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Sueli Gonçalves: os “imortais” da rede pública

A professora criou um projeto que estimula a prática da leitura entre os jovens

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 16h28 - Publicado em 21 dez 2012, 15h39

Na tarde do último dia 6, cerca de trinta alunos de idade entre 9 e 14 anos se reuniam em silêncio numa das salas do Centro de Educação Unificado (CEU) Quinta do Sol, no bairro de Cangaíba, na Zona Leste. Apesar da proximidade das férias, todos estavam ali fora do horário das aulas para discutir literatura. E por livre e espontânea vontade. O grupo faz parte da Academia Estudantil de Letras (AEL) Pedro Bandeira, uma das 22 iniciativas do gênero espalhadas por escolas públicas municipais. Criado pela professora Sueli Gonçalves, de 60 anos, em maio de 2005, o projeto tem como objetivo estimular a prática da leitura entre os jovens. Assim como na Academia Brasileira de Letras, a cerimônia de posse é um evento solene em que os alunos vestem capinhas, fazem juramento, recebem medalhas e falam um pouco sobre o autor que escolheram como objeto de estudo. Quando deixam o ensino fundamental, os estudantes são substituídos por suplentes mais novos, chamados de membros correspondentes, que darão continuidade aos trabalhos. Ao longo do ano, a atividade dos “acadêmicos” é intensa. Eles participam de aulas semanais de uma hora e meia sobre literatura e teatro. Cada um ganha uma pastinha com a foto do autor predileto e tem a missão de preenchê-la com poemas e informações sobre sua vida e obra. Mensalmente, eles apresentam seminários sobre o que pesquisaram. Nas aulas de teatro, adaptam e ensaiam os textos para encená-los no palco da escola.

Formada em letras pela USP, Sueli sempre teve como objetivo buscar formas mais lúdicas de ensinar. A AEL surgiu de uma dessas suas tentativas de tornar o conteúdo escolar interessante. Em 2000, ela terminou uma de suas aulas interpretando um poema de Mário de Andrade que deixou seus alunos intrigados. Na sequência, lançou um desafio: quem quisesse saber mais sobre aquilo deveria bater à porta de sua sala e dizer a senha: “Eu me apaixonei”. Depois de meses, uma garota sussurrou as palavras mágicas no local. E lá foram as duas para debaixo de uma árvore numa escola municipal da Zona Leste conversar sobre poesia fora do horário das aulas. Surgiu daí a inspiração para a academia. A ideia deu tão certo que Sueli recebeu o apoio da Secretaria Municipal de Educação. Foi, então, designada para coordenar o trabalho nas 22 AELs e formar os professores que as comandam em cada escola.

Os resultados do projeto vão muito além do interesse pela leitura. “Alunos que antes tinham problemas de disciplina mudaram radicalmente o comportamento em sala de aula”, relata a diretora do CEU Quinta do Sol, Ana Dias de Souza. Já houve quem entrasse na academia sem saber ler nem escrever e, com o reforço das aulas, saísse de lá declamando estrofes. Um ex-acadêmico portador de dislexia surpreendeu um professor do ensino médio ao recitar de cor versos de Shakespeare. A AEL também já revelou talentos entre os mais bagunceiros. Um desses garotos teve o poema publicado num site. Sueli foi, então, até a casa dele, numa favela da Zona Leste, mostrar o feito aos pais, que não acreditaram no que viram. “Feliz, o aluno me ofereceu água e disse que iria servi-la no copo mais bonito da casa”, lembra ela. Voltou com um antigo vidro de azeitonas. “Foi a água mais gostosa que já bebi na vida.”

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 ■ Academia Estudantil de Letras (AEL), Diretoria Regional de Educação da Penha

Rua Apucarana, 215, Tatuapé, telefone 3397-9151

 

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