Eleições corintianas: clima esquenta entre os candidatos
Troca de acusações entre membros das chapas acirra disputa pela presidência do clube do Parque São Jorge
Na tarde do último sábado (28), um comboio formado por três ônibus deixou a sede do Corinthians, no Tatuapé, Zona Leste, rumo ao canteiro de obras do novo estádio do clube, em Itaquera. A ideia era levar um grupo de torcedores para acompanhar o andamento dos trabalhos. Como condição para embarcar, os interessados tinham de vestir a camisa de Mário Gobbi, o candidato da situação à eleição presidencial do alvinegro. Ao saberem disso, membros da chapa de oposição, encabeçada pelo empresário Paulo Garcia, enviaram correligionários para lá, devidamente paramentados com o uniforme da campanha. Esse grupo afirma ter sido barrado na porta e ameaçado de agressão. A coisa só não terminou em briga generalizada devido à intervenção dos seguranças da obra. “A turma do Gobbi ameaçou quebrar a minha boca”, acusa Wanderley Ferreira, um dos cabos eleitorais de Garcia. “Não aconteceu nenhum problema”, jura Manoel Ramos Evangelista, mais conhecido como Mané da Carne. Ele foi dono de açougue, hoje revende carros e atua também como assessor da atual diretoria. “Nossos inimigos são mentirosos, incompetentes e estão desesperados”, completa.
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O episódio é um bom termômetro do clima atual nos bastidores do Corinthians, que deve eleger o sucessor do atual presidente no próximo sábado (11). Andrés Sanchez assumiu o cargo em 2007, e, logo depois, o time mais popular de São Paulo passou pelo maior vexame de sua história, sendo rebaixado para a segunda divisão. Mas ele o ajudou a voltar à elite do futebol nacional. Na sequência, contratou o craque Ronaldo, venceu a Copa do Brasil de 2009 e fechou o mandato com a conquista do pentacampeonato brasileiro, em dezembro passado. Outro motivo de orgulho foi o início da construção do estádio em Itaquera e sua escolha como palco da abertura da Copa, em 2014. “Darei continuidade a esse trabalho”, promete Gobbi. Fora do clube, ele ocupa o cargo de assistente da diretoria do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro).
Apesar do apoio de Sanchez e do bom momento vivido pela agremiação, a situação não chega ao pleito com um folgado favoritismo. O desafiante Paulo Garcia, além de dispor de recursos para usar na disputa (é da segunda geração da família que controla a Kalunga, rede de lojas de artigos para escritório, material escolar e informática), conseguiu unir vários adversários da atual gestão e atraiu o apoio de ex-jogadores, como Marcelinho Carioca, Vampeta, Dinei e Ataliba. “Gobbi chegou ontem ao clube, não tem história aqui”, diz Garcia, sócio desde 1970. Diante desse equilíbrio, a briga vem esquentando nas últimas semanas. A turma ligada a Gobbi acusa Garcia de comprar associados e de cooptar jornalistas para fazerem campanha disfarçada. A oposição, por sua vez, sustenta que a atual administração permitiu o aumento da dívida do clube em dez vezes e estranha que um delegado de polícia como Gobbi tenha como um de seus homens de confiança um bicheiro, André Luiz de Oliveira, o André Negão. “Como eles não têm propostas, partiram para ataques pessoais”, defende-se Oliveira, que nega ser contraventor e diz que vive com o salário de coordenador de esportes do Corinthians. Num esquema de votação direta, cerca de 4.000 associados decidirão qual dos dois candidatos vai comandar os destinos corintianos até 2015.
Saiba mais sobre os candidatos:
Mário Gobbi
Idade: 50 anos
Profissão: delegado
Candidato da situação, ocupou entre 2007 e 2010 o cargo de diretor de futebol do clube. Pretende dar continuidade ao trabalho de Andrés Sanchez, aumentar o número de associados e investir mais em outras modalidades de esporte.
Canelada contra o adversário: membros da sua campanha insinuam que a oposição usa o dinheiro da rede Kalunga a fim de comprar associados, jornalistas e blogueiros para que falem bem de Paulo Garcia.
Paulo Garcia
Idade: 57 anos
Profissão: empresário
O proprietário da Kalunga já se candidatou sem sucesso ao cargo em 2007 e 2009. Promete maior rigor na fiscalização das obras do estádio e mais clareza nas contas corintianas. Tem o apoio de antigos jogadores, como Marcelinho, Dinei e Ataliba
Canelada contra o adversário: seus correligionários espalham que um dos principais cabos eleitorais de Gobbi é um bicheiro e que a dívida do clube aumentou dez vezes na atual gestão, chegando a 300 milhões de reais
FORÇA ALVINEGRA
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Alguns dos números que destacam o clube diante da concorrência
Símbolo que vale ouro
Segundo pesquisa da consultoria BDO RCS, o Corinthians tem a marca mais valiosa do futebol brasileiro, com valor estimado em mais de 850 milhões de reais.
Campeão de públicoNo último Brasileirão, o clube teve uma média de 26.715 torcedores por jogo, a maior do campeonato.
Uniforme mais rentável
O Corinthians se tornou a quarta camisa que mais dá dinheiro no mundo, rendendo cerca de 50 milhões de reais por ano aos seus cofres. Apenas Manchester United, Liverpool e Real Madrid embolsam mais do que isso no planeta bola.