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Como é a vida dos empresários que comandam as baladas top de SP

Sócios de casas como Museum, Café de La Musique, Buddha Bar mostram como a vida pode ser uma festa

Por Alvaro Leme
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Numa das mesas do Cafe de la Musique, o empresário Leo Ribeiro fala sobre seus cuidados com a imagem. “Tenho tentado me livrar da fama de mulherengo”, conta ele. Alheia à conversa mole, uma loira escultural surge para cumprimentá-lo, quase no mesmo instante. Os dois conversam por uns segundos, dengosinhos, enquanto a moça acaricia os cabelos dele. Ao pé do ouvido, parecem combinar um lance para mais tarde ou algo assim. É quinta-feira no point da juventude dourada de São Paulo, no Itaim. Ribeiro, um dos sócios da casa, integra a mais recente geração de empreendedores que, à frente de bares, restaurantes e boates, dividem o trono outrora ocupado pelos reis da badalação paulistana José Victor Oliva, Ricardo Amaral e Giancarlo Bolla. São os novos príncipes da noite, dedicados a receber o público, como eles, endinheirado e disposto a esvaziar suas polpudas carteiras na farra.

Ribeiro possui 5% do Cafe, mais 15% da filial em Florianópolis. Apesar de relativamente modesta, sua fatia é suficiente para que desfrute um estilo de vida invejável. Dirige um Toyota Corolla 2007 (“não chama atenção”), vive num apartamento próprio de dois quartos nos Jardins, onde acomoda sua coleção de quinze relógios de marcas que vão de Swatch a Rolex. “E sempre está com alguma loira sensacional do lado”, conta um amigo. Só veste roupas de grife. “Ganho bastante coisa. Outro dia, a Volkswagen deixou comigo um carro, em comodato, porque circulo por lugares legais”, afirma. Adora Dolce & Gabbana, Calvin Klein e Prada. Das nacionais, Iódice e Sergio K. Esta última, aliás, parece onipresente nos closets dessa rapaziada. “Donos de casas noturnas são formadores de opinião”, diz o estilista proprietário da marca, Sergio Kamalakian, que costuma dar a figuras como eles desconto de 20%. “Muita gente chega à loja interessada em comprar a mesma camisa com que um deles apareceu numa coluna social.”

Simpático, disposto a responder sobre quase tudo, Ribeiro fecha o bico quando o assunto é dinheiro. Traço comum a todos os outros personagens desta reportagem. Ninguém revela seus rendimentos, comissões e afins. Mas não é difícil fazer um cálculo aproximado. No caso do Cafe, por exemplo, são 1.000 pessoas por semana, que gastam em média 90 reais, resultando num faturamento de 90.000 reais. Ou seja, 360.000 reais brutos por mês. Com uma margem de 20% dá um rendimento líquido de cerca de 70.000 reais. Parece pouco, levando-se em consideração o estilo de vida que têm. Mas o tilintar da caixa registradora soa para valer por causa de outra fonte de renda, muito mais caudalosa: os patrocínios. O maior patrimônio de uma top balada é sua clientela. Como abelhas no mel, um enxame de empresas procura expor sua marca para esses freqüentadores, considerados a elite da elite. “Se o consumidor descobre um novo produto durante uma festa agradável, aquilo fica marcado como um momento mágico”, explica José Victor Oliva, com a experiência de quem comandou catorze casas milionárias nas décadas de 80 e 90.

Um caso que chama atenção é o do Buddha Bar. Franquia gastronômica presente em Paris, Nova York, Dubai e Beirute, corre com as obras para a inauguração, em dezembro, na Daslu. Valor do investimento: 4,5 milhões de reais. Só para trazer da Tailândia a enorme estátua de Buda, de 580 quilos e 4 metros de altura, que enfeitará o salão foram gastos 110 000 reais. Parceiros pesos-pesados garantem o sucesso do negócio, com cotas de patrocínio mínimas de 150.000 reais. Nessa lista encontram-se Visa, Procter & Gamble e Mercedes-Benz. A Diageo, dona de marcas como Johnnie Walker e Smirnoff, pagou 400.000 reais, em dinheiro e em produtos, pela exclusividade de vender suas bebidas na casa. “Para qualquer empresa, representa a chance de estar 100% perto do consumidor que mais nos interessa”, afirma Karina Guarita, gerente de comunicação de outra fabricante, a Moët Hennessy, dos champanhes Dom Pérignon e Veuve Clicquot.

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Em geral, essa moçada fica arredia se o assunto são seus casos, rolos, tico-ticos no fubá e amizades coloridas de qualquer espécie. Ao contrário de um dos musos da geração anterior, Rico Mansur – que tem no currículo Gisele Bündchen, Luana Piovani, Isabella Fiorentino, Letícia Birkheuer e, ufa!, Isabeli Fontana –, a maioria namora mulheres pouco conhecidas. Exceto Luigi Cardoso Alves, sócio do Museum, cuja namorada, Fabiana Tambosi, é modelo e estrela uma campanha de xampu. O time dos comprometidos conta também com Rubens Zogbi, detentor de 51% do Buddha Bar, que namora há três anos a dasluzete Ales-sandra Ugolini. “Vamos nos casar em 2008”, promete. Marcos Maria, do japonês Yabany, da Disco e do Bar D’A Rua, está há um ano com a relações-públicas Chris Corchs. Por fim, Dudu Linhares e seus belos olhos verdes fazem um sucesso tremendo entre as mocinhas que freqüentam seu boteco, o Zé Bonito, na Vila Nova Conceição. “As meninas mandam correio elegante pelos garçons”, conta, encabulado. “É um desespero”, desabafa Carla Luque, 23 anos, sua namorada, que jura nunca ter precisado tirar satisfação com nenhuma assanhada. A ala dos solteiros, livres e soltos, por sua vez, é representada por Michel Saad e Marcos Campos, da Disco, além de Leo Ribeiro. Não é por falta de opção. “Sempre vejo os dois rodeados de mulheres bonitas”, entrega a jornalista Joyce Pascowitch. Vem dela, aliás, a explicação de por que onze em cada dez desses rapazes rejeitam a pecha de playboy que costuma recair sobre eles. “Quem trabalha, mesmo na atividade mais prazerosa do mundo, não devia ser tachado assim”, afirma. “Hoje não existe mais o sujeito que vive só da grana dos pais, sem nunca pôr a mão na massa.”

