do roteiro, dos megaorçamentos e das diárias de trabalho yuppies e publicitárias.

Como funciona o seu processo de ensaios no teatro?

Eu não acredito muito em trabalho de mesa e em racionalizar demais as coisas para o ator. O ator tem que entender, sobretudo, seu personagem, mas não de maneira psicológica e nem acreditando em alguns dogmas do método. De certa forma, lembrando o dramaturgo e diretor David Mamet, o ator tem que dizer o texto da forma mais precisa possível, no tempo certo e deixar a criação do personagem para a mente do espectador. Faço primeiro algumas leituras para perceber os atores e falo do contexto cultural da peça. Então, começo a ensaiar cena por cena, já em pé, pensando texto, interpretação, figurino e concepção visual, tudo ao mesmo tempo. Ensaio cada cena exaustivamente, parágrafo por parágrafo, frase por frase, até ela ficar o melhor possível, mesmo que demore uma semana com a primeira cena. Tento sempre ter uma alquimia diferente para cada ator. Não tento encaixar um mesmo tipo de interpretação para todos os atores. Depois de um certo início lento, árduo, começam a acontecer as coisas, de maneira mágica até, e as ideias vem em torrentes, fragmentadas, em sonhos, em sonhos acordados, e as levo para a cena. Sempre levando em conta que o espectador carrega uma enorme bagagem de referências conscientes e inconscientes, filmes, peças, minisséries, músicas.

É mais ou menos como você imaginaria um filme?

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É bastante similar no sentido de que eu sou muito imagético, reúno ator, texto, corpo e encenação visual ao mesmo tempo. Não gosto de explicações falsamente racionais, no sentido de que o ser humano é um bicho muito mais emocional do que gosta de admitir. Eu tenho que sentir a cena, no estômago, na pele, no coração. Se começa a me aborrecer, mudo. Mas os processos em cinema e teatro são muito diferentes, mesmo num esquema muito alternativo e diferente como o que utilizei no “Jardim Europa”. No cinema, no momento da encenação, tem um diálogo com a locação, com a fotografia e com som que é essencial e prévio ao ator. “Jardim Europa”, por exemplo, tem pontos em comum com algumas das peças que fiz, como “A Festa de Abigaiu”, “Êxtase” e “Jantar”, densidade dramática e um peculiar senso de humor, acredito.

"Jardim Europa": rodado em 2004, o primeiro longa deve ser lançado no segundo semestre (Foto: Divulgação)

“Jardim Europa”: rodado em 2004, o primeiro longa deve ser lançado no segundo semestre (Foto: Divulgação)

Existem outros projetos para cinema? 

No momento, estou escrevendo o roteiro de meu segundo longa, que se chama “Barra Funda”, em que parto do realismo para ir ao fantástico e surreal numa longa noite de loucuras. É um filme onde quero reunir Tarantino, Glauber Rocha, Mike Leigh, Buñuel e o Luis Sergio Person de “São Paulo S.A”. De novo, vou tentar reunir uma obra inteligente com vários níveis de profundidade, densidade dramática e senso de humor, crítica social e loucura.

De onde vem essa finalidade com a dramaturgia inglesa? São três peças marcantes de Mike Leigh e agora “Jantar”, de Moira Buffini. 

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Eu tenho uma afinidade muito grande com a dramaturgia inglesa e com a cultura inglesa em geral há muitos anos. Algumas referências fundamentais para mim são os Beatles, Led Zeppelin, Robert Plant, a literatura britânica dos anos 80, Julian Barnes, Hanish Kureishi, entre outros, os filmes da new wave, com Lindsay Anderson, em particular, e Ken Loach. Mike Leigh é uma referência. Leio muitos textos, numa proporção de cinquenta, para cada um que escolho dirigir. “Jantar” foi paixão à primeira vista. Moira Buffini é uma grande dramaturga e também, outra coincidência, ótima roteirista. Em geral, eu escolho os textos, sou interessado em dramaturgia contemporânea pela minha necessidade de entender e pensar o mundo em que vivemos. Alguns atores chegam até mim e querem fazer parcerias a partir de algum texto que eu particularmente gosto. Também me enviam um texto e topo fazer. Isso é bem legal. Agora quero montar um texto italiano, de um autor inédito no Brasil, Ennio Speranza, e um musical em tom paródia que eu escrevi há uns três anos, chamado “Ela não me esqueceu”. Também tenho outro projeto britânico, uma comédia com dez atores.

Você é um diretor de comédias refinadas. Essa característica vem das suas referências pessoais e da sua bagagem cultural ou já é mais fácil dirigir uma comédia sofisticada em se tratando de textos ingleses?

