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Grife de Christian Louboutin completa vinte anos

Designer revela se dedicar à preservação do seu legado e, claro, planeja voos mais altos

Por Kênya Zanatta, de Paris
Atualizado em 5 dez 2016, 17h36 - Publicado em 18 nov 2011, 23h50

O primeiro esboço foi aos 13 anos, quando os sapatos eram somente um meio de se aproximar das dançarinas de cabaré que o fascinavam. Hoje, Christian Louboutin já perdeu a conta dos modelos criados nos vinte anos de existência da sua marca. A primeira butique, na galeria Véro-Dodat, em Paris, deu origem a um pequeno império que vende os cobiçados pares com o solado vermelho em 51 países. Não demorou para os rabiscos infantis virarem produtos de luxo: 3.000 reais é o preço médio de seus saltos na loja do Shopping Iguatemi.

+ Louboutin: de Paris para a Rua 25 de Março

+ Os pares de sapatos perfeitos

Nascido em um bairro operário da capital francesa, Louboutin foi, na adolescência, aprendiz de figurino no cabaré Folies Bergère e colaborou com grifes como Christian Dior e Yves Saint Laurent nos anos 80. Antes de criar a marca própria, resolveu se dedicar ao paisagismo. Ao voltar para a primeira paixão, trabalhou por dois anos como vendedor em sua loja. Aprendeu, observando as clientes, que o efeito de um bom par não se limita aos pés: as mulheres procuram calçados que deixem as pernas mais longas, as canelas mais finas, o jeito de caminhar mais sensual. Suas criações desfilam nos pés de personagens tão díspares quanto Lady Gaga e Carla Bruni-Sarkozy, resultado do fino equilíbrio entre inspirações kitsch e desenho chique de um bom trapezista como ele — aos 47 anos, Louboutin pratica a antiga arte circense para manter a forma.

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+ Veja a galeria de fotos com criações de Louboutin

Agora, o designer começa a se preocupar com a preservação da sua obra. No mês passado, lançou pela editora Rizzoli (com prefácio do ator John Malkovich) “Christian Louboutin”, seu primeiro livro, com fotos dos sapatos misturadas a imagens da infância. Será tema de uma exposição no Design Museum, em Londres, em março de 2012. Em entrevista a VEJA SÃO PAULO LUXO, Christian Louboutin fez um balanço das duas décadas de grife, falou da nova loja dedicada à clientela masculina e, claro, sobre sapatos.

VEJA SP LUXO — Qual foi sua maior conquista nessas duas décadas?
LOUBOUTIN —
No início dos anos 90, era possível criar o próprio negócio sem capitais faraônicos. Isso ainda vale para hoje. Se permanecermos fiéis àquilo que amamos e à própria identidade, continuaremos independentes. As pessoas me dizem que ficam contentes ao ver que continuo me dedicando a algo que era um sonho de infância. O que mais me satisfaz é ter mantido o entusiasmo. Vinte anos é muito e também não é nada! Estou interessado nos próximos vinte anos.

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VEJA SP LUXO — Há quem reclame que seus sapatos são pouco confortáveis. O que é mais importante?
LOUBOUTIN —
Evocar o desejo. Se evocassem conforto, eu ficaria deprimido.

VEJA SP LUXO — As referências por trás das suas criações estão ligadas às dançarinas de cabaré. Seus sapatos, entretanto, são adorados pelas mulheres da alta sociedade. Como o senhor explica essa aparente contradição?
LOUBOUTIN —
O poder de atração das minhas propostas é este: suprir a parte que falta a cada pessoa. Se uma mulher é muito elegante e sente falta de um lado mais sexy, é isso que ela vai encontrar. Se uma mulher é muito sexy, encontrará elegância.

VEJA SP LUXO — Qual é o par mais luxuoso que o senhor já criou?
LOUBOUTIN —
Uma sandália toda coberta de rubis, inclusive na sola, sob encomenda para um cliente.

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VEJA SP LUXO — Qual cliente?
LOUBOUTIN —
Isso é confidencial. Sou como médico.

VEJA SP LUXO — Existe um estilo de sapatos que prefere desenhar?
LOUBOUTIN —
Mules. E atualmente gosto dos saltos muito retos.

VEJA SP LUXO — O que é inaceitável em um par?
LOUBOUTIN —
Plástico, porque cheira muito mal.

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VEJA SP LUXO — Quais são os sapatos de que mais se orgulha?
LOUBOUTIN —
Escarpins. São simples como um rosto sem maquiagem.

VEJA SP LUXO — Suas solas vermelhas foram copiadas mundo afora e o senhor enfrenta uma batalha judicial com a marca Yves Saint Laurent pelo uso exclusivo delas. Considera a possibilidade de criar solas diferentes, em edição limitada, por exemplo?
LOUBOUTIN —
Não há motivo para mudar, tenho a marca registrada. As solas já se tornaram parte da identidade das clientes que seguem meus passos.

VEJA SP LUXO — O senhor abriu em Paris a primeira loja dedicada a sapatos masculinos, que também levam os solados vermelhos. Por que um designer associado à sensualidade dos saltos se lança nesse mercado?
LOUBOUTIN —
Muitos homens confessaram querer sentir o mesmo entusiasmo (pelos sapatos) que viam na relação entre mulheres e seus pares.

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VEJA SP LUXO — Qual é a principal diferença entre os homens e as mulheres quando o assunto é sapato?
LOUBOUTIN —
Os homens querem ter sapatos geniais, divertidos, sublimes e insensatos. Não existe a ideia de sexy.

VEJA SP LUXO — O senhor disse que, na primeira semana de funcionamento, vendeu cerca de vinte pares por dia (alguns chegam a 1.500 euros). Quais são os modelos mais procurados pelos homens?
LOUBOUTIN —
Todos os que têm tachas pontiagudas e bordados.

VEJA SP LUXO — Eles podem mandar bordar as próprias tatuagens nos sapatos, um serviço que custa 8.000 dólares. De onde tirou a ideia?
LOUBOUTIN —
Um amigo tem uma tatuagem muito bonita, e para o aniversário dele mandei bordar o desenho em um par. As tatuagens são hoje uma marca de nobreza. São como brasões modernos. Em vez de usar um mocassim com um falso escudo de um clã ao qual você não pertence, a ideia é bordar o próprio brasão.

VEJA SP LUXO — Quantos pares de sapato o senhor possui e quais designers admira como consumidor?
LOUBOUTIN —
Devo ter entre 300 e 400 pares. Gosto muito dos sapatos masculinos de Dries van Noten.

VEJA SP LUXO — Existe algum tipo de sapato que o senhor jamais usaria?
LOUBOUTIN —
Tamancos, porque fazem um barulho horrível e resultam em uma maneira muito feia de caminhar.

VEJA SP LUXO — Quais são seus planos?
LOUBOUTIN —
Sou supersticioso, não falo das coisas que não concluí. Vou permanecer focado nos sapatos e nas bolsas, que são uma extensão natural do meu trabalho. Não me preocupo com o futuro, não tenho medo de me entediar. E me concentro na conservação do meu trabalho, coisa que nunca fiz.

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