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Italianos foram os primeiros a chegar

Conheça a história de alguns dos descendentes

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h08 - Publicado em 7 out 2009, 16h31

Nas duas primeiras décadas do século XX, a população do Bom Retiro era predominantemente italiana. Os imigrantes começaram a chegar a São Paulo por volta de 1870 e, em 1949, já somavam mais de 950 000 pessoas. Muitos se fixaram no bairro, que se transformara em reduto operário por causa da proximidade com a Estação da Luz, cercada de indústrias. A comunidade virou até nome de rua – a dos Italianos, residencial naquela época. Atualmente, a colônia é pequena por ali, pelo menos no comércio. Apenas 5% das lojas do Bom Retiro pertencem a ela.

De freqüentadores a sócios

Os descendentes de italianos Dorival Cecconello, Marcio Batista, João e Flávio Moreschi são sócios do bar Bom Ra. Fica no número 198 da… Rua dos Italianos. Eles dividem o negócio, ainda, com dois gregos, um baiano e um “afro-descendente”, como faz questão de ser chamado o advogado Carlos Alberto Arão. “Essa mistura é a cara do Bom Retiro”, diz Cecconello, também proprietário de uma confecção no bairro. “Mas é bom que a sociedade tenha italianos, porque somos muito festivos.” Os oito amigos compraram o Bom Ra em 2000, quando o lugar era um boteco caído e tinha outro nome. Eles iam lá diariamente havia pelo menos dez anos. “Começamos a investir no nosso conforto: mandamos instalar um toldo e compramos uma churrasqueira”, conta João Moreschi. “Até que um dia percebemos que queríamos tantas melhorias que o jeito era virar donos.” O bar foi reformado e suas carnes argentinas grelhadas, especialidade do cardápio, logo se tornaram famosas. Essa fórmula funcionou tanto que o grupo abriu outras duas casas na cidade – o Bom Rini, no Brooklin, e o Bom Brás, no bairro de mesmo nome.

Por trás da fama alheia

Dos quatro filhos do calabrês Fortunato D’anello, que veio para o Bom Retiro com toda a família nos anos 50, os dois homens trataram de fazer o sobrenome ficar conhecido fora dos limites do bairro. Dick D’anello, o segundo a nascer, ganhou popularidade nos anos 60 como cantor da jovem guarda. Francesco, o terceiro, fundou em 1967 a grife de casacos de couro e alfaiataria D’anello, fornecedora de peças para multimarcas chiques do país. A confecção só não é mais famosa porque muitas de suas empresas-clientes trocam a etiqueta do fabricante pela própria, prática a que os empresários do Bom Retiro estão habituados. Neto de um feirante e filho de um alfaiate, Francesco acredita que a veia comercial está mesmo no DNA. “Herdei o jeito de negociar de um e o talento para a costura do outro.”

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Ele veste a polícia

A concorrência com os comerciantes coreanos, acirrada a partir dos anos 90, não afetou os negócios de Oswaldo Filizzola, um dos donos da fábrica de artigos de couro que leva o nome de sua família. Inaugurada em 1962, a empresa é especializada em coldres, cinturões, braçadeiras e outros equipamentos militares. Produz peças apenas sob encomenda – são 3 000 unidades só de cinturões – e para uma clientela certa: a polícia. “O curioso é que o sócio do meu pai fez roupas de bandido antes de eles fundarem a firma”, conta o empresário. Explica-se. O outro criador da Filizzola, Dorival de Carvalho, confeccionou, no início dos anos 50, os figurinos do filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, sobre uma quadrilha de bandoleiros. Morador do bairro dos 6 aos 24 anos de idade, até pouco tempo atrás ele distribuía cumprimentos quando ia às ruas. “Com a invasão dos coreanos, o bairro ficou impessoal”, diz. “Antes todo mundo se conhecia e se relacionava.”

Receita de pizza: massa fina e pitadas de nostalgia

Neto de italianos, nascido e criado no interior do estado, Wanderley Zanoni só chegou ao Bom Retiro em 1981, quando se tornou sócio da pizzaria que o sogro dele, um descendente de espanhóis, inaugurara em 1956. Localizada na Rua Barra do Tibagi, hoje quase toda tomada por fábricas de roupas, a Monte Verde sobrevive em uma área industrial – deserta e escura à noite – graças à boa qualidade de sua pizza, de massa finíssima, e à nostalgia da comunidade judaica. “Mais de 40% de meus clientes são judeus”, diz Zanoni, que afirma vender 2 500 redondas por mês. “Muitos se mudaram para Higienópolis, mas não deixam de bater ponto aqui.” A vocação saudosista do restaurante é atestada pelas fotografias em preto-e-branco exibidas nas paredes, com cenas da São Paulo de antigamente. São os próprios clientes que costumam presentear o dono da casa com imagens do gênero. “As pessoas adoram vir me contar histórias do Bom Retiro de sua juventude.”

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