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Amanda Acosta e a superação dos estereótipos: “é preciso ter o dom para viver a vida de artista”

Quando se fala em Amanda Acosta, logo vem na sequencia algo do tipo “aquela menininha que integrava o Trem da Alegria no final dos anos 80”. Ok, já está dito e, a partir de agora, o interessante é comprovar que a paulistana Amanda cresceu, superou o rótulo de artista mirim e, aos 36 anos, é […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 15h40 - Publicado em 9 jul 2015, 14h40
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Amanda Acosta: a atriz e cantora (Fotos: João Caldas)

Amanda Acosta: a atriz e cantora está em cartaz com “Bilac Vê Estrelas” (Fotos: João Caldas)

Quando se fala em Amanda Acosta, logo vem na sequencia algo do tipo “aquela menininha que integrava o Trem da Alegria no final dos anos 80”. Ok, já está dito e, a partir de agora, o interessante é comprovar que a paulistana Amanda cresceu, superou o rótulo de artista mirim e, aos 36 anos, é uma talentosa atriz e cantora. No teatro, ela já foi a “My Fair Lady” do clássico musical e, nos últimos dois anos, emendou uma sequência de três significativos trabalhos, “Vingança”, “Caros Ouvintes” e “Bilac Vê Estrelas”, que pode ser conferido no Espaço Promon. Fora do palco, Amanda é casada com o ator André Fusko e mãe de Vicente, que, aos 7 anos, já demonstra, pelo menos em casa, um certo dom para as artes.

“Bilac Vê Estrelas” é uma exceção de musical totalmente brasileiro, com canções originais. Como atriz e cantora, qual é a diferença na prática?

A diferença é que estamos cantando na nossa língua musical.  Temos mais propriedade quando interpretamos canções que fazem parte da nossa formação, seja consciente ou inconscientemente. Está no sangue, entende? 

+ Onze musicais para aquecer o inverno paulistano.

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Nesse caso, você busca um jeito diferente de cantar, talvez mais próximo ao do das cantoras do rádio, enquanto numa produção que envolve um texto estrangeiro o artista precisa recorrer às influências internacionais, aos filmes ou a outros musicais da Broadway?

Se a história e a personagem têm referências de determinada época, no caso uma cantora da era do rádio, eu busco esse universo e procuro imprimir o jeito de falar, de cantar, a postura e os trejeitos. Em “Caros Ouvintes”, pensei muito na energia da Maysa e da Dalva de Oliveira para interpretar a Leonor. Ouço, leio e assisto aos vídeos. Não há diferença quando faço um espetáculo da Broadway. É o mesmo processo. Recorro aos filmes e aos musicais para me inspirar no universo da história e não para copiar a forma como interpretam ou cantam. O talento e a técnica dos atores de musicais americanos me inspiram muito, mas o mesmo ocorre quando vejo um ritual de uma tribo africana ou o congado mineiro. A diferença está na estrutura da música. E tudo depende muito da direção musical que o espetáculo vai ter.

Você lida com essas diferenças na hora de vestir o personagem?

A história e a personagem são quem me conduzem. Não penso nestas diferenças. Na verdade, elas não existem quando você está focado na história. O ator vai ao encontro do que a personagem necessita, não importando o gênero em que ela está inserida. Se você faz um musical, tem que saber cantar sim, tem que saber dançar sim, mas se não houver interpretação, a história como objetivo maior, tudo acaba virando só exibicionismo. Então, precisamos ter o corpo preparado para que a personagem tenha uma expressão forte e consiga comunicar através das três artes.

+ Leia entrevista com o ator Rodrigo Pandolfo.

Quando você percebeu que, além de cantora, precisaria ser uma atriz? Foi um caminho natural na sua profissão ou você imaginou que, com o fortalecimento dos musicais no Brasil, esse campo seria frutífero e decidiu investir? 

