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Todo dia é dia

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h14 - Publicado em 12 mar 2011, 00h50

Ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, no último Dia Internacional da Mulher as redes nacionais de televisão aberta do país do Carnaval preferiram homenagear um tipo de mulher: a pelada.

Para uma mulher aparecer pelada na televisão, ela tem de ter corpo. Corpaço. E isso é problema para quem precisa encarar mais de três horas de condução diária, oito de trabalho, refeição barata e calórica, tentações de padaria e fast-food, e várias horas de tarefas em casa.

A preferência da televisão não fez jus à mulher da nossa vida, mães, esposas, namoradas, irmãs, amigas. Ninguém mais merece tanto amor e amizade, como celebra Vinicius de Moraes na “Elegia Desesperada”, ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade, ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Poeta, acaso sabias que há mais mulheres do que homens no país? — 3,9 milhões a mais, no último Censo, a que acabamos de responder.

Haverá para todas, poeta, haverá amor e amizade, poesia e sinceridade, alegria e serenidade? Não que os homens sejam únicos provedores de tais bens. Eles falham muitas vezes nessa missão, e se tornam, reconheçamos, provedores justamente dos bens contrários, semeando decepção e mágoa. Filhas são agredidas e esposas desrespeitadas por homens considerados de bem quando as portas do lar se fecham. Que descontrole os governa?

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Muitas nem precisam tanto assim de homens para amor, poesia e alegria. Têm amizades, namoradas e companheiras que saberão atendê-las. Mas 4 milhões é muita gente, pode haver falta.

Até a idade de 20 anos, a balança dos sexos feminino e masculino é mais equilibrada, os homens são na verdade pequena maioria. Depois, até os 50 anos, o número de mulheres ultrapassa muito o de homens. Porque, jovens, eles morrem de aventura — acidentes, assaltos, brigas; e, maduros, morrem de stress. Após os 50 anos, é ainda maior o número proporcional de mulheres. Resultado: elas ficam sós por mais tempo.

Já há alguns anos, o Rio é a capital em que sobram mais mulheres; há 86 homens para cada 100 mulheres. A violência é uma das razões. Em São Paulo, seis anos atrás, a conta era 91 mulheres para 100 homens. Está sendo atualizada e deve continuar por aí. São cerca de 900.000 mulheres a mais na área metropolitana. A prefeitura fez até um levantamento por região, detectando predomínio de viúvas na Mooca e de descasadas em Pinheiros.

O excesso aumenta nossa responsabilidade — a nossa, dos homens de boa vontade — e o mês da mulher, março, convida a pensar nisso. O pior, ou melhor, sei lá, é que se diz que o déficit alto de homens no Rio está direcionando de lá para São Paulo as antenas das mulheres com esperança de união estável.

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É responsabilidade nossa contribuir para o bem-estar da mulher, 50%, pelo menos. Elas já têm contra si a variação hormonal, a obrigação da beleza, a pele mais sensível, o peso da gravidez, a amamentação, o salário menor, o funcionamento da casa, a maior suscetibilidade à celulite, o prazer mais trabalhoso… Ela quer beijo, bom humor, saber que foi lembrada durante o dia. Mínimas coisas: uma flor, uma frase, uma empadinha, um telefonema, um torpedinho. Tendo carinho, os outros 50% pode deixar que ela faz.

E, às que sobram na estatística, quem dará seu quinhão de amizade, sinceridade e serenidade, que o poeta pedia? Vamos, homens, temos trabalho extra a fazer.

E-mail: ivan@abril.com.br

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