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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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As dez melhores peças do ano de 2017 em São Paulo

A ótima temporada teve entre os destaques "Grande Sertão: Veredas", "Marte, Você Está Aí?", "Imortais", Gerald Thomas, Gabriel Villela e Zé Celso

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 19 dez 2017, 18h17 - Publicado em 19 dez 2017, 18h11

Grande Sertão: Veredas, direção de Bia Lessa

Ausente do teatro há quase uma década, Bia Lessa adaptou e dirigiu a monumental versão do romance de Guimarães Rosa para o palco. A história do jagunço Riobaldo (interpretado por um ótimo Caio Blat) é revelada em meio a grandiosas batalhas entre pistoleiros inimigos. O amor reprimido pelo colega Diadorim (representado por Luiza Lemmertz) intriga o espectador, assim como sua sede de vingança contra o vilão Hermógenes (papel de Leon Góes). A mão delicada de Bia se reflete em passagens ousadas, como a cena de sexo protagonizada pela atriz Luisa Arraes e por Blat.

Marte, Você Está Aí?, direção de Gabriel Fontes Paiva

No novo drama, a autora Silvia Gomez se conecta com a atualidade brasileira sem abrir mão de personagens de refinada psicologia e propícios a entendimentos diversos. Militante política em décadas passadas, uma mulher de meia-idade (interpretada por Selma Egrei) parece mais preocupada em marcar presença em recepções e com as cores das roupas que veste. A filha (papel de Michelle Ferreira) não compreende como a mãe, com um passado contestador, adotou a futilidade. O desaparecimento da jovem, depois de participar de uma manifestação, leva a mulher, a contragosto, a rever a própria história e a estabelecer ligações com os dias de hoje. Jorge Emil completou o elenco.

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Imortais, direção de Inez Viana

O ótimo drama trouxe o autor Newton Moreno na sua melhor forma desde o sucesso de Agreste, em 2004. As tradições e crendices do povo nordestino aparecem conectadas a uma polêmica contemporânea tratada de maneira sublime. A trama centra o foco em uma viúva conservadora (interpretada por Denise Weinberg) que, sofrendo de uma doença terminal, se instala em um túmulo próximo ao do marido para esperar a morte. O sossego é interrompido pelo retorno da filha rebelde (a atriz Michelle Boesche), afastada de casa há seis anos, ao lado do noivo (representado por Simone Evaristo), uma mulher em processo de transformação para homem trans.

Carmen, direção de Nelson Baskerville

Com dramaturgia de Luiz Farina baseada no romance de Prosper Mérimée, a peça promove um oportuno diálogo referente aos dias de hoje. Afinal, só pela originalidade faz sentido promover a nova leitura de uma história tão revisitada. Desta vez, a personagem ganha o corpo e a alma da atriz e bailarina Natalia Gonsales. A encenação propõe o ponto de vista de José (papel de Flávio Tolezani) atrás das grades, remontando o quebra-cabeça que o privou da liberdade. Carmen também defende sua identidade e abre espaço para o debate em torno do feminismo e da banalização da violência contra a mulher. Vitor Vieira também está no elenco.

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Natalia Gonsales e Flavio Tolezani: Carmen dialoga com os dias de hole (Ronaldo Gutierrez/Divulgação)

O Rei da Vela, direção de Zé Celso Martinez Corrêa

Zé Celso dirige cinco décadas depois uma nova versão do texto de Oswald de Andrade e tudo continua absurdamente atual. Escrita em 1933, logo depois da derrocada dos barões do café, a peça foi consagrada como opositora ao regime militar no fim dos anos 1960 e, hoje, reflete o país polarizado e desigual de 2017. O agiota Abelardo I (interpretado por Renato Borghi) enriqueceu emprestando dinheiro aos endividados a juros altíssimos. O caráter emotivo de ver um clássico tem força inegável, mas não se sobrepõe, neste caso, à mensagem pertinente sobre os contrastes sociais e políticos. 

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Preto, direção de Marcio Abreu

A montagem da Companhia Brasileira de Teatro radicalizou ao fechar o foco nas diferenças, principalmente no racismo. Comandado por Marcio Abreu, o espetáculo tem dramaturgia concebida por Grace Passô, Nadja Naira e pelo próprio diretor e contou com Renata Sorrah no elenco. A encenação oferece ferramentas ao público para que ele tire suas conclusões sobre o que seria ou não discriminação. O elenco imprime uma grande naturalidade nas composições e jamais exagera no tom.

Dilúvio, direção de Gerald Thomas

O encenador e dramaturgo montou o seu melhor espetáculo desde Um Circo de Rins e Fígados, de 2005. Thomas estreita de forma radical o diálogo com as artes visuais e a dança. As bailarinas Lisa Giobbi e Julia Wilkins esbanjam técnica em coreografias, a maioria aéreas, que reforçam a dramaturgia e, com lirismo, amenizam o pessimismo inicial. O encenador desenhou um fim do mundo em que a população é usada como munição e recorreu a temas pertinentes, como o feminicídio, a homofobia e a intolerância, para expandir a compreensão da obra. As atrizes Maria de Lima, Ana Gabi, Beatrice Sayd e Isabella Lemos formaram o elenco

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Dilúvio: Maria de Lima, Ana Gabi e Beatrice Sayd (Roberto Setton/Divulgação)

Boca de Ouro, direção de Gabriel Villela

Em um momento de grande inspiração, o diretor minimizou a tragédia do texto original de Nelson Rodrigues e transformou a história em uma grande melodrama capaz de atingir contornos cômicos. Quando o bicheiro (Malvino Salvador) que trocou os dentes por uma dentadura dourada morre misteriosamente, sua viúva, Dona Guigui (Lavínia Pannunzio), é procurada para relatar como era o falecido — e apresenta três versões. Mel Lisboa, Claudio Fontana e Chico Carvalho também se destacaram no elenco.

Onze Selvagens, direção de Pedro Granato

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O dramaturgo e diretor Pedro Granato criou um surpreendente espetáculo sobre a intolerância e a violência. Não soa leviano afirmar que a peça foi inspirada no roteiro do filme argentino Relatos Selvagens. É inegável, porém, que o espetáculo consegue ser mais perturbador por privilegiar a encenação de narrativas de conotação política e social com extremo realismo. Granato jogou em cena imagens impactantes e delicadas para temas espinhosos, amparado na coreografia de Inês Bushatsky e na iluminação de Gabriel Tavares.

Refluxo, direção de Eric Lenate

O espectador começava a ser instigado logo na entrada do Mezanino do Centro Cultural Fiesp, assim que se acomoda na plateia do espaço cênico transformado em um grande elevador. Foi de lá que público acompanhou a rotina do oprimido ascensorista Dário (interpretado por Maurício de Barros), que aperta o botão para o sobe e desce dos estranhos moradores de um edifício. A cantora de churrascaria Diva (papel de Lavínia Pannunzio), o escritor fracassado Túlio (o ator Laerte Késsimos), a esnobe Cleide (a atriz Patrícia Vilela), a solitária Dona Corina (Agnes Zuliani) e o síndico Abreu (Carlos Morelli) eram alguns deles.

Lavínia Pannunzio, Laerte Késsimos e Maurício de Barros: comédia dramática de Angela Ribeiro (Leekyung Kim/Veja SP)
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