“70? Década do Divino Maravilhoso” é documentário para família brasileira
O espetáculo parte do teatro de revista, apresenta abordagem inevitável da ditadura militar, mas liberdade sexual e desbunde das drogas são só insinuados
O saudosismo não sai de moda e virou uma febre em qualquer idade. Depois de homenagearem a jovem guarda, o diretor Frederico Reder e o dramaturgo Marcos Nauer tratam da diversidade do período compreendido entre 1970 e 1979. O espetáculo 70? Década do Divino Maravilhoso — Doc. Musical não deixa de ser um avanço em relação à fraca produção anterior, protagonizada por Wanderléa.
A linha segue a mesma, com centenas de projeções que repassam cronologicamente os fatos culturais, comportamentais, sociais e políticos, embaladas por 250 canções igualmente icônicas. As glórias do futebol, a explosão da nata da MPB, a consolidação das telenovelas, o milagre econômico, a repressão militar e os ecos da anistia estão representados, como em um almanaque. Desta vez, porém, talvez pela natureza mais crítica e pela inevitável abordagem da ditadura, o espetáculo esboça uma dramaturgia mais costurada e assume ares de teatro de revista.
O público, claro, sente-se contagiado, e os criadores evitam polêmicas. 70? Década do Divino Maravilhoso é um espetáculo para a família brasileira, e falar de política já é suficiente. A liberdade sexual e o desbunde das drogas são só insinuados.
As entradas da cantora Baby do Brasil e das remanescentes do conjunto As Frenéticas, Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra, não soam deslocadas como as inserções de Wanderléa na montagem anterior. Pelo contrário, parecem um show dentro do grande show.
Baby, com seu vozeirão, ataca de Brasileirinho, Menino do Rio e Aquarela do Brasil. Menos dotadas vocalmente, Dhu, Leiloca e Sandra contam causos, brincam com a plateia e esbanjam naturalidade ao trazer à tona Perigosa, Somos as Tais Frenéticas e a indefectível Dancin’ Days. O mesmo não acontece com o restante do elenco, que, na busca da densidade emocional, chega a tornar fria a releitura de clássicos como Vapor Barato, Gota d’Água e Explode Coração (180min, com intervalo). 14 anos. Estreou em 16/3/2019.
+ Theatro Net. Shopping Vila Olímpia. Quinta e sexta, 20h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 17h. R$ 75,00 a R$ 220,00. Até 30 de junho.