Isso, sejamos justos, todos esses playboys, ops!, empresários fazem. Enge-nheiro civil formado pelo Mackenzie, pós-graduado pela Faap, Michel Saad trabalhou oito anos na construtora e incorporadora de sua família, a Trisul. Atualmente, dá expediente diário no escritório da Disco, de cuja programação é responsável. A transição foi difícil. “Demorou dois anos até meu pai ver que não era uma brincadeira, que eu ganhava dinheiro”, conta. Além de possuir uma agência de eventos que só em 2007 trouxe ao país trinta DJs gringos (15% de cada cachê ficou com ele), cobra 5000 reais para comandar ele mesmo o som em festas e eventos bacanas, por duas horas. No ano que vem, pretende inaugurar seu terceiro empreendimento, o Terrasse. Trata-se de um bar com estilo mediterrâneo, também na Vila Olímpia, cujas obras começam até dezembro. Tanta atividade permite que se dê a luxos como chegar ao trabalho a bordo de um Porsche Carrera 1999, carro que reveza com seu Passat Variant 2004, e que viaje ao exterior, em média, seis vezes por ano. Como adora esquiar, ruma de mala e cuia para Courchevel, nos Alpes Franceses, no Carnaval, e para Portillo, no Chile, em julho. Passa, no máximo, dez dias fora em cada um desses passeios. Falta, porém, ter apartamento próprio. “Ainda não sobrou grana para comprar”, diz ele, que mora num loft alugado no Morumbi.

Não é só Saad que trabalha durante o dia. A grande maioria dos empresários da noite tem outra atividade, que toca como sua principal fonte de renda. São os chamados sócios-investidores, que muitas vezes nem passam perto das boates e, em geral, preferem não aparecer em reportagens e divulgação relacionadas ao negócio. Mas, por que, afinal, uma mesma casa tem tantos proprietários? Existem duas explicações. Primeiro por se tratar de um ramo difícil – a boate da moda de hoje pode ser considerada cafonérrima amanhã. Daí, se várias pessoas investem pouco dinheiro e o negócio afunda, o prejuízo é menor. A outra razão caminha pelo social, como explica Dudu Linhares, do Zé Bonito. “Com dez donos, você tem grupos diversos para encher a casa”, explica. “São mailings que se completam.”

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Por falar em rede de contatos, os sete personagens ouvidos por Veja São Paulo disseram considerar os lugares do agito ótimos para fazer negócios. “Penso no Buddha Bar como um centro de relacionamentos para os negócios que toco durante o dia”, conta Rubens Zogbi, que tem uma empresa de previdência privada e uma financeira. “Ganhar dinheiro aqui é a última coisa que me passa pela cabeça.” Marcos Maria, do Bar D’A Rua, conheceu na balada os parceiros de sua próxima e mais ousada empreitada, a casa noturna Mercato 55, em Nova York, cuja inauguração está prevista para o mês que vem. Tem como parceiros Marcos Campos e a modelo Fernanda Motta (apresentadora do programa Brazil’s Next Top Model), entre outros. “Vamos abrir uma filial em São Paulo no ano que vem.”

Justamente por ter poucos amigos influentes quando resolveu abrir seu primeiro restaurante, em 2002, aos 23 anos, Marcos Maria comeu o sushi que o diabo amassou para o negócio decolar. Filho de um casal de libaneses, cresceu trabalhando com o pai na confecção de jeans da família, no Brás. Formou-se em economia e, quando resolveu trocar a indústria têxtil pelo japonês moderninho Yabany, penou para conseguir patrocínio. “Só quem conhece gente quente no ramo encontra investidores”, diz, escaldado com a experiência. Felizmente o 1 milhão de reais que investiu com os companheiros de aventura deu certo, e o lugar virou point. “Gostaria de ter seis casas na cidade”, suspira.

Conhecer pouca gente, era de esperar, dificulta qualquer trabalho. Surpresa mesmo é constatar que ter muitas caras familiares por perto pode virar um pesadelo, como descobriu Luigi Cardoso Alves, do Museum. “Se algo dava errado, o pessoal vinha reclamar direto, porque éramos amigos”, lembra, sem saudade. “Olhava os donos de clubes e pensava que seria moleza.” Mudou de idéia quando percebeu que precisaria ajudar sempre no fechamento do caixa, lá pelas 6 da manhã, entre outros pepinos típicos de casas noturnas. Estudante do último ano de publicidade da Anhembi Morumbi, Luigi pretende inaugurar um novo point gastronômico, dedicado à culinária contemporânea, nos Jardins. Para manter o padrão de qualidade de sua clientela, já começou uma árdua missão: viajar para conhecer endereços gastronômicos badalados como o Hacienda El Bulli, na Espanha, o Sketch, de Londres, e o L’Avenue, de Paris. Difícil, no caso dessa galera, é saber onde termina o trabalho e começa a diversão.

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