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“Criamos uma sociedade de swing secreta”, diz casal que era evangélico

Camila largou o relacionamento abusivo para ficar com Edgar, com quem se aventurou no universo liberal

Por Camila Voluptas, 36 anos, em depoimento a Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 23 out 2020, 09h14 - Publicado em 23 out 2020, 06h00

“Conheci Edgar, 38, no meu primeiro emprego, como estagiária em uma clicheria, em 2003. Viramos amigos e acabamos nos apaixonando, mas nada aconteceu porque ele era casado e muito religioso. Na época, estava muito carente. Meus pais se separaram cedo e eu já morava sozinha. Para fazer amigos, Edgar sugeriu que eu frequentasse a igreja dele, da Congregação Cristã, e eu entrei de cabeça. Seguia todos os preceitos, comecei a usar saia e deixei meu cabelo crescer. Lá, conheci meu primeiro marido.

Namoramos por um ano antes de casar e durante o relacionamento ele já dava sinais de abuso, mas eu ignorava, pela ânsia de querer construir uma família. Na lua de mel tivemos nossa primeira experiência sexual e na manhã seguinte ele começou a discutir comigo. Não sei se ele estava frustrado por não ter casado com uma mulher virgem, mas dizia que eu não era crente como ele e acabou me batendo pela primeira vez.

Foram três anos de um casamento violento e cheio de brigas. Eu não podia ouvir rock porque ele achava ‘mundano’, me obrigava a fazer dieta e não me deixava comer um pedaço de pizza. Parecia que ele não queria ir para a cama comigo. Isso acabou com minha autoestima, além do que, sexualmente falando, eu estava morta. Eu ligava para desabafar com o Ed, mas escondia dele que meu marido me batia. Até que o Edgar se separou e nos aproximamos como antes.

Meu marido me acusou de adultério na igreja e fui humilhada e questionada em uma reunião com catorze anciões, mas o jogo virou quando revelei as agressões dele. Fiquei tão frustrada por sofrer em silêncio e ainda ser julgada que hoje não ligo para a opinião das pessoas. Tudo isso me deu coragem para me separar, em 2013, também e ficar com o Ed. Logo depois do meu divórcio, fomos morar juntos.

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Ensaio fotográfico do casamento, em 2018: juntos até debaixo d’água (Guigo Rua/Divulgação)

Finalmente estava com o amor da minha vida, mas ainda cheia de traumas. Cheguei a questionar se realmente gostava de homens, porque o sexo com um homem me remetia a coisas ruins. Depois de muita conversa com o Edgar, fui me soltando sexualmente e recuperando minha libido. Começamos com brinquedos eróticos e fantasias na cama, até que surgiu a curiosidade de conhecer o swing e as baladas liberais.

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Comecei a estudar sobre a prática, porque não havia muita informação. Primeiro, entramos em redes sociais adultas e de exibicionismo, como Sexlog e Ysos, e ficamos muito tempo apenas no voyeurismo. Havia muitas mulheres magras e, por vergonha, não tinha coragem de me exibir também. Mas, quando eu fiz, a repercussão foi boa. Usuários me elogiavam, e aquilo me deu confiança, criei uma autoestima que nunca tive. Descobri pessoas que me aceitariam do jeito que sou.

Na primeira vez que decidimos sair com outro casal, me senti valorizada pelo homem, mas fiquei insegura porque a mulher dele era mais magra que eu. O Ed não conseguiu ir para a cama com ela porque não a conhecia muito bem. Em vez de ciúme, eu senti empatia e tentei motivá-lo.

Entendi que o ciúme faria sentido se o visse abraçado com alguém no cinema, mas o que vivemos são apenas experiências. Nós estabelecemos regras e o segredo do relacionamento liberal é não quebrá-las. Fazemos tudo juntos, não conversamos ou saímos com outras pessoas sozinhos e não nos forçamos a nada. Não tenho medo de ele se apaixonar por outra pessoa porque nosso relacionamento é como um copo que, se está cheio, não falta nada. Um casal para se aventurar no universo liberal precisa estar seguro. Engana-se quem pensa que quem vai para o swing está com problemas no casamento.

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Edgar, por ter tido criação machista, tinha muitos tabus, mas com essas experiências ele recentemente se descobriu bissexual. O Ed é muito simpático, mas tímido e não se expõe como eu, que tiro dúvidas e escrevo sobre swing no perfil do Instagram @ela.damadeespadas. Quando contei para minha mãe nossa história, ela deu risada. Meu pai a tinha convidado para a prática no passado, mas, por ser muito conservadora, não aceitou.

Sempre teve um detalhe nas casas de swing que me incomodava: envolver-se com desconhecidos. E se o cara com quem eu estava batesse na mulher igual meu primeiro marido fazia comigo? Decidimos criar um clube em que as pessoas pudessem conversar sem imediatismo — mas, para entrar, é preciso enviar antecedentes criminais. Fundamos a Voluptas Society e organizamos festas (suspensas na pandemia até a chegada da vacina) em mansões e hotéis para os membros se conhecerem”.

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Ed e Camila: casal decidiu explorar o universo liberal (Guigo Rua/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710

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