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A rede do bem: ONGs que dedicam tempo e carinho a adolescentes pobres de São Paulo

Muito mais que dar esmola ou fazer sacolinhas com presentes de Natal, os voluntários e profissionais das 335 ONGs conveniadas pela prefeitura cuidam das 61 500 crianças e adolescentes pobres que atendem. A seguir, os exemplos de dez instituições que estão entre as maiores e melhores da cidade

Por Camila Antunes
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Novo nome para uma velha idéia

Já que o nome Liga das Senhoras Católicas ficou associado a chás, bazares e desfiles beneficentes, o jeito foi trocá-lo. Duas semanas atrás, a entidade criada há 84 anos por um grupo de damas paulistanas passou a se chamar Liga Solidária. De quem foi a idéia? Da dupla Xinha D’Orey Espírito Santo (atual presidente) e Carola Matarazzo (sua vice). Elas iniciaram o processo de modernização da Liga em 1997, quando assumiram a coordenação do Educandário Dom Duarte, uma antiga fazenda próxima à Rodovia Raposo Tavares. Ali, em dezessete casarões de estilo colonial, funcionam creches, centros de recreação, abrigos e núcleos de profissionalização para 1?320 crianças e adolescentes. “O atendimento era autoritário e assistencialista. Sem falar no amadorismo administrativo”, diz Xinha, paisagista que hoje se dedica exclusivamente ao projeto. “Se a tesoureira só podia assinar cheques às sextas-feiras, todo mundo tinha de esperar.”

Para reverter esse quadro, a primeira providência foi contratar uma consultoria da multinacional PricewaterhouseCoopers. Nascia aí um modelo de gestão. Um software desenvolvido para as equipes administrativas das doze unidades se comunicarem- – além da parte filantrópica, a Liga Solidária mantém dois colégios particulares, duas residências para idosos e dois flats – facilitou a organização e o controle de uma numeralha sem fim. Dois exe-cutivos passaram a compor a diretoria e, nesse ambiente mais profissionalizado, os resultados começaram a aparecer. Seu orçamento anual é de 24,7 milhões de reais: um terço vem de convênios públicos e o restante de doações, parcerias e receitas próprias. A Camargo Corrêa, por exemplo, bancou a reforma do Educandário, que custou mais de 2 milhões de reais. Outras beneméritas ajudam a pagar as bolsas de estudo universitário que a Liga oferece a 71 de seus 690 funcionários. “O resultado desse investimento está estampado no rosto das nossas crianças”, diz Carola.

Organização: Liga Solidária

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 1 320

Principais ações: creches, abrigos para órfãos ou desamparados e atividades socioeducativas para estudantes carentes

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Contatos: 3873-2911 e https://www.ligasolidaria.com.br

O padre abre-alas de Itaquera

Quando a Obra Social Dom Bosco de Itaquera foi fundada, há 26 anos, na Zona Leste, os conjuntos habitacionais e as ocupações irregulares eram raridade por ali, mas a miséria e a criminalidade faziam estragos na região. “As ruas eram de terra e uma das primeiras atividades que eu propus às crianças foi criar uma horta e vender as verduras pelo bairro”, lembra o padre de origem espanhola Rosalvino Vinãyo, um dos criadores da Pastoral do Menor. Na época, ele servia refeições na hora do almoço numa casinha ao lado da Paróquia Nossa Senhora de Aparecida. Não demorou para o lugar se tornar ponto de encontro dos moradores do bairro. Como no Carnaval as crianças ficavam batucando por lá, o padre Rosalvino resolveu transformar o samba numa proposta educativa. Foi assim que surgiu o “projeto barracão”, com oficinas de percussão e de confecção de adereços e fantasias.

Em 2008, a Escola de Samba Dom Bosco, que pertence ao terceiro grupo da União das Escolas de Samba, terá como tema a força da mulher negra. O padre deve dar o grito inicial, tradicionalmente seguido de um pai-nosso. Seu projeto barracão é uma entre as diversas atividades oferecidas pela Obra Social Dom Bosco, que, com 45 voluntários, atendeu neste ano 12?000 crianças e adolescentes – 280 moram nas casas mantidas pela entidade. Os serviços oferecidos vão desde curso de marcenaria até tratamento odontológico (80% dos custos são bancados pela prefeitura). “Somos uma casa aberta ao povo da Zona Leste”, diz ele, uma das figuras mais populares e queridas de Itaquera. “Prefiro agir a rezar.”

