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Profissionais estudam idiomas para receber estrangeiros na Copa

Parceria entre SPTuris e PUC-SP promove curso para quem não quer ficar só no “gesticulation”

Por Claudia Jordão
Atualizado em 1 jun 2017, 18h21 - Publicado em 22 dez 2011, 16h10

Desde 2006, a caixa Aline Vergínia de Souza, de 34 anos, trabalha na lanchonete Hocca, localizada dentro do Mercado Municipal, o quarto ponto mais procurado na cidade pelos turistas estrangeiros, depois do Parque do Ibirapuera, do Masp e da Avenida Paulista. Apesar do perfil da clientela, até pouco tempo atrás ela só conhecia algumas palavras e expressões de filmes de Hollywood, como “Pick up the food” (Pegue a comida). Os visitantes de fora tinham de escolher o que desejavam apontando o cardápio.

Graças a uma parceria entre a SPTuris (empresa de turismo e eventos no município) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), a dificuldade de comunicação tem tudo para ser minimizada. Desde o fim de novembro, a atendente faz parte de uma turma de 22 funcionários de restaurantes e lanchonetes do Mercadão que estão aprendendo praticamente do zero a dizer em inglês o nome e os detalhes das receitas típicas do local, como os clássicos pastel de bacalhau e sanduíche de mortadela. “Já fico mais à vontade quando um gringo tenta puxar conversa”, comemora Aline. “Hoje, consigo perguntar o que a pessoa quer e indicar pratos.”

Desenvolvido com base nos produtos ali à venda, o curso é ministrado por professores da faculdade em uma sala ampla no 2º andar do prédio e terá quarenta horas de duração. No decorrer de 2012, devem começar as sessões de espanhol e francês. Opcional e gratuita, a oportunidade será estendida também à turma que dá expediente nos boxes de frutas, carnes frescas e empórios, bem como aos funcionários dos outros mercados municipais da metrópole, em Pinheiros, Lapa e Ipiranga. A preocupação em capacitar profissionais que recebem gente de outros países é comum em nações escolhidas como sede de eventos como Copa do Mundo e Olimpíada. Em Pequim, por exemplo, quando a capital chinesa venceu a disputa para receber os Jogos Olímpicos de 2008, o governo tornou obrigatório o ensino do inglês nas escolas para crianças a partir de 6 anos e ameaçou tirar a licença de taxistas que não falassem pelo menos 100 palavras do idioma.

Para os especialistas no assunto, o esforço faz toda a diferença. Saber pronunciar simples frases como “May I help you?” (Posso ajudar?) cria uma situação de empatia com a pessoa vinda do exterior e abre portas para que ela retorne no futuro. “Bem acolhido, o viajante recomenda o destino e volta na primeira oportunidade”, diz Luiz Sales, diretor da SPTuris. “Isso traz benefícios para o trabalhador, para os negócios e para a população.” Pensando nisso, em março o governo federal abrirá inscrições para 10.000 vagas em cursos de inglês e espanhol dirigidos a profissionais da cadeia turística oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A ação será concentrada nas doze cidades-sede da Copa de 2014. A capital paulista, local do jogo de abertura e de mais cinco partidas do Mundial, deve ser o destino de 258.000 estrangeiros no período (veja informações abaixo).

Muitas pessoas estão correndo contra o relógio para se aprontar a tempo. Em sua maioria, são funcionários de restaurantes e hotéis, além de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e taxistas. O motorista França Cícero, de 66 anos, cujo ponto fica na Rua Itapeva, na Bela Vista, está chegando lá. Antes de começar a rodar na praça, em 2003, ele havia atuado como guia de empresas como a extinta Soletur e frequentado algumas escolas de idiomas. No contato com clientes latinos, adquiriu também noções básicas de espanhol. “Consigo me virar um pouco em inglês e espanhol, mas quero melhorar bastante ainda”, conta. Nos horários de folga, ele estuda lendo livros importados com um dicionário de apoio ao lado.

Estima-se que 90% dos taxistas de São Paulo sejam monoglotas. Por isso, Cícero se destaca na concorrência. É indicado pelo Confort Hotel Downtown, na República, sempre que um hóspede pede um motorista bilíngue para atendê- lo. “Quando o visitante vê que entendo para onde ele quer ir e que sou capaz de dar sugestões de passeios, fecha pacotes comigo de até mais de uma semana”, diz ele, que já faturou gorjetas de 85 dólares (154 reais) de uma só vez. A situação de associações da categoria deve mudar aos poucos através de programas do sindicato com instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). A parceria já formou 300 frotistas da cidade nos últimos cinco anos em inglês. “Pretendemos abrir 270 novas vagas em 2012”, conta Ricardo Auriemma, presidente da Associação das Empresas de Táxi de Frota do Município de São Paulo.

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A entidade não é a única a realizar esse tipo de esforço. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) fechou um acordo com a escola de idiomas CCAA para oferecer descontos de até 30% na mensalidade. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIHSP) desenvolveu um curso a distância na sua área e já busca incentivo do governo para oferecê-lo, além de também disponibilizar convênios com instituições de ensino. A Guarda Civil Metropolitana quer preparar 2.000 agentes (1.000 em inglês e a outra meta de em espanhol) em dois anos e meio. “Quem tiver fluência vai ficar no entorno do Itaquerão e em regiões turísticas”, afirma o inspetor Altair Daniel Dias. A guarda Luciene dos Santos Mello, de 28 anos, que faz parte do primeiro grupo de cinquenta colegas escolhidos para o projeto, está animada com os estudos, que acontecem no Centro de Formação da GCM, no Pari, na Zona Leste. “Quero ajudar quem está perdido, sem ter de apelar”, diz ela, referindo-se ao recurso da “gesticulation”.

Invasão de visitantes

As previsões do setor de turismo na cidade para o Mundial do Brasil

1,4 milhão

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Número total de turistas estimado para o período do evento

258.000

Quantidade de estrangeiros que devem desembarcar por aqui

1,7 bilhão de reais

Expectativa de arrecadação na metrópole com os visitantes que vêm do exterior

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