“Amor Profano” propõe a perpetuação de um casal pela negação
Vivianne Pasmanter e Marcello Airoldi protagonizam o drama do israelense Motti Lerner em cartaz no Teatro Vivo
Histórias sobre diferenças nascem prontas para conquistar o espectador. Quando o conflito, então, envolve uma relação amorosa, é comum a emoção se sobrepor à razão, atingindo a plateia com facilidade. Esse, em um primeiro momento, é o caso de Amor Profano, drama do israelense Motti Lerner, que ganha direção de Einat Falbel.
Hannah e Zvi (interpretados por Vivianne Pasmanter e Marcello Airoldi) foram criados em uma comunidade judaica ultraortodoxa e viram o casamento ruir diante dos questionamentos dele em relação aos excessos religiosos defendidos pela parceira. Duas décadas depois do divórcio, os dois se reencontram por ironia do destino. Os filhos de cada um deles, de relacionamentos posteriores, começaram a namorar, e Hannah não aceita o romance da garota, educada dentro de suas convicções, com um rapaz que não segue à risca as tradições.
+ Herson Capri e Genézio de Barros em “As Brasas”.
O enfoque do texto, entretanto, vai muito além das crenças. Existe em cena um triângulo amoroso, como na maior parte das tramas do gênero. Só que, desta vez, o terceiro vértice não é uma outra pessoa, como seria óbvio, ou um impedimento familiar, caso de Romeu e Julieta, por exemplo. Quem barra a felicidade do casal é a religião, ou melhor, o Deus que guia a mulher e passou a ser ignorado pelo homem.
Vivianne e Airoldi têm grande responsabilidade na empatia imediata da montagem e na aceitação das contradições de cada um dos personagens. A atriz, econômica nas emoções sem perder a intensidade, transmite a capacidade de Hannah de usar o cérebro como determinante nas decisões sentimentais.
+ Peça apresenta jogo matemático nas estações de metrô.
Airoldi, por sua vez, é o tipo de ator que, com naturalidade própria, amplia as características de seus papéis. Por meio dos paradoxos de Zvi, um escritor que ganhou o mundo, mas ainda busca inspiração em suas origens, o intérprete desafia o público a entender suas motivações. O fértil embate entre Vivianne e Airoldi amplia os significados desse caso de amor, que só pode se perpetuar diante da própria negação e da racionalidade comum aos dois amantes (80min). 12 anos. Estreou em 12/10/2018.
+ Teatro Vivo. Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi. Sexta, 20h; sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 50,00 (sex.) e R$ 70,00 (sáb. e dom.). Até 9 de dezembro.