Organização: Obra Social Dom Bosco

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Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 12 000

Principais ações: atividades culturais, esportivas, artísticas e profissionalizantes. Abrigos para 280 crianças em situação de risco ou em liberdade assistida

Contatos: 6205-1100 e https://www.domboscoitaquera.org.br

Talento inato? Não, oportunidade

Maria Zenobia Duch é uma profissional do terceiro setor como não existia até pouco tempo atrás. Primeiro, pelo fato de ela ter uma pós-graduação no tema pela Fundação Getulio Vargas. Segundo, porque não possui ligação afetiva com as comunidades para as quais trabalha. Não tem sobrenome judaico, o que a aproximaria de seus mantenedores, nem superou um passado humilde, como o da família de seus protegidos. Há 31 anos na coordenação das creches e oficinas recreativas da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes), ela é dona de um estilo seco e eficiente, como de uma boa diretora de escola. Diz que revelar talentos não é seu objetivo. Mas eles surgem espontanea-mente quando lhes é dada uma oportunidade.

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Ela aponta alguns dos alunos que mais a orgulham. Estão reunidos na foto abaixo. Tiago Nascimento, de 17 anos e camiseta branca, formou-se na oficina de música e foi contratado como monitor. Ganha um salário mínimo por seu trabalho e dedica-o integralmente às prestações de sua própria bateria. Caroline Costa, 15, já aprendeu violino e flauta. Agora se inicia no saxofone. “Quero experimentar tudo na música e nas artes e, aí, decidir o meu futuro”, diz. Seu colega Paulo Pinheiro, na foto sentado sobre a maleta do trombone, aos 14 anos está decidido a perseguir carreira musical. Filho de um pedreiro e de uma faxineira, sonha com o dia em que ingressará numa orquestra para valer. Ivan Pereira escolheu outro caminho: vai jogar futebol profissional. Indicado por seu técnico no time da Unibes, ele fez testes no Corinthians, no São Caetano e na Ponte Preta (deve ingressar no time de Campinas). A caçula do grupo, Taís Barbosa, de 9 anos, ilustra os benefícios de outro importante trabalho da ONG: com as aulas de reforço escolar, conseguiu passar de ano na escola sem ficar de recuperação. “Quero ser advogada”, conta, consciente de que terá de estudar para superar as dificuldades financeiras que sua família atravessa. Taís vive num quarto de pensão, com os pais e dois irmãos. “A jornada de estudo ampliada é a saída para deficiências sociais e também escolares do país”, afirma o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro. Há muito tempo Maria Zenobia acredita e trabalha para isso.

Organização: União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes)

Número de pessoas atendidas: 1 740

Principais ações: creches, atividades culturais e esportivas, capacitação profissional e abrigos para idosos da comunidade judaica

Contatos: 3311-7300 e https://www.unibes.org.br

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Trinta adoções em dez anos de experiência

Das vinte crianças de até 10 anos que vivem no abrigo Nosso Lar II, na Vila Matilde, Zona Leste, apenas duas mantêm contato com a família. Os outros dezoito garotos são completamente negligenciados por seus pais ou foram proibidos de vê-los depois que o juizado interveio numa situação de abuso, violência ou maus-tratos, em geral decorrente do uso de entorpecentes. “São esses os casos que costumam ser encaminhados para adoção”, conta a gerente Rosana Jobbagy, que freqüenta sessões espíritas e crê que o sofrimento faz parte da evolução. Assim fica mais fácil conviver com os dramas dos menores que atende em um dos seis abrigos mantidos pelo Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar espalhados pela cidade. Rosana calcula já ter cuidado de 500 crianças desde 1997, quando começou a trabalhar em abrigos infantis. Nesse mesmo período, ela acompanhou somente trinta processos de adoção. “Faltam candidatos querendo adotar grupos de irmãos ou crianças doentes”, diz. “Cada vez que uma criança tem febre, eu me preocupo como se fosse um dos meus três filhos.”