Os ingleses tem uma tradição de comédias sofisticadas. Para eles, é um gênero que ajuda a pensar, mas eu também opto por fazer escolhas de forma a fazer da comédia a melhor arte possível. Acho que essa característica vem das minhas referências pessoais e culturais, de uma cinefilia que devo muito ao meu pai, que me levava ver westerns, Orson Welles e Bergman, tudo junto. Foi lá em Montevidéu que começou tudo. Meu pai era ex-jogador de basquete, dono de uma livraria, que, além de livros, vendia discos e cigarros de contrabando. Ainda era grande leitor, excelente jogador de pôquer, apostador de cavalos e compulsivo no cassino. E eu, criança, seu maior companheiro. Lembro que, desde os 4 anos, ele me levava em três lugares: ao cinema, várias vezes por semana, ao estádio para ver o Peñarol e ao hipódromo. A gente assistia a filmes adultos, em cinemas de bairro, onde os porteiros me deixavam entrar com 5 ou 6 anos, para ver, por exemplo, filmes pesadíssimos de western, policiais, filmes políticos, de conspiração. Os porteiros perguntavam: “mas ele não vai dormir?”. “Vai sim, vai sim”, respondia meu pai. E eu adorava ver aqueles filmes. Até hoje não me recuperei (risos).

E quais são as suas principais referências?

O cinema clássico americano produzido entre os 40 e 70 e também os filmes italianos dessa época, sempre a partir do ponto de vista dos diretores e dos atores. Robert Mitchum, Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Alberto Sordi, Mario Monicelli, John Wayne, Fellini, Toto, Bob Fosse, todos esses. Temos ainda os filmes B, o cinema americano contemporâneo, com Clint Eastwood e Michael Mann.  Enfim, a lista é interminável. Nesse sentido, meu repertório é muito mais cinematográfico que teatral, sempre assisti a teatro, mas nunca tive uma formação nem uma cultura teatral. Isso me dá uma certa ingenuidade, mas também muita ousadia.

Paula Arruda, Pedro Guilherme, Carlos Baldim e Thaís Medeiros na comédia dramática "Gangue" (foto Maurício Pisani)

Paula Arruda, Pedro Guilherme, Carlos Baldim e Thaís Medeiros na comédia dramática “Gangue”: experiência bem-sucedida em 2012 (foto Maurício Pisani)

Bagagem cultural precisa ser formada pelo prazer do espectador, não? Não pode ser uma obrigação ver filmes, ir ao teatro, ler livros…

Eu detesto a separação entre entretenimento e inteligência, entre alta e baixa cultura. Não tolero como se subestima o público brasileiro. Sempre que se fala que o brasileiro não tem cultura ou informação, eu acho falso, um preconceito e talvez uma desculpa de alguns para produzir porcarias e ganhar dinheiro fácil com dinheiro público, seja no cinema ou no teatro. O brasileiro é muito inteligente e sensível. Em todas as minhas peças, eu observo o público e percebo que aqueles que chegam dos extratos mais humildes da população entendem tudo e morrem de rir. Assim acontece com “Jantar”. Também acontecia com “Êxtase” e “A Festa de Abigaiu”, por exemplo.

Pela sua experiência, é mais difícil no Brasil produzir cinema ou teatro? 

Acho que a dificuldade no cinema é maior. O teatro ainda é um lugar democrático e livre por excelência, uma arte aberta para todas as classes sociais, todas as pessoas, todas as loucuras. Isso faz do teatro, nessa sociedade cada vez mais alienada pela técnica e pelo consumo, uma arte essencial.  Mas também está cada vez mais difícil fazer espetáculos relevantes dado o funcionamento das leis de incentivo, como a Rouanet e o Proac, que aumentaram os custos, facilitaram a vida de intermediários e quebraram a relação do artista com o público. Em grandes e médias produções, o filme ou a peça já estreiam totalmente financiados, sem risco nenhum, com dinheiro público vindo de empresas. Esse mecanismo é absurdo, único talvez no mundo. Em termos gerais, tenho financiado minhas peças e meus filmes com editais públicos, que muitas vezes utilizam as leis. No caso do Proac, uma conquista seria aumentar o valor máximo dos editais. 

Agora, uma pergunta cretina… Em um momento de Copa do Mundo, você torce pela seleção do Uruguai ou do Brasil? 

É bem cretina mesmo (risos). Em 2002, eu estava sozinho em casa, vendo um jogo do Brasil, quando Rivaldo matou uma bola no peito e fez um golaço. Levantei e gritei como louco. Quando me reconheci, eu percebi que era o momento de virar brasileiro. Mas, na Copa do Mundo, eu torço pelo Uruguai e pelo Brasil, nessa ordem. Uruguai é meu povoado, é uma região na verdade, somos 3 milhões e meio, então somos todos quase parentes.  Em nenhum país do mundo, o futebol é tão importante quanto no Uruguai, nem no Brasil ou na Argentina, onde há outras coisas pelas quais torcer. Por aqui, existiu o Senna, tem o vôlei, o Guga, a força do Brasil.  No entanto, se o Uruguai for campeão, tenho medo de entrar em êxtase e evaporar no universo, de morrer, de alguma forma. Mas, como bom escorpiano, espero renascer e continuar dirigindo.

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