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Entrevista com Aloizio Mercadante

Em suas palavras: "O PSDB faz coisas boas, mas para poucos, como as Etecs e Fatecs. A maioria dos alunos da rede pública não vai conseguir entrar nelas"

Por Alessandro Duarte, Mariana Barros e João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h35 - Publicado em 24 set 2010, 23h36

Por que o senhor quer governar São Paulo?

Como governador, sinto que posso fazer muito mais do que fiz como senador. Amadurecemos muito no governo nestes oito anos. Aprendemos a fazer não só coisas boas para poucos, mas melhor e para todos. Essa experiência eu quero trazer para São Paulo.

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Qual o principal desafio do estado e como o senhor pretende enfrentá-lo?

Educação. Quero acabar com a progressão continuada e pagar bem os professores. Não posso falar em valores porque não sei qual a situação das finanças que vou encontrar. E temos primeiro de fazer concurso e dar carreira. Hoje eles são temporários, improvisados, ensinam a disciplina que sobrou. A recuperação salarial é um processo, não se faz do dia para a noite. O mesmo vale para a polícia.

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Destes dezesseis anos de governo do PSDB, o que merece ser mantido?

O PSDB faz coisas boas, mas para poucos, como as Etecs e Fatecs. A maioria dos alunos da rede pública não vai conseguir entrar nelas. Conversei com o reitor da Unesp sobre uma proposta de fazer um câmpus na Zona Leste, em que só ingressaria quem mora lá. Seria preciso pegar a criança desde o ensino fundamental e prepará-la. Criar uma universidade em que só passem alunos de outras regiões, como a USP Leste, é irracional. Até porque os estudantes de classe média, que são os que conseguirão entrar, vão levar uma hora e meia de carro para chegar lá. Falta uma visão integrada.

É possível construir metrô em São Paulo mais rapidamente do que está sendo feito hoje?

Pretendo construir 30 quilômetros. Vamos ter a Copa e a Olimpíada. Haverá dinheiro para investir. Estamos perdendo tempo. Nem definiram qual será o estádio da abertura. Todos os estados do Brasil estão se preparando para a Copa e São Paulo ainda não colocou um tijolo.

Quanto ao metrô, o senhor esteve ausente nas aprovações de verba para São Paulo no Senado. Por quê?

Faltei três vezes em oito anos de mandato. Duas por cirurgia e uma para o lançamento da minha campanha em São Paulo. E votação de empréstimo é por acordo. Quem faz o acordo é o líder, que era eu. Em todas essas votações, fui eu que fiz o acordo.

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Como diminuir o preço dos pedágios se há contratos em vigência?

Quando há desequilíbrio financeiro, os contratos podem ser renegociados. Há um abuso tarifário. Isso está prejudicando a economia.

O senhor poderia explicar seu projeto de cobrar conforme o trecho percorrido?

Isso já existe no Chile, na Europa e nos Estados Unidos. É mais ou menos como o sistema Sem Parar. No Chile, é um portal eletrônico: o motorista atravessou, começa a ser cobrado. É possível fixar tarifa cheia na hora de pico e uma menor fora do pico, regulando o trânsito. Como o pedágio aqui é abusivo, se você for a Extrema, em Minas Gerais, ou a Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, verá os polos industriais que se formaram na nossa divisa. São Paulo está perdendo investimento.

O senhor falou que criaria convênios com clínicas e laboratórios particulares. Eles seriam pagos pelo que cobram ou de acordo com a tabela do SUS?

O horário noturno é ocioso. Um aparelho de radioterapia custa de 3 a 6 milhões de reais. Para ter um equipamento disponível no estado, vai demorar. Então, nessa transição, nessa urgência, vamos fazer convênios onde existem esses equipamentos. Esses estabelecimentos não podem cobrar o preço normal, porque o aparelho já está amortizado nos preços do horário comercial. Serão pagos de acordo com o SUS.

Outra proposta sua é separar os presos conforme o crime que cometeram. Como?

Dividindo-os entre primários, reincidentes, perigosos e chefes do crime organizado. Para os dois primeiros níveis, oferecer trabalho e educação como forma de progressão de pena. E aumentar a pena em até dez anos a quem pertencer a uma facção.

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Como comprovar esse envolvimento?

Ministério Público, inquérito policial.

O senhor propõe acabar com a progressão continuada. Como equacionar a convivência de estudantes com idades muito diferentes na mesma sala e o desestímulo dos que repetiram o ano?

O jovem só vai descobrir que foi reprovado quando tentar entrar no mercado de trabalho. Não há caminho de volta. O melhor era ter ficado mais tempo na escola e aprendido. Claro que o principal é evitar repetência ao máximo, por isso tem de haver reforço.

Por ser um dos fundadores do PT, parte da população o identifica à ala antiga do partido, em que José Dirceu, protagonista do escândalo do mensalão, permanece influente. Acha que há pessoas que não votam no senhor por causa disso?

Nesse episódio eu não tive nenhuma participação, mas que prejudicou a história do PT, prejudicou. Hoje o PT é o partido com maior preferência popular, mas acho que há uma rejeição. O partido tem trinta anos, mais de 1,5 milhão de filiados, oito anos de governo, claro que tem problemas. Porém, a obra que construímos, um país que cresce, é muito maior do que os erros cometidos.

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Os fins justificam os meios?

Nunca, para nada. É um aprendizado. É preciso superar, ter humildade de reconhecer e construir procedimentos que evitem que isso possa se repetir.

O PT conseguiu fazer isso?

Temos um mecanismo, que acho que é o único entre os partidos brasileiros e que é a razão de nossa grande força: a democracia interna. Os dirigentes são eleitos. Isso dá força à militância e permite ao partido estar sempre se renovando e se aperfeiçoando.

O episódio dos “aloprados” não contribuiu para reavivar a imagem de corrupção trazida pelo mensalão?

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Foi outro erro grave cometido e naturalmente nos prejudicou. Eleitoralmente, prejudicou em 2006 a campanha do Lula e a minha. No entanto, as acusações contra mim nesse caso foram arquivadas.

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