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Shopping Iguatemi precisa dar explicações sobre solo contaminado

O shopping precisa provar que a contaminação do solo sob as obras de seu novo prédio não atingiu a terra nem o lençol freático do entorno

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h33 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

Bastou os operários voltarem a trabalhar na construção do terceiro bloco do Shopping Center Iguatemi, no início deste mês, para que começasse o novo round do conflito entre os moradores vizinhos e os administradores de um dos mais luxuosos centros de compras de São Paulo, inaugurado em 1966. A obra estava embargada desde outubro de 2008 porque, segundo a prefeitura, o shopping não respeitara o alvará emitido em 2003, entre outras irregularidades. Uma liminar do Tribunal de Justiça do estado, de 30 de junho, permitiu a retomada da expansão e, na semana passada, os operários erguiam o 3º andar acima do nível da rua. O prédio de 25 000 metros quadrados, com estacionamento e escritórios, terá onze andares.

Os protestos dos condôminos dos edifícios Avignon, Chatel, Dijon e Monfort, construídos em 1969 na Rua Angelina Maffei Vita, localizada nos fundos do Iguatemi, começaram há dois anos. Inicialmente, a reclamação era de que a nova obra, de mais de 50 metros de altura, prejudicaria a vista, a luminosidade e a ventilação dos seus prédios. “A parede deles está a apenas 4,5 metros do nosso muro”, afirma um dos síndicos, Jorge Rugitsky. É lá, em um apartamento de 600 metros quadrados avaliado em 3 milhões de reais, que mora o prefeito Gilberto Kassab. Um problema ambiental apimentou ainda mais a polêmica. Durante as escavações dos três andares do subsolo, em meados de 2007, foram encontrados dois tanques subterrâneos de um posto de combustível que funcionara no local. Constatou-se então que o desgaste de sua estrutura havia provocado a contaminação do solo com poluentes como benzeno, tolueno, xileno e naftaleno em proporções superiores àquelas consideradas seguras pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). O shopping enviou 4 500 toneladas de material poluído à cidade de Juquiá, no interior de São Paulo, para descontaminação. Cada lote de 500 toneladas foi colocado por dois segundos em um forno a 2 000 graus. “Transformamos a terra em combustível para fornos de cimento”, conta o técnico Fabiano Freitas, da Silcon Ambiental, empresa contratada para o tratamento dos resíduos.

Embora a terra sob a nova torre já esteja livre de contaminação, o imbróglio ainda não foi resolvido. A Cetesb exige agora que o Iguatemi prove que o estrago não atingiu o lençol freático nem o subsolo dos arredores. Como isso ainda não ocorreu, o shopping foi multado, em maio, em quase 8 000 reais. Questionado, o Iguatemi divulgou uma nota em que afirma estar aguardando “as autorizações municipais para iniciar a etapa de instalação dos poços de monitoramento, necessários para a elaboração do relatório detalhado solicitado pela Cetesb”. Para isso, será preciso que a Subprefeitura de Pinheiros e a CET interditem trechos das movimentadas ruas vizinhas, como a Avenida Faria Lima. “Quem garante que não há riscos em imóveis da vizinhança onde as pessoas têm contato direto com a terra e a água, como o Clube Pi–nheiros?”, questiona Rugitsky.

A discussão em torno das obras do Iguatemi virou o exemplo mais recente do problema de contaminação do solo na cidade. Segundo um levantamento da Cetesb de novembro do ano passado, a capital tem 781 registros de áreas contaminadas, o que representa 31% do total de sujeira tóxica subterrânea do estado. A poluição causada por postos de combustíveis, por sinal, é a mais frequente: 84% dos diagnósticos ocorrem em áreas que armazenavam óleos e derivados. O número de contaminações comprovadas no solo paulista cresceu 10% em 2008 em relação ao ano anterior. Regiões que sediaram indústrias no passado, como é o caso da Mooca, têm mais territórios sob risco. A companhia lista dezenove espaços com essas características no bairro da Zona Leste, o que vem prejudicando sua reurbanização. Para amenizar o problema, a prefeitura pretende incentivar investidores para que eles financiem operações de descontaminação.

Tratar a terra em fornos, como fez o Shopping Iguatemi, é a técnica mais utilizada por empresas especializadas. Em algumas situações, o material incinerado vira combustível. Em outras, transforma-se em um composto usado na fabricação de materiais de construção, por exemplo. As cinzas e os restos da queima seguem para aterros sanitários. Quando a contaminação é mais leve, os fornos nem precisam ser usados: basta cobrir a superfície com camadas de terra limpa de 50 centímetros de altura. Foi assim na Praça Victor Civita, construída sobre um terreno em Pinheiros onde durante décadas funcionou um incinerador de lixo domiciliar e hospitalar. Ali, além da camada extra de 3 500 metros cúbicos, o chão foi coberto por um deque de madeira, garantindo o isolamento de quem passeia pelo local.

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Ameaças subterrâneas

781

casos de contaminação do solo já foram diagnosticados na cidade desde 2002

84%

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deles tiveram origem em vazamentos em postos de combustíveis

10%

foi o aumento médio de registro de poluição sob a superfície no ano passado em relação a 2007

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