Organização: Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 2 385

Principais ações: creches, rede de seis abrigos e núcleos socioeducativos para crianças de baixa renda

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Contatos: 6965-2576 e https://www.capsnossolar.org.br

Oitenta trocas de fralda por dia

O coração da “educadora” Fátima Rufino fica apertado toda vez que um assistente social cruza o portão da Casa Bakhita levando um bebê no colo. Ela sabe que não verá mais a criança de que ajudou a cuidar durante dois meses. Com uma auxiliar, Fátima trata de doze recém-nascidos – o que inclui oitenta trocas de fralda e sessenta mamadas por dia. Os menores encaminhados ao abrigo têm em comum um início de vida muito difícil. “São abandonados em hospitais ou maltratados por seus pais. Filhos de usuários de drogas ou ainda filhos de moradores de rua que os negligenciam”, explica. Todos foram destituídos da família por ordem judicial.

Coordenada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social em conjunto com a ONG Nossa Senhora do Bom Parto, a Casa Bakhita, criada em 2006 no bairro do Belém, na Zona Leste, foi o primeiro abrigo da cidade para crianças de até 6 anos. “Atendemos aos casos de emergência e em dois meses devemos encaminhar a criança para adoção ou outras instituições. Se for possível, ela retornará para sua família”, diz a assistente social Vera Volpato. Esse trabalho, claro, é articulado com o juizado da vara da infância.

Atualmente, a Casa Bakhita abriga 22 bebês. Os que estão na fase de engatinhar passam boa parte do tempo na sala, espalhados sobre um edredom, vidrados com a televisão ou brincando com os bichinhos de pelúcia e bonecos coletivos. Os menores ficam na edícula da casa, onde foi montado um berçário, sob os cuidados de Fátima e de outra educadora. Apesar de ter apenas o ensino médio completo, Fátima sonha com o dia em que fará jus ao título profissional pelo qual é reconhecida. “Vou estudar pedagogia”, afirma. Já fez as provas do Enem, com o objetivo de adicionar pontos para os vestibulares, e vai pleitear uma bolsa de estudos. Os 700 reais que ganha por mês na Bakhita não são suficientes para pagar a faculdade. Mas Fátima, que tem dois filhos criados e experiência numa indústria metalúrgica, não troca seu emprego por nada. “Gosto muito do que eu faço. Mesmo sabendo que essas crianças estão aqui de passagem, é impossível não se apegar a elas.”

Organização: Nossa Senhora do Bom Parto

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 7 350

Principais ações: abrigos para crianças em situação de risco e atividades pós-escola para estudantes de baixa renda

Contatos: 6696-3200 e https://www.acolhe.org.br

O ET do Vale do Anhangabaú

A meninada que vive no Vale do Anhangabaú conhece o psiquiatra Auro Lescher pela alcunha de ET. E foi ele mesmo quem se batizou assim, ao abreviar o título “educador tridimensional”. Inquieto ao ver tantos jovens viciados andando nas vias de São Paulo, Lescher resolveu, em 1996, estender para as ruas sua experiência no tratamento de dependentes químicos em consultório particular. Reuniu um grupo de colegas e de estudantes de medicina e psicologia (a maioria da Universidade Federal de São Paulo, à qual ele é vinculado) e passou a fazer visitas periódicas à Cracolândia e a outros pontos de consumo de drogas do centro. O objetivo era criar uma relação de confiança para que os jovens aceitassem ajuda e saíssem das ruas. “Muitas vezes, o vínculo se inicia de maneira silenciosa, como, por exemplo, quando eu fico ao lado enquanto ele usa crack”, conta Lescher, que agora está mais envolvido na etapa posterior do processo, em que as crianças começam a se abrir na terapia. Os doze ETs que ele coordena (contratados pela prefeitura para o trabalho a pouco menos de 1 500 reais por mês) sustentam que, para a população de rua, o uso de drogas não é uma questão de mania ou de fraqueza, como se costuma dizer. A cola e o crack fazem parte de um circuito de sociabilidade, além, é claro, de servir de anestésico para a dor, a fome e o frio. “Crianças de rua são como quixotes que brigam diariamente pela sobrevivência”, diz o médico.

Resgatar nesses jovens a vontade de ter uma mãe e um lar é o grande trabalho dos ETs. Quando isso acontece, eles são encaminhados para um Centro de Referência da Criança e do Adolescente (Creca), mantido pela prefeitura. Trata-se de um abrigo temporário, que guarda mais semelhanças com a rua do que com uma casa, por causa da dificuldade de impor regras aos adolescentes nesse início de tratamento. No Creca do Bixiga, eles gritam, cantam funks do gênero “proibidão”, escalam o muro e destroem tudo o que conseguem, dos brinquedos às maçanetas e beliches. Lescher não se abala com a confusão- – e deixa que eles baguncem enquanto posa para a foto. “Só conhecendo a história de cada criança para entender por que elas agem assim”, diz.

