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Carlos Saldanha: “A produção brasileira é pouco conhecida lá fora”

Diretor de “Rio” fala sobre sua carreira e as dificuldades de trabalhar com desenhos animados

Por Catarina Cicarelli
Atualizado em 5 dez 2016, 17h54 - Publicado em 20 jul 2011, 14h01

Em 1991, o carioca Carlos Saldanha deixou o Brasil para fazer um curso de animação em Nova York. Destacou-se nas aulas e, ao contrário do que se espera, preferiu ser contratado por um estúdio pequeno a aceitar convites da Disney e da Pixar.

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Membro da Blue Sky há 18 anos, ele é responsável por sucessos como os dois últimos filmes da franquia “A Era do Gelo” — o primeiro ele codirigiu — e pelo fenômeno “Rio”, que arrecadou 470 milhões de dólares nas bilheterias e agora é lançado em DVD.

Brasileiro de destaque neste mercado restrito, Saldanha conta como é trabalhar com animação e como o nosso mercado é visto lá fora:

VEJA SÃO PAULO — Quando surgiu o interesse por animação?
Carlos Saldanha —
Sempre tive interesse por desenho, arte, mas fazia isso como hobbie. Quando fui optar por uma profissão, escolhi algo relacionado com informática, que eu também gostava muito. Mas, depois que comecei a trabalhar com computação, senti falta da arte. Foi então que vi vinhetas, comerciais de televisão e curtas que utilizavam computação e decidi correr atrás disso.

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VEJA SÃO PAULO — Como você entrou para a Blue Sky?
Carlos Saldanha —
Em 1991 fui para os Estados Unidos fazer um curso de animação na School of Visual Arts, em Nova York. Um dos professores, Chris Wedge, era um dos fundadores da Blue Sky e me chamou para trabalhar com ele. Estou lá desde 1993, há 18 anos. Na época, os filmes de animação ainda eram apenas um sonho. Entrei no momento certo, pois, em 1995, a Pixar lançou “Toy Story”, que o primeiro longa animado. Peguei essa onda desde o início.

VEJA SÃO PAULO — Você saiu das propagandas para produzir longa-metragens de sucesso. Procurar agências de publicidade continua sendo o mais comum para um animador no início da carreira?
Carlos Saldanha —
Hoje em dia já dá para fazer direto longas. Os próprios estúdios já procuram os alunos nas escolas. Quando comecei, como não existiam longas de animação, o único jeito era fazer comerciais e efeitos especiais no cinema.

VEJA SÃO PAULO — Na época em que se interessou por animação, o mercado brasileiro era bem restrito nessa área. Acha que isso mudou?
Carlos Saldanha —
Cresceu, sem dúvida, mas não dá para comparar com o mercado americano. Lá existe de fato uma indústria.

VEJA SÃO PAULO — Quais são as maiores dificuldades que um profissional da sua área enfrenta no mercado da animação?
Carlos Saldanha —
Na nossa rotina há vários desafios, mas procuro ser sempre otimista. O maior de todos é buscar os projetos certos. Nos prepararmos para fazer um longa foi bem difícil. Foram sete anos desde que entrei na Blue Sky até que fizéssemos o primeiro “A Era do Gelo”.

VEJA SÃO PAULO — Longas de animação hoje em dia já concorrem ao Oscar de melhor filme. O estigma de que animação é apenas para crianças acabou? O público leva mais a sério esse tipo de produção?
Carlos Saldanha —
Sem dúvida nenhuma. Hoje em dia, animação é brincadeira de gente grande. Nas bilheterias, os filmes de animação estão no topo da lista. São poucos os produtos de cinema que conseguem abranger quase todas as faixas etárias como as animações.

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VEJA SÃO PAULO — O mercado internacional tem visto com bons olhos a animação brasileira?
Carlos Saldanha —
A produção brasileira é pouco conhecida lá fora. Você vê um ou outro curta nos festivais de animação, mas não existe uma visão maior do que é feito aqui.

VEJA SÃO PAULO — No início da sua carreira você decidiu ir para Nova York para se especializar na área. Hoje em dia já existem escolas no Brasil que se equiparam às do exterior?
Carlos Saldanha —
Na época, os cursos de computação eram voltados para a área tecnológica. Hoje existem mais opções. Há outras vantagens também. Na minha época era quase impossível ter um computador em casa que tivesse capacidade suficiente para fazer animação. É difícil comparar as faculdades dos Estados Unidos com os cursos do Brasil. Lá já existe um mercado consolidado e os cursos possuem tradição na área.

VEJA SÃO PAULO — “Rio” é uma homenagem à sua cidade natal. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante a produção do filme?
Carlos Saldanha —
Foi a complexidade de trabalhar com humanos. Até então, só tínhamos feito bichos. E, apesar de os objetivos serem os mesmos, as expressões humanas são mais complexas. Além disso, tivemos também que colocar roupas nos personagens e fantasias para as cenas do Carnaval.

VEJA SÃO PAULO — Quanto tempo em média se leva para fazer uma animação, desde o momento da idealização até o lançamento?
Carlos Saldanha —
De três a quatro anos. Mesmo quando os recursos eram mais escassos, o período era o mesmo, porque conforme a tecnologia vai te ajudando a eliminar limitações, você também começa a pensar mais alto. A rapidez com que os processos são feitos é compensada pelo aumento da criatividade.

VEJA SÃO PAULO — Quais são as maiores influências para o seu trabalho?
Carlos Saldanha —
São desenhos que eu vejo desde pequeno, como os clássicos da Disney. Gosto muito de Pinóquio, Bambi e Dumbo. Até hoje também adoro Tom & Jerry. Assisto com minhas crianças. Mas duas grandes influências são Charles Chaplin e Buster Keaton, que atuavam no cinema mudo e conseguiam expressar sentimentos sem precisar falar nada.

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VEJA SÃO PAULO — Seus filhos dão palpites na sua criação?
Carlos Saldanha —
Meus filhos só viram “Rio” na pré-estreia que aconteceu no Rio de Janeiro. Eu peço a opinião deles em algumas partes do trabalho, perguntando se gostam de alguma música ou detalhe. Eles são o meu público alvo, mas procuro separar a família do trabalho.

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