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Judeus são famosos pelo comércio

Conheça as histórias de alguns descendentes que construíram suas vidas no Bom Retiro

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h08 - Publicado em 7 out 2009, 17h28

Foram os judeus que deram ao Bom Retiro a vocação comercial que permanece até hoje. O bairro que os primeiros imigrantes encontraram, no início do século XX, era basicamente residencial. Muitas das inúmeras confecções judaicas fundadas a partir daquela época passaram de geração em geração. Hoje em dia apenas 20% das lojas do bairro são administradas por membros da comunidade. Várias fecharam porque os filhos e netos dos imigrantes se formaram em medicina, direito ou em outras profissões liberais. A concorrência com os coreanos também fez muitos judeus desistir de ter negócios no Bom Retiro. Mas eles ainda mantêm imóveis por ali. Estima-se que sejam donos de 40% dos pontos comerciais lá existentes.

Vocação para ser chique

Nas fotos de família de Samanta Schanzer, 31 anos, as mulheres aparecem quase sempre com roupas iguais. É que três tias-avós dessa neta de imigrantes judeus se encarregavam de costurar vestidos para todas elas. “O mesmo modelo era produzido em tamanhos diferentes”, conta Samanta, que se formou em moda e hoje cuida do estilo da grife Guelt, fundada por seu marido, Fabio Shoel. Também neto de imigrantes judeus, ele morou no Bom Retiro até os 7 anos. Seus avós e seu pai foram donos de confecção no bairro. O jovem Shoel inaugurou a dele há quatro anos. Modernas e com bom acabamento, as criações da Guelt poderiam muito bem estar à venda em endereços descolados da cidade. Marcas que hoje fazem sucesso na Oscar Freire e nos shoppings, como a Rosa Chá e a Fit, por exemplo, nasceram no Bom Retiro. “Mas nosso foco é mesmo o atacado”, afirma Shoel.

“Aqui estou entre iguais

Oito anos atrás, a professora Samantha Granatowicz deixou São Paulo e se mudou para Israel com os pais, antigos donos de confecção do Bom Retiro. “Os coreanos começaram a importar roupas baratas e a competir com eles”, conta. “Ficou muito difícil e meu pai, chateado, achou melhor fechar a fábrica e ir morar perto dos parentes dele.” Naquela época, a família vivia em Perdizes. De volta a São Paulo há dois anos – seu marido arranjou um emprego na cidade –, Samantha preferiu instalar-se no Bom Retiro. “Aqui estou entre iguais”, diz ela, que freqüenta uma das nove sinagogas do bairro. Judia ortodoxa, usa sempre roupas escuras e peruca quando sai de casa – segundo a religião, os cabelos só devem ser exibidos para o marido, na intimidade. Alguns cabeleireiros da região, aliás, colocam placas em suas fachadas com os dizeres “Lava-se peruca”. Quando, há um ano, deu à luz o terceiro filho, Samantha encontrou nos vizinhos solidariedade. Eles se ofereceram para cuidar dos pequenos Itcho, de 4 anos, e Iossef, de 3, enquanto ela esteve no hospital. “Eu me senti meio perdida sem a minha mãe”, lembra. “E me emocionou ser acolhida por mulheres que pouco me conheciam.”

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Cozinha a quatro mãos

Funcionário do restaurante kosher Goody, ponto de encontro da comunidade judaica ortodoxa, o chef Felipe Cilli tem todos os seus passos supervisionados por Roberto Cohn, uma espécie de representante religioso na cozinha. Cohn verifica se os rígidos preceitos encontrados na Torá, obra sagrada do judaísmo, estão sendo aplicados no preparo dos alimentos. Uma das características da culinária kosher é o rigor na higienização dos ingredientes. O supervisor acompanha, por exemplo, a retirada de impurezas do arroz e do feijão. “Para fazer esse trabalho, precisei ser entrevistado pelo rabino e receber a aprovação dele”, afirma. Cilli garante que não se incomoda em ter Cohn sempre às suas costas. “Encaro a experiência como um desafio profissional.”

Ele só parece italiano

Luigi Nahmias vive dando explicações. “Não sou italiano nem palmeirense”, diz ele, que tem pai e mãe judeus, é corintiano, mas por causa do nome acaba sendo constantemente questionado. A mãe dele, Perla Goldzac, garante que a escolha desse nome não foi inspirada na convivência com os italianos do bairro na infância e adolescência. “Quis homenagear meu pai, que se chamava Luiz”, explica. Ela e o marido, já falecido, moravam na Rua José Paulino quando começaram a namorar. Ambos eram filhos de comerciantes e deram continuidade aos negócios da família. Luigi e a irmã, Bianca, seguem o mesmo caminho. Mas há três anos eles deixaram de vender roupas para investir nas bijuterias. “Procuramos um nicho em que os coreanos não são fortes”, conta Luigi.

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