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Vítima descreve o medo enfrentado durante arrastão na pizzaria Bráz

Roberto Dimbério, de 60 anos, conta como reagiu a três minutos de terror

Por Da Redação
Atualizado em 5 dez 2016, 17h08 - Publicado em 2 jun 2012, 00h51

“Na noite de domingo (27), fui com quatro amigos à pizzaria Bráz, em Higienópolis. Era quase meia-noite, apenas umas dez mesas estavam ocupadas e nos sentamos em uma perto da janela. Pedimos uma pizza de mussarela de búfala e chopes. Pouco depois, vi um rapaz alto e de boné entrar no salão com uma arma apontada para o alto. Em seguida vieram outros cinco e anunciaram o assalto, em uma cena digna de filme de faroeste. Nessa hora a adrenalina tomou conta e cometi um erro: joguei meu celular no chão. Não pelo valor (é um iPhone), teria feito o mesmo com um aparelho barato, mas por ser meu instrumento de trabalho. Por sorte, não perceberam.

Dois assaltantes se aproximaram para recolher os pertences e foi aí que vivemos o momento mais tenso. Um de meus colegas é alto, forte, negro e tem físico de atleta. Quando foi notado, um dos bandidos gritou: ‘Cara, você é da polícia, levanta!’. Começaram a revistá-lo e repetiam sem parar que era policial. Apesar de não anunciarem, sabíamos o que isso podia significar: ele seria morto. Felizmente, quando verificaram que não havia arma, resolveram deixá-lo em paz. Outro amigo teve dificuldade para tirar a carteira do bolso do paletó e tomou uma bronca.

Da minha mesa, levaram carteiras, um relógio Breitling e uma bolsa de grife francesa. Os bandidos mantinham as armas apontadas para o chão e toda a ação durou uns três minutos. Quando terminaram a coleta, saíram correndo. Várias mulheres caíram em choro convulsivo, mas ocorreu uma solidariedade natural e as pessoas se consolaram. Havia uma mesa com seis rapazes e eles não tiveram os celulares roubados, porque esconderam embaixo da toalha. E riam muito, aparentemente se divertiram com a situação. Após um tempo, chegaram três viaturas da polícia. Anotaram nome e telefone dos clientes e perguntaram quem gostaria de ir à delegacia para prestar depoimento. Foi quando o garçom veio com a pizza. Eu a dispensei, mas, depois de conversar com um policial, chamei de volta. Acho que só eu comi, e o restaurante não cobrou a conta.

Fui para casa a pé, às 2 da manhã. Tentei dormir, mas não consegui. Você piora com o passar das horas. A revolta não é pela perda material, e sim porque o crime se banalizou. Meu relato é só mais um. Mas não podemos nos conformar. Nós corremos risco de vida. Quando você é vítima de um ataque, tem de torcer para que o bandido tenha sucesso no plano que traçou. Não para que a polícia chegue, porque aí o faroeste se transforma em filme de terror. Apesar disso, vou continuar frequentando restaurantes.”

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Roberto Dimbério, 60 anos.

Consultor na área de decoração e morador de Higienópolis há vinte anos.

+ Restaurantes paulistanos reforçam vigilância para combater quadrilhas

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Tipo de crime que se disseminou na cidade durante os primeiros meses de 2011, os arrastões se tornaram novamente comuns neste ano e já começam a interferir na rotina dos paulistanos. A própria pizzaria Bráz deve colocar câmeras de segurança em suas instalações nas próximas semanas, algo que não era cogitado até o recente assalto. “O que mais eu posso fazer? Botar a Swat (unidade de elite da polícia americana) na porta?”, lamenta um dos donos, Edgard Bueno da Costa, sócio de diversos outros estabelecimentos, como os bares Original e Pirajá e a Lanchonete da Cidade — essa última, aliás, alvo de um arrastão em 22 de fevereiro. “É lamentável que esse tipo de coisa volte a ocorrer. Nós ficamos de mãos atadas.”

Por causa do aumento das ocorrências, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes distribuiu orientações a seus associados na capital. Entre as recomendações está a de se reunir com comerciantes vizinhos para unificar estratégias de prevenção, deixar pouco dinheiro no caixa, manter seguranças particulares nas redondezas e instalar iluminação externa. Mas os empresários não são os únicos a adotar precauções: assustados, muitos clientes começam a alterar seus hábitos. “Não me sento em mesas na calçada, nunca deixo o celular à mostra, ando só com o cartão de débito e fico com a bolsa no colo”, diz a publicitária Sindarlene Ferreira. As notícias dos arrastões também a levaram a ficar mais atenta ao que ocorre à sua volta, mesmo durante um jantar. Apesar do receio, ela afirma que continuará indo a bares e restaurantes da Vila Madalena e de Moema, que frequenta pelo menos duas vezes por semana. “Tomo precauções, mas não vou deixar de sair por medo.”

Quinze casos no ano

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Pelo menos quinze arrastões contra clientes de bares e restaurantes já foram registrados na cidade neste ano. O número de casos pode ser maior, pois vários empresários preferem não reportar o ocorrido à polícia por medo de prejudicar a imagem da casa. No ano passado, uma leva de crimes semelhantes assustou os paulistanos: mais de vinte estabelecimentos sofreram esse tipo de assalto entre fevereiro e março, em bairros como Pinheiros e Moema. O assunto foi capa da edição de 23 de março de 2011 de VEJA SÃO PAULO. Para as forças de segurança pública, é um movimento cíclico. “São ondas, assim como se deu com as explosões de caixas eletrônicos”, acredita o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro Lima. “Os assaltantes buscam objetos como smartphones e tablets. Os caixas não concentram mais tanto dinheiro, então eles passaram a ir atrás dos clientes.”

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