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SPTuris reúne memórias de moradores da cidade em áudio

Parte do material coletado será disponibilizado na internet

Por Claudia Jordão
Atualizado em 1 jun 2017, 18h20 - Publicado em 20 jan 2012, 18h31

O aposentado Modesto Laruccia gosta de recordar a época em que os bondes ainda cortavam São Paulo. Durante sua infância, na década de 40, ele costumava passar as férias construindo caixas para as uvas que seu tio Dionísio vendia em um boxe no então recém-inaugurado Mercado Municipal, no centro. “Aos sábados, após entregar as embalagens, eu recebia como pagamento o suficiente apenas para comprar a entrada de uma sessão de cinema e um saco de pipoca”, lembra Laruccia, filho de italianos e morador do Parque Continental, na Zona Oeste. Lembranças como essas ajudam a remontar o cotidiano de antigamente, e a SPTuris, empresa de promoção de eventos e turismo da capital, resolveu torná-las eternas na voz de quem as viveu.

Para isso, começou a gravar em áudio os relatos de paulistanos, moradores e ex-residentes da cidade: a partir de quarta (25), aniversário de 458 anos do município, a primeira parte do material será disponibilizada no site São Paulo Minha Cidade. Os primeiros dez depoimentos foram registrados pelos maiores colaboradores da página na internet — criada em 2005, ela já reúne 1.458 participantes e 6.000 textos. Com 82 passagens publicadas, Laruccia começou narrando as recordações de seu casamento, na Igreja São Vito, no Brás, e da lua de mel, passada em Santos.

+ Marcos da história de São Paulo

Outro a participar da iniciativa é o publicitário aposentado Luiz Saidenberg. Ele, que já gravou um depoimento sobre o extinto Cine Santa Cecília, deve falar sobre o antigo relógio do Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, na região central. “Se hoje o acessório passa despercebido por boa parte da multidão que circula pelo local, no século passado ele servia de ponto de encontro entre empresários, trabalhadores e amantes”, diz Saidenberg, piracicabano que se mudou para a capital aos 11 anos e hoje vive no Brooklin. O relógio foi instalado na fachada do prédio em 1939, quando a loja de departamentos deixou a Praça do Patriarca. Com a transferência, os números romanos foram substituídos por arábicos — àquela altura, um sinal de modernidade. Em 1999, o negócio faliu e o relógio passou a ser mantido pelas novas administrações do edifício.

Os contadores de casos são, em geral, aposentados “superconectados”. Uma pesquisa com usuários do site revela que 93% deles acessam a internet diariamente. A ex-funcionária pública Erta Tamberg é uma delas. Em três anos, já contribuiu com 53 textos para a página da SPTuris. No início do mês, ela narrou experiências sobre a sua vida no bairro de Cangaíba, na Zona Leste, onde viveu até completar 17 anos e se mudar para Guarulhos, na região metropolitana. Erta é do tempo em que o Rio Tietê corria livre antes da retificação — concluída em 1976 — e servia de área de lazer para atividades como pesca e nado. “Com a obra, vieram a energia elétrica, o asfalto e a ideia de ampliar a rua onde eu morava”, recorda. “Após a duplicação da via, minha casa encolheu e a família não coube mais.”

TRECHOS DAS MEMÓRIAS

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“Volto ao passado, para lembrar que, se havia algum lugar para encontros marcados na São Paulo dos anos 60, esse era debaixo do relógio do Mappin. Quem não já ali esteve, sentindo o pulsar do coração, coincidindo com o estalar dos ponteiros? (…) Para ser sincero, comigo aconteceu uma única vez. Cenas de um calendário desbotado, outro século, outro centro, outra mulher, tudo levado pelo mesmo tempo que o relógio assinalava.”

Luiz Saidenberg, de 66 anos

“Levado pelas mãos de meu pai, atravesso, pela primeira vez, os portões enormes de ferro ornamentados com motivos agrícolas. (…) Meu pai explica:‘O que você está vendo não existe igual no Brasil e, quiçá, na América do Sul! Os vitrais? Vieram da Itália, terminaram a construção em 1938.”

Modesto Laruccia, de 79 anos

+ Uma jornada pelo Tietê

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“Sapo, como era apelidado o loteamento que ficava do outro lado da estrada de ferro, inundava. A região foi sendo habitada pouco a pouco, num local que era um brejo, cheio de sapos. (…) Nos anos 60, meu pai, todos os sábados, ia pescar no rio e, às vezes, eu ia com ele… A gente pegava peixe graúdo, como bagres e traíras.”

Erta Tamberg, de 53 anos

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