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Cris Barros conquistou especialistas em moda e clientela de famosos

Depois de abandonar carreira de modelo, estilista faz sucesso com vestidos que chegam a custar até 4 000 reais

Por Alvaro Leme
Atualizado em 6 dez 2016, 09h04 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

Se a Branca de Neve pegasse o cartão de crédito do Príncipe Encantado e fosse passear nos Jardins, muito provavelmente estouraria o limite na loja de Cris Barros. Ali, quase na esquina da Rua Oscar Freire com a Alameda Ministro Rocha Azevedo, uma porta de vidro de 2,5 metros de largura por 2,4 metros de altura conduz a um mundo de fantasia – tal e qual o espelho que leva Alice até o País das Maravilhas – freqüentado diariamente por todo tipo de princesa. A começar pela dona do pedaço, Cristiana Freitas Barros de Oliveira, ex-modelo que virou a estilista responsável por blusas que variam de 89 a 600 reais, vestidos que chegam a custar mais de 4.000 reais, além de calças, bolsas, sapatos, enfim, o uniforme completo das senhoras e senhoritas que, como ela, encarnam uma versão século XXI das donzelas de contos de fadas.

Poucas grifes conquistam, em somente cinco anos, a visibilidade e o prestígio que Cris Barros alcançou – razão pela qual talvez você não saiba ao certo de quem se trata, mas provavelmente já viu alguma bela mulher com uma roupa da marca, vendida também em um espaço na Daslu. Em outubro, abre as portas em outro ponto nos Jardins, na Rua Vitório Fasano, e no ano que vem no futuro Shopping Cidade Jardim. Começou com um investimento inicial de 250.000 reais e cinco funcionários. Hoje tem cinqüenta, que cuidam da produção de 42.000 peças por ano. Cada uma delas, depois de revisada duas vezes por um time de seis pessoas, vai para sessenta pontos-de-venda no Brasil e doze no exterior. Naturalmente, a estilista não alcançou tudo isso com varinha de condão. Sem alterar a voz, coisa que raramente faz, Cris gosta de ressaltar que batalhou muito. “Desenhava as roupas, cuidava das finanças, atendia o telefone e ainda servia como modelo de provas.”

Corpo e rosto para tal, ninguém duvida, não lhe faltam. Com 1,69 metro, 50 quilos, manequim 36, a formosa morena de olhos esverdeados começou a vida profissional como modelo fotográfico, aos 16 anos, quando ainda era aluna do Dante Alighieri, colégio em que estudou a vida inteira. Decolou mesmo na carreira em 1990, aos 18, quando estrelou, já uma gata, capa e recheio de um especial sobre a Disney da revista Capricho, publicada pela Editora Abril. Três anos mais tarde concluiu o curso de moda na Anhembi Morumbi e mudou-se de mala e cuia para uma pós-graduação no Istituto Marangoni, em Milão. Na época, foi estagiária de Stephan Janson, estilista francês que trabalhou com Yves Saint-Laurent. Depois de dois anos no exterior, voltou à São Paulo natal e, ao encontrar num evento o estilista Renato Kherlakian, da Zoomp, foi pedir-lhe um emprego. “Era uma beleza imperdível”, deslumbra-se ele, só de lembrar. Assim a moça foi trabalhar no departamento de marketing da empresa, onde ficou por três anos.

Trata-se de uma formação boa, mas que por si só não explica seu tremendo sucesso mais de uma década depois. A resposta para isso vem, na verdade, do bom uso que ela fez de seu patrimônio genético e de seu porte naturalmente elegante, capitalizados numa imagem de mulher bem-comportada, moderna e dinâmica. “Ela é a melhor garota-propaganda das roupas que cria”, avalia a editora de moda Erika Palomino, num veredicto repetido por mais cinco especialistas ouvidos para esta reportagem. Outro ingrediente que fermentou a visibilidade da marca foi a quantidade impressionante de clientes famosas, que aparecem semana sim, outra também, com suas peças em colunas sociais e revistas (Cris tem um serviço de clipagem para não perder nenhuma, e deixa exemplares marcados com post-its em sua loja). Entre a turma há da atriz Malu Mader à cantora Ivete Sangalo. Apesar da prática amplamente utilizada no mercado de presentear clientes vips que geram mídia espontânea, Cris jura com seus pezinhos tamanho 35 juntos que não tem esse costume. “Para que vou dar se elas compram?”, diz. Não é beeem assim. “Compro muita coisa, mas ganho algumas também”, conta a atriz Débora Bloch. O mesmo disseram sua colega Fernanda Torres e a apresentadora Eliana. “A Cris sempre me manda uma peça para usar nos dias de desfile”, afirma Luana Piovani, que, quando faz compras, ganha desconto de 20%, padrão para celebridades.

Famosas como Luana atraem tanta atenção nos desfiles de Cris quanto os próprios modelitos da passarela. É comum ver, nas apresentações de coleção da grife, tanto a imprensa especializada em moda quanto a turma que vive na cola dos vips. São eventos badalados, estrategicamente marcados cada vez num local diferente. Já aconteceram na Casa Fasano, no Baretto e no Museu Brasileiro de Escultura, por exemplo. O próximo, marcado para terça (14), será no Teatro São Pedro, prédio de estilo neoclássico e detalhes em art nouveau, localizado na Barra Funda. Desta vez, o tema da coleção, com setenta peças distribuídas em 47 looks – sem contar cintos, sapatos, brincos e colares –, será contos de fadas e fábulas medievais. “Toda marca vende sonhos”, resume Cris.

