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O custo da água suja: pernilongos atormentam moradores em São Paulo

Com as altas temperaturas e rios poluídos, proliferação de mosquitos chega mais cedo à cidade; especialistas dão dicas para amenizar as picadas

Por Humberto Abdo
Atualizado em 18 set 2020, 14h35 - Publicado em 18 set 2020, 06h00

A forte onda de calor que atingiu a capital na última semana agravou a infestação de pernilongos em várias partes da cidade. Moradores de bairros da Zona Oeste, próximos ao Rio Pinheiros, e de regiões como Vila Mariana, Mooca e Ipiranga se queixaram do aumento desses insetos dentro de casa. “Virou um problema de saúde pública, nunca tivemos algo nesse volume durante o inverno”, espanta-se o consultor da associação AME Jardins João Carlos Maradei Jr. “Temos moradores (do Jardim América e Jardim Europa) juntando baldes de pernilongos em casa. Isso afeta principalmente crianças e animais, que ficam circulando a noite inteira”, observa. Além dos bairros dos Jardins, a associação tem recebido reclamações de pessoas do Itaim Bibi e de Pinheiros, inclusive de moradores de residências distantes dos rios, onde os mosquitos mais se proliferam. “Dias mais úmidos e temperaturas acima de 30 graus aceleram o ciclo reprodutivo dos mosquitos”, explica Aliny Antunes, bióloga e professora de biomedicina da Estácio Conceição. “A incidência desses insetos e doenças como dengue não deixam de existir no inverno, mas com o tempo seco e frio os pernilongos normalmente diminuiriam suas atividades.”

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Para driblar o sufoco das picadas desses mosquitos em casa, os especialistas sugerem manter o ventilador ligado, instalar tela nas portas e janelas e investir em equipamentos como as raquetes elétricas. Como os pernilongos costumam aparecer no entardecer e no início da noite, manter a casa fechada nesse período também pode ajudar. “São barreiras físicas, e o ventilador atrapalha o voo do animal”, observa Paulo Roberto Urbinatti, biólogo entomologista da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Repelentes também auxiliam, mas são paliativos porque muitas das espécies já criaram resistência a eles.”

Com mais de 30 000 assinaturas, uma petição on-line pede à gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) que tome providências mais imediatas contra os insetos — no documento, seu criador mostra que as reclamações feitas pelo canal de atendimento da prefeitura não surtem efeito. Uma das medidas práticas costuma ser o caminhão de fumaça popularmente chamado de fumacê, veículo que pulveriza inseticida nas ruas. Segundo Maradei, a passagem dos fumacês não tem amenizado o problema, e também seria necessária uma força-tarefa para a limpeza dos córregos. Em alguns locais, o método de combate chegou a ser usado nos últimos dias de agosto e no início de setembro, casos de Jardim Aeroporto e Jardim América. “Mas nunca vi o fumacê como prática contra mosquitos em Pinheiros”, alega Sílvia Magalhães, diretora-tesoureira da Associação dos Amigos de Alto dos Pinheiros e moradora na região há cinco anos. Por lá, os frascos de inseticida sumiram das prateleiras dos mercados do bairro, segundo Ivana Queiroz, presidente do Conseg Pinheiros. “É no mínimo louco, as pessoas se desesperaram e compraram estoques”, admira-se. “Diversos moradores de casas e apartamentos estão reclamando, recebi relatos de pernilongos mortos até em um quarto no 14º andar.” De acordo com a marca de inseticidas SBP, em uma das principais redes de varejo de São Paulo as vendas do último fim de semana foram cinco vezes maiores em comparação com o mês anterior.

(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Em nota, a prefeitura afirma que a pulverização com caminhões ocorre desde o início de agosto na cidade e deverá continuar pelas próximas semanas. Na segunda-feira (14), uma ação conjunta entre a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) e a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) conduziu a aplicação de larvicidas e a remoção de vegetação em trechos do Rio Pinheiros. Em resposta a VEJA SÃO PAULO, a Emae explicou que tem retirado resíduos sólidos e de vegetação aquática desde 2019 e já foram removidos 6,7% da carga orgânica dos córregos.

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“A espécie conhecida como Culex quinquefasciatus se prolifera em ambientes como córregos e rios, onde existe matéria orgânica disponível, por isso o Rio Pinheiros é um excelente criadouro”, acrescenta Urbinatti. “A melhor solução seria tirar o esgoto dos rios e fazer o tratamento. A larva sobrevive a esses ambientes porque não tem predador nenhum nessa água. Quando melhorar a qualidade da água, outros microorganismos vão habitar lá e fazer um controle natural.”

Proteção caseira

Especialistas dão dicas simples para afastar os pernilongos

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Manter a casa limpa e não acumular água

As fêmeas desses insetos costumam depositar ovos em locais com água acumulada. Conservar vasilhas, calhas e vasos limpos evita o nascimento dos mosquitos.

Instalar telas nas janelas

As barreiras físicas impedem a entrada dos mosquitos, que costumam aparecer durante o entardecer e o início da noite. Deixar portas fechadas e ligar o ventilador também pode ajudar.

Testar repelentes naturais

Especialistas divergem sobre a eficácia dos repelentes caseiros, mas receitas tradicionais sugerem, por exemplo, ferver cravo, cujo cheiro pode afugentar os pernilongos para fora de casa.

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Investir em plantas e flores

Algumas espécies de plantas repelem os mosquitos naturalmente por causa do aroma, como alecrim, gerânio, lavanda, malmequer e manjericão.

 

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705.

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