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Viciados em compras aprendem a como fugir da falência

Para conter a compulsão por comprar e fazer dívidas, consumistas descontrolados buscam ajuda em reuniões coletivas e no HC

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 5 dez 2016, 18h19 - Publicado em 28 jan 2011, 17h37

A psicóloga Angela Souza* faz de tudo para passar longe dos shopping centers. Em um momento de descontrole, é capaz de comprar pares de sapatos que não vai usar ou adquirir livros e mais livros que ficarão esquecidos em prateleiras. Assim como seu pai, ela sofre de um transtorno chamado oneomania, uma compulsão desenfreada para o consumo.


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“Você faz empréstimos para pagar empréstimos, e vira uma bola de neve”, afirma o funcionário público Gilson Siqueira, que chegou a trocar de celular dez vezes no mesmo ano e não passava um dia sem levar alguma compra para casa. “Contraí dívidas que somavam três vezes o meu salário.”

Os dois são frequentadores assíduos das reuniões dos Devedores Anônimos (D.A.), que acontecem todos os sábados, gratuitamente, na Paróquia Santa Ifigênia, na região central, e às quintas na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Jardim Paulistano. “Para quem tem esse distúrbio, o ato de comprar é uma forma de fugir dos problemas”, explica Tatiana Filomensky, psicóloga do Programa de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Ali, o tratamento individual (sessões de terapia) dura cinco meses. Atualmente, são atendidas quinze pessoas — desde 2006, foram mais de 100. “Essa doença normalmente está atrelada a outras, como depressão e ansiedade”, diz Tatiana. Um estudo realizado nos Estados Unidos mostra que de 3% a 5% da população americana sofre dessa compulsão, que afeta mais mulheres do que homens.

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Os encontros dos Devedores Anônimos começam com uma oração. Depois, o coordenador pergunta se alguém está lá pela primeira vez e explica o que virá a seguir. Durante duas horas, intercalam-se depoimentos dos participantes (que não podem receber interferências dos outros presentes) e leituras de textos de incentivo. A verbalização da doença, o apoio mútuo e o compartilhamento de experiências são a base do tratamento da associação.

Quem sofre do distúrbio aprende modos de controlá-lo. Recaídas, porém, são comuns. “Trabalhava em uma multinacional e, por isso, tinha facilidade de conseguir empréstimos”, conta o técnico em eletrônica Carlos Macedo, que há dois anos participa das terapias coletivas e desde então se considera equilibrado financeiramente. “Possuía sete aparelhos de TV em casa e cheguei a dever 40.000 reais. Não me sentia bem se não estivesse passando o cartão de crédito na maquininha.”

Com os mesmos fundamentos dos Alcoólicos Anônimos, o grupo estabelece doze passos para vencer o vício, o primeiro deles a admissão do descontrole financeiro. Segundo o contador Maurício Oliveira, ainda com o nome sujo na praça, ele deixou de mentir para sua mãe e não admite mais que seu salário seja consumido por compras desnecessárias feitas sob impulso. “Sozinho, fica muito difícil conseguir vencer o problema.”

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Hospital das Clínicas. Instituto de Psiquiatria. Avenida Doutor Enéas Carvalho de Aguiar, 255, Jardim Paulista, tel.: 3069-6440. Consultas agendadas.

Paróquia Santa Ifigênia. Rua Santa Ifigênia, 30, Santa Ifigênia. Sábado, 16h às 18h.

Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Rua Sampaio Vidal, 1055, Jardim Paulistano. Quinta, 18h30 às 20h30.

*Os nomes dos entrevistados foram trocados

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