Desde que me entendo por gente, a dança, o canto e a palavra estiveram presentes. Aos 4 anos e meio, eu já interpretava. Reunia os primos em casa para assistirem aos shows que preparava para eles. Cantava, dançava e contava histórias. Logo, vieram os programas de calouros, os comerciais, os shows com Amanda e as Netinhas, um grupo formado por mim, minhas duas irmãs e duas primas. O nome “Netinhas” vem do nosso sobrenome Neto. Em seguida, o grupo Do-Ré-Mi, o Trem da Alegria e o meu primeiro musical “O Mágico de Oz”, aos 14 anos. E busquei me aperfeiçoar, superar meus limites e me aprofundar na minha arte, fazendo aulas de canto, dança e interpretação. É um processo contínuo.

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"Bilac Vê Estrelas": Amanda Acosta e Caike Luna no musical (Foto: Leo Aversa)

“Bilac Vê Estrelas”: Amanda Acosta e Caike Luna no musical que pode ser visto no Espaço Promon (Foto: Leo Aversa)

Talvez isso sempre tenha sido uma coisa muito natural, mas como hoje, de longe, você observa sua infância? Eram muitos compromissos, muita exposição ou, dentro do possível, a criança foi preservada quando você não estava em cena?

Eu estava onde queria estar. Era uma diversão e um prazer enorme. Não via como trabalho. Eu dava vazão as minhas inspirações e trocava com as pessoas. Brincávamos o tempo todo durante as viagens, no intervalo das gravações. Quando eu estava em casa, eu brincava descalça na rua com meus amigos. Nunca perdi o contato com a realidade.

+ Leia entrevista com a dramaturga Leilah Assumpção.

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Em algum momento, houve a possibilidade de você não ser uma artista? Cogitou alguma outra profissão? 

Nunca pensei em outra coisa e meus pais sempre me apoiaram. Confesso que, nos últimos anos, esse pensamento bateu na porta, porque realmente viver como ator no nosso país é uma montanha-russa. Dois mais dois não dá quatro na nossa profissão. Mas acredito no poder que a gente tem em driblar as dificuldades e, com paciência, persistência, dedicação e profissionalismo, conseguimos viver da arte. É preciso ter o dom para viver a vida de artista.

O seu filho demonstra tendência para uma carreira artística? E, caso demonstre, você o estimula ou prefere deixá-lo crescer para verificar se isso é o melhor para ele?  

Eu o estimulo com tudo o que é bom. Música, teatro, dança, artes plásticas, esportes… Com pouco mais de 2 anos, o Vicente já batucava nas panelas com um ritmo incrível. Sempre dei instrumentos para ele explorar, sempre cantei para ele e, agora, estamos fazendo alguns duetos, ele faz beat box e eu canto. Ele começou a improvisar fazendo beat box, com 3 anos e meio, e veio dele isso. Um dom. Procuro dar as ferramentas para ele. Mas tudo de uma forma natural, buscando o prazer das coisas e nas coisas. Esse estímulo tem que existir. O que não pode existir é a expectativa da gente sobre o filho. Se ele se interessar por robótica, eu vou mostrar o mundo da robótica para ele. Os pais devem mostrar o mundo para um filho.

+ Gabriel Villela estreia “A Tempestade” em agosto.

Quem viu “Os Sete Gatinhos”, “Maternidades” e, principalmente, “Caros Ouvintes” sabe que você não é só uma atriz de musical. Existe o preconceito às avessas?

Olha, desejo imensamente que esse preconceito não exista na cabeça das pessoas. Para mim, realmente não existe separação. Estou com Grotowski até o último fio de cabelo: “podemos então definir teatro como o que ocorre entre o ator e o espectador”.

O fato de cantar abre seus caminhos, mas também pode fechá-los, não?

Às vezes, eu deparo com a pergunta “você é atriz de musical?” ou “você é atriz ou cantora?”. É uma visão limitada que muitas pessoas do meio até hoje têm sobre a arte. O cantar vem para contar a história, tudo está em função da trama e para a trama. O ator tem que desenvolver seu instrumento ao máximo, sua voz, seu corpo e sua percepção de mundo para ampliar o seu poder de comunicação e ter ferramentas para servir a personagem no que ela exigir. Sinto o que Paulo Autran dizia “temos todos os personagens dentro de nós”. Só precisamos acordá-los e deixá-los nos conduzir e nos conectar com o público. Somos o “cavalo” da personagem.

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Amanda Acosta

Amanda Acosta: “eu estava onde queria estar”, diz ela, sobre a carreira na infãncia

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