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24. O Shopping Iguatemi e a 25 de Março: extremos que se complementam

Os dois endereços são conhecidos nacionalmente e constituem os extremos da face comercial de São Paulo

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h32 - Publicado em 22 out 2010, 19h32

Os mais velhos se lembrarão da rua que, até a década de 60, ocupou o leito do que é hoje a Avenida Faria Lima. Chamava-se Iguatemi e era estreita como o trecho que ainda permanece com esse nome. Nem os mais velhos se lembrarão da Rua 25 de Março quando nem rua corria por ali. O que corria era o Rio Tamanduateí, bem rente à colina histórica. As duas ruas são produto das transformações a que São Paulo vem sendo submetida. Entre 1848 e 1851, o Tamanduateí sofreu a primeira das sucessivas retificações que viriam a alterar seu curso. Foi empurrado um pouco mais para longe do sopé da colina, deixando espaço para uma rua que, apropriadamente, já que passava lá embaixo, ganhou o nome de Rua de Baixo. Em 1865, a rua foi rebatizada de 25 de Março, em honra ao dia da promulgação da primeira Constituição brasileira, em 1824.

+ 25 pessoas, parcerias e coisas que ajudaram a construir a história de São Paulo

A Rua Iguatemi fora aberta nos antigos domínios do médico Leopoldo Couto de Magalhães, proprietário da Chácara Itaim, tão extensa quanto inútil, já que na maior parte encharcada. As obras de alargamento foram realizadas pelo prefeito Faria Lima, daí o nome que viria a ganhar a avenida. Mas antes disso, quando ainda era uma rua estreita, já começara a ali ser erguido o que se constituía numa espantosa inovação, não só para a cidade, mas para todo o Brasil — um shopping center. O Shopping Center Iguatemi, o mais antigo e um dos mais luxuosos da cidade, e a Rua 25 de Março, sede do mais conhecido e mais procurado conjunto de lojas populares do país, constituem os extremos da face comercial de São Paulo. O Iguatemi recebe por dia 48 000 pessoas, que podem chegar a mais de 60 000 nas vésperas do Natal. A 25 de Março já abrigou multidões calculadas em 1 milhão de pessoas. Os dois, tanto o Iguatemi quanto a 25 de Março, são conhecidos nacionalmente e recebem consumidores de toda parte.

A 25 de Março revelou sua vocação comercial desde os fins do século XIX. Foi a rua de eleição dos imigrantes sírios e libaneses, que, diferentemente dos outros grupos de imigrantes, constituídos maciçamente de camponeses, e importados para servir de mão de obra nas fazendas de café, trouxeram na bagagem a aptidão para o comércio. Os primeiros a ali se estabelecer mantinham na 25 de Março um centro de onde partiam os mascates para outros municípios e para as fazendas. Sua especialidade eram os tecidos e os armarinhos. Mais recentemente, dos anos 1970 ou 1980 para cá, vieram os coreanos e os chineses, e forçaram a ampliação do cardápio habitual para um amplo leque de mercadorias. A 25 de Março chegou ao apogeu nestes anos 2000, quando passou a receber massas humanas de avassaladoras proporções.

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O Shopping Iguatemi surgiu da sanha empreendedora do construtor Alfredo Mathias, o maior de seu tempo, em São Paulo. Mathias, filho de libaneses (de novo, o sangue árabe na expansão comercial da cidade), teve entre suas maiores obras na cidade o Edifício Conde de Prates (entre a Praça do Patriarca e a Rua Líbero Badaró), a Galeria Nova Barão (na Rua Barão de Itapetininga), o Centro Empresarial São Paulo (na Marginal do Pinheiros) e o Portal do Morumbi. O Iguatemi foi erguido em dezesseis meses e a estranheza foi tal, diante da importação desse modelo americano de centro de compras, que no princípio os comerciantes pensaram que só valia a pena disputar as lojas da frente. Não acreditavam que os consumidores, acostumados às compras nas ruas, se abalassem a andar até as do fundo.

O Iguatemi e a 25 de Março opõem-se (e de certa forma complementam-se) tanto como centros de compras quanto como fenômenos urbanísticos. Os shoppings são criações que têm por fim último revogar as cidades. Esquece-se o que está lá fora e reproduz-se o equipamento urbano numa cápsula mais organizada e mais segura. A 25 de Março reafirma a cidade. Mostra que, a céu aberto, ela continua a pulsar, ainda que do modo tumultuado e inseguro que é próprio das metrópoles do mundo dito emergente neste início de século XXI.

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