Organização: Projeto Quixote

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 900

Principais ações: convencer crianças e adolescentes a sair da rua para depois ser reintegrados à família ou encaminhados a um abrigo

Contatos: 5572-8433 e https://www.projetoquixote.org.br

Uma criança a menos na rua

Em 2005, ao assumir um projeto para crianças de rua a pedido do secretário das Subprefeituras, Andrea Mata-razzo, a psiquiatra Sandra Scivoletto mapeou a rede assistencial que já as atendia. Encontrou 184 ONGs cuidando de 360 menores que vivem no centro de São Paulo. “Muita gente ganha dinheiro explorando a miséria”, diz. Ela percebeu também que seria preciso coordenar os trabalhos para dar alguma alternativa mais sedutora que a rua onde supostamente os jovens têm liberdade para fazer o que lhes dá prazer e (principalmente) não fazer o que consideram chato: estudar, seguir regras, discutir a relação com a família e trabalhar emoções que lhes são muito dolorosas.

Sua idéia, então, foi criar uma “central de tratamento”. Nasceu assim o Programa Equilíbrio, que desde setembro funciona num antigo clube na Barra Funda. No espaço (que tem quadra, parquinho, salas de aula, consultórios e uma piscina em reforma), equipes de médicos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e voluntários trabalham juntas. A contrapartida dos atendidos é dormir nos abrigos e de lá seguir direto para o Equilíbrio, sem pit stop na rua. Fazê-los seguir esse caminho não é tarefa fácil: “Os jovens têm saudade dos amigos e sentem falta do efeito das drogas”, explica Sandra, que tem um celular para o qual eles ligam quando fraquejam. “É preciso que a criança volte a sonhar para entregar-se ao tratamento.” Com 40 anos, um título de doutora no currículo e experiência nos Médicos sem Fronteira (organização internacional que atende vítimas de conflitos, catástrofes e epidemias), a psiquiatra tem orgulho mesmo é da evolução de seu pupilo Alef Bezerra da Silva, de 14 anos. “Um padre o havia encontrado em surto e me chamou para acudir”, lembra. Depois de um intenso trabalho em duas frentes – para tratá-lo e preparar sua família para recebê-lo –, Alef passou a viver novamente com a mãe, Rosenilda, após dois anos na rua. Tem ajudado a tomar conta de sua irmã recém-nascida. “Voltei à escola e passei para 6ª série”, conta o garoto.

Organização: Programa Equilíbrio

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 92

Principais ações: coordenar trabalhos de ONGs, de abrigos e de profissionais da saúde a fim de desenvolver um projeto de vida para meninos retirados das ruas

Contato: 3392-5624

O mestre de Capão Redondo

Às terças e quintas-feiras, o campeão mundial de judô peso leve na categoria master 5 (entre 50 e 54 anos) Jiro Aoyama dá aulas a crianças moradoras de Capão Redondo. O bairro é conhecido por sua concentração de favelas e conjuntos habitacionais, além da criminalidade (registra historicamente um dos dez mais altos índices de São Paulo). Dono de uma academia no Grajaú onde há piscina aquecida, tatame limpinho e 300 alunos que pagam até 78 reais de mensalidade –, mestre Aoyama se dá ao trabalho de dividir o tempo com 230 jovens carentes numa sala onde um tapete de borracha se improvisa em tatame. “Eles são os que mais tiram proveito das lições do judô”, afirma. Embora algumas famílias ainda pensem que a luta incita a violência, aos poucos o judoca consegue convencê-las de que não é bem assim.

Aoyama é duro na cobrança da pontua-lidade e do respeito entre seus alunos. “Ele apenas releva a falta do quimono, porque alguns não têm dinheiro para comprá-lo”, diz Ana Maria Volante, mãe do pequeno Guilherme, de 5 anos, que aparece na foto aplicando um golpe no professor. Para freqüentar suas aulas, os alunos que têm condições contribuem com 10 reais por mês. Esse valor paga o lanche que eles recebem no fim do treino (pão com patê, banana e suco) e ainda ajuda a entidade, que atende mais de 2 400 crianças e adolescentes em seis regiões de São Paulo, chamadas de pólos. No pólo Sul, onde Aoyama dá aulas, a piscina de 20 metros é a única das redondezas e vive cheia. A quadra poliesportiva é disputada por grupos de terceira idade, adultos e jovens. A Associação Evangélica Beneficente tornou-se um verdadeiro clube de Capão Redondo. E Jiro Aoyama, o exemplo do caráter que faz um campeão.

