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Gregos em São Paulo: sucesso e nostalgia

O patriotismo apaixonado é um traço da personalidade grega. Boa parte dos que aqui permanecem passa pelo menos metade do ano no país de origem

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h08 - Publicado em 7 out 2009, 17h53

Com a Grécia em guerra civil entre 1946 e 1949, a emigração de gregos para o Brasil, que já começara tímida por volta de 1900, se fortaleceu. Nos anos 60 havia cerca de 15 000 deles só no estado de São Paulo. Naquela época, o Bom Retiro chegou a abrigar mais de 100 numerosas famílias. Hoje, apenas vinte ainda têm comércio no bairro, mas vivem falando em voltar para a Europa.

De geração em geração, nomes repetidos na mesma família

Entre os gregos, é costume batizar o primeiro filho com o nome do avô paterno. Por isso, os primos Stavros Kiripoulos têm nome e, claro, sobrenome iguais. Para que não haja vários homônimos na mesma família, os recém-nascidos recebem também o nome do pai. O Stavros mais jovem, por exemplo, é Stavros Stilianos. “Há um terceiro xará nosso morando na Europa”, lembra o mais velho, Stavros Demetrius, presidente da coletividade helênica de São Paulo. Muito ligados aos parentes como todo grego, os primos são parceiros nos negócios. Stilianos comanda a confecção fundada pelo pai, a MSP Collection, e Demetrius trabalha com representação de tecidos. Eles não descartam a idéia de um dia se mudar para a Grécia. “Muita gente da família já voltou para lá”, diz Stilianos, que, apesar de ter nascido no Brasil, passa os dias ouvindo rádios gregas pela internet.

À procura de uma namorada

Foi por amor que Thrassyvoulos Petrakis, o seu Trasso, se mudou para São Paulo em 1961. “Minha mulher vivia pedindo para vir morar com a irmã, que emigrara para o Brasil anos antes”, conta ele. Em 1970, Trasso perdeu a família e o emprego. A mulher, a filha e a cunhada, de quem ele era funcionário em uma loja, foram mortas por causa de um vazamento de gás na casa em que passavam férias, em Santos. Sozinho, ele arrumou uma vaga de garçom em um restaurante no Bom Retiro, o Cantinho Grego. Anos depois, comprou o lugar e mudou seu nome para Acrópoles – o ponto já começava a virar uma referência no bairro e, como hoje, vivia lotado. Prestes a completar 90 anos, Seu Trasso tem três filhas de dois outros casamentos, ambos desfeitos. A mais velha, Claudia, de 33 anos, o ajuda a tocar o negócio. O grego ainda faz planos de se casar de novo. “Preciso de uma mulher novinha, de no máximo 50 anos”, avisa.

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A moda ao alcance do mouse

Aos 65 anos, Dimitrios Goulios não tem idade nem visual de fashionista. Mas bastam alguns minutos de papo para que ele prove estar antenadíssimo com as últimas tendências de moda. “A prata e o ouro velho estão com tudo”, diz. “Mas o verão será de cores fortes como o azul bic e o laranja.” Grego de nascença, Goulios, que chegou ao Bom Retiro nos anos 60, fabricou casacos e jaquetas até ser derrotado pela concorrência coreana sete anos atrás, quando então começou a produzir bolsas. “Antigamente um modelo de roupa sobrevivia por mais de seis meses”, conta. “Agora é necessário buscar novidades o tempo todo.” Goulios encontrou na internet a saída para se tornar um expert de moda. Ele acompanha os lançamentos internacionais e se inspira neles para criar suas bolsas. “Faço quinze modelos a cada dois meses.”

“Negócios só com os homens da família”

É quase com orgulho que Sotiris Tsoukalas declara: “Todo grego é machista”. Dono das grifes Belinda, com uma loja no Bom Retiro, e Practory, com dez pontos-de-venda espalhados por São Paulo, ele trabalha ao lado da mulher, Maria, formada em moda e responsável pelo estilo das coleções. “Se tenho dúvidas nos negócios, eu me lembro de consultar meu pai, meu cunhado e meu irmão, mas nunca a parte feminina da família”, admite ele. Maria, uma bela morena de 32 anos, é filha de gregos e garante não se sentir desrespeitada. “Sotiris raramente se mete na minha área porque de moda entendo eu”, diz. “Mas, se isso acontece, é verdade que a palavra final fica com ele.”

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