— Vó, você acredita em Papai Noel?
— Ah, Bel, adulto não tem cabeça para essas coisas.
— Acredita ou não acredita, vó?
— Bom…
— Não pode mentir…
— Não pode? Então acredito, pronto.
— Eh, vó, você não é mais criança.
***
— Vô, Papai Noel já foi criança?
— Ih, agora você me pegou.
— Não sabe ou vai pensar?
— Na verdade, eu nunca tinha pensado nisso.
— Droga, o mais importante você nunca sabe.
***
— Mãe, o que o Papai Noel faz nas férias de julho?
— Nem imagino.
— Eu imagino.
— É? O quê, Bel?
— Deve ser Natal em outro planeta.
***
— Tia, o que é que Papai Noel de shopping faz quando acaba o Natal?
— Ah, não sei, Vivi, acho que eles procuram outra coisa para fazer.
— Que coisa?
— É… Porteiro, vendedor, carregador… Muitos são aposentados.
— Quando meu pai se aposentar, vou falar pra ele ficar sentado de Papai Noel no shopping. É melhor.
***
— Tio, Papai Noel existe?
— Existe.
— Onde é que ele mora?
— Uns dizem que é no Polo Norte. Eu acho que é no céu.
— No céu? Então ele já morreu?
— Como assim?
— Quando a gente morre, vai pro céu. No céu tem gente viva?
— Não. Tem as almas boas, tem os anjos…
— Ele não é anjo… Então é alma?
— Olha, Bel, acho que é no Polo Norte mesmo que ele mora.
***
— Mãe, não são os adultos que dão presente para os outros adultos no Natal?
— Isso mesmo, filha.
— E por que precisa de Papai Noel para dar para as crianças?
— Não é que precisa. Cada um faz sua parte. A parte dele é a das crianças.
— Eu posso mudar?
— Como assim, mudar?
— Eu queria ser da parte dos adultos.
— Por que isso agora?
— Aí, se eu não gostar do meu presente, eu posso reclamar.
***
— Vô, você já se vestiu de Papai Noel na noite de Natal?
— Nunca, Ju.
— Por que não?
— Quer a verdade, agora que você já é meio grandinho?
— Ahn-han.
— Não gosto da ideia nem da roupa.
— Acha ridículo?
— É, achava. Ia me sentir ridículo. Não dou pra essas coisas.
— Podia fingir que gostava.
— Não ia dar certo. Fingir pra quê?
— Pra agradar ao papai. Eu finjo.
— Quando ele se veste de Papai Noel?
— É. Eu finjo que acho engraçado e que acredito. Ele é muito legal.
— É, eu podia ter feito isso. Mas eu não sou tão legal quanto você.