Organização: Associação Evangélica Beneficente

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 2 460

Principais ações: atividades esportivas, artísticas e profissionalizantes. Abrigos para 280 crianças em situação de risco ou em liberdade assistida

Contatos: 3151-5400 e https://www.aeb-brasil.org.br

Para abrir a cabeça dos jovens

Para a escritora e jornalista Es-meralda do Carmo Ortiz, de 28 anos, o curso de audiovisual da Novolhar foi o encontro de sua vocação. Ela tinha urgência em encontrar um trabalho para se sustentar. Prestes a completar 18 anos, teria de deixar o abrigo onde viveu por pouco tempo, depois de quase uma década de sobrevivência na Praça da Sé. Esmeralda fugiu de casa aos 8, pois não agüentava mais ser espancada pela mãe, alcoólatra. A ilusão da vida livre durou pouco. “Tomei tiros, levei facadas e sofri abusos sexuais”, conta. Aprendeu que na rua havia três leis de convivência: “Não pode cagüetar, roubar do amigo ou estuprar”. Essas memórias estão reunidas no livro Esmeralda, Por que Não Dancei, escrito em 2000. Corajosa, ela conta página por página que foi maltratada na Febem, viciada e traficante. “Cheguei a um ponto em que ia morrer logo”, diz.

Foi na Novolhar que Esmeralda encontrou sua vocação: comunicar-se. Envolveu-se em produções para o canal universitário TV PUC, experiência que a credenciou a pleitear uma bolsa na Universidade Anhembi Morumbi. Por sua coragem e vontade de aprender, tornou-se referência para os jovens que a sucederam – e nunca deixou de participar das ONGs que a ajudaram. Atualmente, Esmeralda está envolvida na produção de uma série de reportagens para a Novolhar. Mas tem outros planos para 2008: estudar antropologia em Luanda, Angola. O sucesso de Esmeralda – e de outros garotos com história parecida com a dela – dá ânimo ao jornalista Paulo Santiago, diretor da Novolhar. “Trabalhamos com comunicação porque abre a cabeça.”

Organização: Novolhar

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 605

Principais ações: cursos de técnicas audiovisuais para crianças carentes e para internos da Fundação Casa (antiga Febem)

Contatos: 3459-0688 e https://www.novolhar.org.br

Ela é aluna e também professora

A jovem Thais Pinheiro, de 15 anos, faz aquele tipo de aluna que detesta tirar notas inferiores a 10 no boletim. “Quem tem preguiça de estudar sonha pequeno”, diz ela. De origem humilde, filha de uma diarista e de um motoboy, ela quer ser jornalista. Como sabe que a disputa na universidade gratuita é concorrida, e as mensalidades nas particulares são caras, traçou um plano: vai trabalhar como atendente de telemarketing ou secretária até sair com o diploma na mão. Thais começou a se preparar para o primeiro emprego no curso de gestão empresarial da Sociedade Benfeitora Jaguaré, fundada em 1958 por empresários ligados à fundação internacional Rotary Club. Por meio do curso, tem adquirido noções de comunicação ao telefone, de arquivamento e de outras tarefas realizadas por um auxiliar de escritório.

Mas Thais não é apenas aluna na Benfeitora, como a ONG é conhecida. Ela é também professora. Dá aulas de reforço escolar a crianças e adolescentes em fase de alfabetização. “Tenho alunos de 7 a 14 anos, e eles apresentam as mesmas dificuldades”, conta a garota. Sua participação na Sociedade Benfeitora Jaguaré tem sido importante ainda em outro aspecto: o da convivência social. Ela integra o comitê de alunos que organizam festas. No dia das bruxas, em outubro, conseguiu atrair mais de 500 pessoas para a comemoração, que teve DJ e terminou depois da meia-noite. O dinheiro arrecadado foi em parte usado para comprar brinquedos de Natal para as crianças menores. Assim é tecida a trama da rede do bem.

Organização: Sociedade Benfeitora Jaguaré

Número de crianças e adolescentes atendidos em 2007: 834

Principais ações: creches e oficinas de preparação profissional em parceria com o Senai

Contatos: 3768-0552 e https://www.benfeitorajaguare.com.br

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