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Astral & Animais

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 18h57 - Publicado em 18 fev 2010, 17h41

Minhas aulas de ioga são acompanhadas por dois alunos: eu e meu gato Merlin. Basta Guilherme, meu atual professor, entrar no elevador no térreo para Merlin esticar o rabo e arquear o dorso. Sobe as escadas e é o primeiro a estender-se no tapetinho, ronronando. Tento realizar as posturas: giro a cabeça, estico uma perna, estendo o braço, me contorço. E gemo! Merlin inventa suas próprias posições. Deita de barriga para cima, ergue as patinhas, torce o corpo. Dá um show. Como diz o professor, “gatos já nascem mestres de ioga”, mas normalmente Merlin é muito arisco. Não faz charme para vi sitas nem deixa ninguém pegá-lo. É como se Merlin quisesse compartilhar da harmonia que a ioga me proporciona. Mesmo quando medito sozinho em minha poltrona, ele se aproxima e fica se entrelaçando às minhas pernas. É um adepto do alto astral! Shiva, minha gata, tem comportamento semelhante, mas em situações opostas. Passa os dias dormindo. Não é muito “dada”, como costumam dizer. Basta eu me refugiar no quarto chateado ou um pouco deprimido que ela aparece, solidária. Deita-se o mais próximo possível e me encara com seus olhos verdes, como se dissesse: “Estou tomando conta de você!”. Fica todo o tempo perto de mim, até eu me sentir melhor. Nenhuma palavra precisa ser dita. Ela sabe quando é hora de me fazer companhia.

Sempre acreditei que os bichos têm sentimentos. Mas agora eu sinto que há algo mais: uma capacidade de entendimento emocional inexplicável. Tenho três cachorros, atualmente na minha casa da granja: Isis, Morgana e Kauê. Se estou alegre, fazem festa. Se triste, deitam-se e ficam me olhando. Eles gostam de televisão. Quando vou para o escritório trabalhar, deixo a TV ligada. Ficam os três no sofá, interessadíssimos. De tempo em tempo, um deles vem até mim, me olha no computador, abana o rabo e vai embora. “Bom trabalho!”, parecem dizer. Quando algum amigo vem me visitar, muito antes do barulho do carro, os três correm para o portão. Como sabem?

Uma amiga contou que sua cachorra se aninhou num canto gemendo, horas antes de ela própria receber a notícia do falecimento da mãe. Outra tem um cachorro que “sabe” quando ela vai sair de viagem. Já me aconteceu, durante um passeio, há alguns anos, de meu cachorro tomar uma atitude esquisita: corria para a frente latindo, vinha até mim e disparava de volta. Queria me “mostrar” alguma coisa. E eu o segui de volta para casa, onde minha mãe começara a passar mal. Certa vez, um vizinho resolveu se mudar de cidade e deixar a cadela para um conhecido. Quando viu os móveis ser colocados em um caminhão, ela se deitou com o rabo entre as pernas, gemendo sem parar. Quando faz alguma coisa errada, o cachorro também é o primeiro a se denunciar. Tive um que escavava as plantas. Em uma ocasião, no momento em que olhei na varanda e peguei uma raiz arrancada, ele me olhou e saiu correndo para se esconder. Nunca bato em animais. Mas ele sabia que eu estava furioso. E que vinha bronca!

Há muito tempo estive no México durante um terremoto acompanhado da erupção de um vulcão. Voltava de uma viagem com uma amiga quando ela observou:

— Estranho! Não ouço um pio de pássaro, um latido! No dia seguinte, ocorreu a tragédia. Gatos, cachorros, todos os bichos, enfim, são capazes de compartilhar emoções sem a necessidade de palavras. Quem convive com algum animal vai concordar comigo. E confirmar como é bom sentir esse olhar de solidariedade que só os bichos sabem oferecer.

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