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Ela costuma dizer que os temas de suas coleções podem vir de absolutamente qualquer lugar – na coleção de verão 2008, há uma estampa inspirada nos azulejos de sua sala de jantar. De suas coleções de livros, revistas e filmes antigos tirou a inspiração para temporadas passadas, como aconteceu com O Leopardo, de Luchino Visconti, e o musical A Noviça Rebelde. De quebra, costuma carregar câmera digital, bloquinho e caneta aonde quer que vá. “Se vejo alguma roupa interessante, clico na hora.” Numa dessas pesquisas, passou por uma situação meio embaraçosa. Cris estava num fervilhante restaurante paulistano e, ao ver entrar uma mulher bem estilosa, analisou seu look de cima a baixo. Olhou tanto, mas tanto, que foi mal interpretada. A fulana enviou-lhe um bilhetinho: “Também te achei linda”. Cris ficou vermelha como um morango, do mesmo jeito que acontece quando alguém quer saber de sua vida pessoal. Já era assim durante a relação de cinco anos com o economista Tato Malzoni, que mais tarde se tornou namorado de Daniella Cicarelli. Atualmente com um namorado ainda mais discreto do que ela, a moça fecha a cara e aí, sim, muda o tom de voz quando perguntam sobre ele, o empresário Luis Octavio Índio da Costa, diretor executivo do Banco Cruzeiro do Sul. Começaram o romance em maio e acabam de voltar de uma temporada de dez dias de férias em Ibiza, na Espanha. “Não gosto de falar da minha intimidade.”

A correria do início, quando trabalhava em média doze horas diárias com suas agulhas de ouro, desacelerou graças à entrada dos novos sócios. Trata-se da economista Daniela, sua irmã caçula, e do marido dela, o administrador de empresas Luiz Felipe Verdi. “Achava que a marca era um passatempo da Cris”, lembra Dani, como é chamada, que trocou a carreira de executiva no mercado financeiro pelo trabalho na grife. “Um negócio que cresce 30% ao ano não tem nada de brincadeira”, acrescenta. Com a boa fase, as instalações também se expandiram. Do 2º andar da loja da Oscar Freire, mudaram-se para um edifício comercial na Rua Barão de Capanema, a uma quadra dali. Ocupam agora cinco andares, cada um com 120 metros quadrados. Em breve, devem alugar outro pavimento do prédio.

A decoração do escritório é clean e sofisticada como a loja. O mesmo vale para a confortável casa onde Cris vive, no Jardim Europa, acompanhada de Zorro, seu lhasa apso, e de uma empregada doméstica. Antes, morava com os pais, o empresário Natanael de Oliveira e a dona-de-casa Elvane, na Alameda Jaú. Os dois estão sempre na casa da filha mais velha, por onde circulam amigos como a arquiteta Carol Maluhy e a empresária Isabella Prata. “Não gosto de ficar sozinha”, afirma Cris, que costuma promover jantares e festinhas para os mais chegados. Nessas ocasiões, pilota o fogão – massas são sua especialidade – e não abre mão de um bom vinho. “Bebo umas tacinhas desde menina”, revela, num dos raros momentos em que baixa a guarda. Ah, sim! A encanação dela com a própria imagem parece ser diretamente proporcional à sua beleza. Isso talvez explique por que ela não admite que gosta de fumar. “Nunca comprei um maço na vida”, garante. “Filo cigarro das amigas, socialmente.” Vaidosa, mantém a forma com três sessões semanais de malhação na miniacademia que montou na garagem.

Qualquer pessoa que trabalhe com moda costuma mesmo cuidar da imagem, mas no caso de Cris Barros isso é levado a ferro e fogo por uma questão de marketing. No fim do ano passado, ela percebeu que estava se expondo demais na mídia. O que fez? Passou a sair de casa pouquíssimo, em geral somente para os cultos que freqüenta na Igreja Batista, do Itaim e do Morumbi. “Não começo meu dia sem conversar com Deus”, afirma. “Queimar a figura da Cris poderia prejudicar a marca, por isso a aconselhamos a ficar mais recolhida”, explica Phil, como é mais conhecido seu cunhado e sócio. Isso talvez atrapalhasse bons negócios, a exemplo de parcerias com empresas como a Sadia (foi contratada para desenhar as sacolas térmicas de Natal da empresa), a Johnson & Johnson (que a escalou para desenhar a embalagem do absorvente Carefree), a JHSF e a Nívea (para estas, bolou bolsas personalizadas). Atualmente com 35 anos, a aquariana Cris tem no horizonte uma difícil escolha, para a qual afirma já se preparar: maternidade ou carreira? Ela sonha com um casal de filhos, mas ambiciona transformar sua grife num negócio de destaque internacional, com showroom em Nova York, onde espera desfilar suas coleções nos próximos anos. “Vou montar uma estrutura que me permita fazer as duas coisas”, diz ela, com a determinação de toda princesa: um final feliz.

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