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Trânsito nas estradas

Cerca de 100 000 carros a mais nas rodovias paulistas,temperatura na casa dos 30 graus, o dobro de acidentes com motos e 2 857 veículos pifados nas pistas do sistema Anchieta-Imigrantes: o pesadelo do verão

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Os litorais Norte e Sul de São Paulo foram invadidos por 1,1 milhão de veículos entre sexta (28) e terça (1º), durante as festas de Ano-Novo. É como se a frota inteira de Belo Horizonte decidisse descer a serra em busca de um lugar ao sol nas nossas praias. Foi um fluxo cerca de 10% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando 1 milhão de carros se dirigiram às praias. Várias são as explicações para essa explosão de turistas. O tempo bom, com temperatura na casa dos 30 graus, é uma delas. Houve ainda um dia a mais de folga em relação ao feriado prolongado de quatro dias de 2006. Tem mais ingredientes nessa combinação que infernizou o trânsito nas estradas: aquecimento econômico, caos aéreo e aumento da venda de carros. “As facilidades de financiamento jogaram mais veículos nas ruas e a crise da aviação incentivou as pessoas a trocar os céus pelas estradas”, afirma o engenheiro e consultor em transportes Luiz Célio Bottura. A frota total da cidade, de 5,9 milhões de veículos (3,5 milhões circulantes), que costumava crescer em média 5% ao ano, aumentou 7% em 2007. O resultado foram filas quilométricas de veículos em praticamente todas as estradas que dão acesso às praias paulistas.

Principal ligação entre São Paulo e os oito municípios da Baixada Santista, o sistema Anchieta-Imigrantes – que inclui as rodovias Padre Manuel da Nóbrega e Piaçagüera–Guarujá – chegou a receber 600 000 veículos durante o réveillon, cerca de 120 000 por dia. Ou seja, 40 000 a mais que o tráfego diário fora de feriados. Cerca de 40% desses veículos tinham um único destino: a cidade de Praia Grande, que registrou um movimento 25% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Um milhão e 300 000 pessoas desceram a serra para lá e enfrentaram um pesadelo ao subi-la, principalmente na madrugada do dia 1º. O metalúrgico Rufino Eduardo de Almeida demorou dezoito horas para vencer os 77 quilômetros entre Praia Grande e São Paulo, trecho percorrido em cerca de cinqüenta minutos em situações normais. “Fiquei mais de meia hora exatamente no mesmo lugar da fila”, conta Almeida, que, assim como outros motoristas, decidiu desligar o veículo e empurrá-lo. Tudo para economizar combustível.

Os grandes vilões do trânsito, segundo a concessionária Ecovias, que administra a rodovia, são o aumento de carros quebrados e o de acidentes com motos. Foram 2 857 atendimentos mecânicos, 700 a mais em relação a 2006, e o dobro de acidentes envolvendo motocicletas. “Nesses casos, é preciso interditar faixas e afunilar a pista, o que diminui a quantidade e a velocidade do tráfego”, diz o gerente de atendimento ao usuário da Ecovias, Sidnei Torres. Os engarrafamentos também não pouparam quem decidiu passar a virada em Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela, que registraram um recorde de público: 1,4 milhão de visitantes – era esperado 1 milhão. Não à toa as quatro principais rodovias (Rio–Santos, Oswaldo Cruz, Dom Paulo Rolim Loureiro, a Mogi–Bertioga, e dos Tamoios) que dão acesso às cidades do Litoral Norte receberam 45% mais veículos que no feriado de 2006, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER). No ano passado, 385 000 carros passaram pelas quatro estradas litorâneas, contra 560 000 neste ano. O trecho de serra entre Mogi das Cruzes e Bertioga, por exemplo, registrou um fluxo quase 42% maior em relação ao ano passado. Principal eixo de ligação entre a capital e o Litoral Norte, a Rodovia Carvalho Pinto bateu o recorde: o movimento aumentou 70%.

Os paulistanos que pretendem descer a serra durante o Carnaval, de 1º a 6 de fevereiro, terão de redobrar a paciência. O DER espera receber

540 000 veículos nas quatro rodovias litorâneas durante os dias de folia, movimento quase idêntico ao do réveillon. “Ampliar a malha viária não resolve o problema, já que boa parte das estradas que levam ao litoral tem pouco movimento no resto do ano”, explica o engenheiro Bottura. Precisa parafrasear a ministra Marta Suplicy?

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Enquanto isso, por aqui…

Cruzar as pistas expressas das marginais Pinheiros e Tietê na velocidade máxima permitida (90 quilômetros por hora), atravessar a Avenida Paulista de cabo a rabo às 16 horas da última quinta-feira em quatro minutos (parando apenas em um de seus dezoito faróis) e encontrar desimpedidos corredores como Rebouças e 23 de Maio. Ruas e avenidas incrivelmente vazias, com trânsito dos sonhos. É a maravilhosa São Paulo de janeiro. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não tem nenhum estudo que mostre em quanto a frota circulante, de 3,5 milhões de veículos, é reduzida durante as férias. “Acredito que pelo menos 1,5 milhão de veículos deixem São Paulo”, estima o engenheiro e consultor em transportes Luiz Célio Bottura. Na quarta (2), o primeiro dia útil do ano, o pico de congestionamento, às 19 horas, foi de 59 quilômetros. Três vezes menor que a média de lentidão de 180 quilômetros registrada no mesmo horário em 2007.

O número de acidentes de trânsito também diminui. Em relação aos outros meses do ano, a queda é de 20%. “É uma diminuição sensível”, diz o tenente Marcio Cesar Carnevale, chefe do Centro de Operações dos Bombeiros (Cobom). Eles atendem cerca de 200 ocorrências em dias normais. A situação não melhora apenas por causa dos carros que deixam de circular. Entre os que continuam nas ruas, muitos fazem menos viagens que o habitual. É o caso de táxis, veículos de entrega e motoboys. Tudo por causa do momentâneo declínio da atividade econômica provocado pelas férias. Infelizmente, essa calmaria tem prazo para acabar: no máximo, a terceira semana do mês. Até lá, vamos aproveitar.

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