“Turnê” traz brilho sem pudores
Mathieu Almaric dirige e atua no longa que conta história de grupo de coristas americanas
O francês Mathieu Amalric, de 45 anos, já demonstrou talento e versatilidade diante das câmeras em papéis tão distintos quanto o paciente tetraplégico de “O Escafandro e a Borboleta” ou o vilão de “007 — Quantum of Solace”. Como cineasta, embora tenha se aventurado por longas e curtas-metragens, só ganhou reconhecimento internacional após levar o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes no ano passado pelo drama Turnê.
Intimista, melancólico e, sobretudo, carinhoso e passional no tratamento de suas personagens, Amalric sobressai também como ator de seu filme. Ele interpreta Joachim Zand, um sonhador empresário, sempre no limite do estresse, que fuma um cigarro atrás do outro. Depois de uma temporada nos Estados Unidos, ele volta à França agenciando um grupo de abusadas coristas americanas. O desejo dele e delas: mostrar o show burlesco em Paris. A realidade: o máximo que conseguem é apresentar o espetáculo em teatros do interior, para homens e mulheres extasiados diante de tanta exuberância. Longe dos palcos, o incansável Zand se divide entre a busca por uma casa noturna na capital francesa e os cuidados com os dois filhos adolescentes. Suas dançarinas também vivem agitadas. Nos hotéis, elas não medem as consequências em atos provocativos e adoram atiçar a sexualidade alheia.
Sem vergonha de exibir as formas, muitas delas roliças, as desconhecidas intérpretes Miranda Colclasure, Suzanne Ramsey e demais colegas convencem menos na dramaticidade e mais em números despudorados. As exibições — ora fervilhantes, ora em tom decadente — fazem referência aos altos e baixos do personagem de Amalric. Esse tipo deslocado do tempo e do espaço às vezes parece prestes a entregar os pontos, mas não perde o brilho nos olhos.
AVALIAÇÃO ✪✪✪