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Abelardo Figueiredo tem sua história contada em livro

Conheça melhor O produtor que ajudou a fazer de São Paulo um espetáculo em história contada por volume com mais de 300 fotos

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Um homem da noite que não passa da segunda dose de uísque, jamais fumou, gosta de dormir cedo e vai à missa aos domingos. Essa imagem não corresponde ao estereótipo do boêmio. Mas Abe-lardo Figuei-redo, que com energia e criatividade a-ju–dou a fazer de São Paulo um espetáculo, tem exatamente tal perfil. Produtor de musicais e diretor de redutos históricos da badalação entre as décadas de 60 e 80, como o Urso Branco, O Beco e o Palladium, ele é um dos responsáveis pela profissionalização do showbiz brasileiro. Parte de sua trajetória, agora, chega às livrarias em Abelardo Figueiredo – O Show Não Pode Parar (Sapucaia, 368 páginas, 130 reais). Organizada por uma de suas duas filhas, a jornalista Mônica Figueiredo, a obra reúne mais de 300 imagens e repassa um personagem que, aposentado, olha o passado para alimentar o presente.

Fluminense de Niterói, aos 10 anos ele já burlava a resistência dos pais para assistir aos shows no Cassino Icaraí, em sua cidade natal. Entrava escondido e, debaixo de uma mesa, encantava-se com o luxo e o talento dos artistas. Circo, cinema, teatro ou balé, tanto fazia. Queria passar o resto da vida no meio daquela gente. Obstinado, Abelardo nunca esperou nada acontecer. Fazia a hora. Aos 17 anos, assinou sua primeira produção, Fantasia, e três anos depois, convidado pela amiga de infância Nicette Bruno, assumiu a administração de sua companhia teatral em São Paulo. Foi secretário e produtor do grupo, além de bancar o cupido no recém-iniciado flerte da atriz com o ator Paulo Goulart, que está casado com ela há 54 anos. “Fui eu também que lhe apresentei Laurinha e, no meu casamento, ela pegou o buquê”, conta Nicette, lembrando que, cinco meses depois, ele subiu ao altar com Laura Pereira da Silva.

Convidado pela prefeitura, Abelardo assumiu em 1954 o Ballet do IV Centenário de São Paulo e, durante um ano e meio, administrou bailarinos do Brasil, da Argentina e da Itália. “Foi uma senhora virada”, define ele, que, em seguida, fundou o Ballet do Museu de Arte de São Paulo, patrocinado pelo magnata da imprensa Assis Chateaubriand, criador do Masp. Chateaubriand não demorou a levá-lo para a TV Tupi. Lá, entre outras proezas, Abelardo conseguiu contratar o ator Paulo Autran, já então avesso ao vídeo, para apresentar o Erontex Show, um game de perguntas e respostas com prêmios em dinheiro.

Premiado mesmo quem se sentia era Abelardo. Anfitriã por vocação, sua mulher adorava a casa cheia. Artistas como Ronaldo Bôscoli, Elis Regina, Maysa, Claudette Soares e Wilson Simonal encerravam as apresentações em O Beco e batiam ponto na casa dos Figueiredo, na Rua Atlântica, no Jardim América, sempre literalmente aberta. As portas jamais eram chaveadas. Abelardo dormia mais cedo. Laurinha, notívaga, cumpria o papel até o último convidado se retirar ou apagar no sofá, como Vinicius de Moraes fez uma vez. Essa intimidade nunca tornou menos profissional a relação com suas estrelas. No Palladium, que ele comandou no Shopping Eldorado entre 1985 e 1990, um orgulho do produtor era oferecer trabalho a talentos fora da mídia. “Durante anos, os espetáculos de Abelardo foram as únicas opções para grande parte da classe artística paulista”, lembra o autor Silvio de Abreu, que chegou a homenageá-lo na novela Belíssima.

Diante de tantas histórias, passaram-se oito anos entre a idéia de escrever uma biografia e o primeiro exemplar impresso. “Queria que o leitor se sentisse como qualquer amigo sentado na varanda, batendo um papo”, diz Mônica, que levou o pai para viver ao seu lado logo depois da morte de Laurinha, em 2001. Mesmo após dois acidentes vasculares cerebrais, Abelardo não se entrega. Não perde um show de Maria Bethânia e se deliciou com o musical My Fair Lady. Agora, pretende ver West Side Story. Não é raro, ao assistir aos DVDs de Elis Regina, deixar escapar um grito de “bravo”. Aos 76 anos, ele diz que sente a mesma emoção, uma sensação de embriaguez, quando vê a platéia escurecer e o artista ser iluminado.

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