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Pedintes arrecadam 2 milhões por mês; valor cresce 30% em dezembro

Pesquisa revela que quatro em cada dez paulistanos dão trocados nos semáforos

Por Rodrigo Brancatelli
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h35

Janaína, 8 anos recém-completados, brinca com um bebê de brinquedo que, como ela, está cheio de fuligem e com as roupas carcomidas. Seu playground é a calçada da Rua Amauri, no Itaim Bibi. A garota, sua irmã um ano mais velha e dois primos trabalham ali de segunda a domingo, das 10 da manhã às 7 da noite, pedindo moedinhas aos motoristas que passam apressados. Janaína diz que “nem liga” de ficar tanto tempo na rua. Enquanto não está esmolando ou brincando com Dadá, sua boneca, ela pensa no presente que poderá ganhar de Natal. “Quero um relógio cor-de-rosa ou uma bicicleta”, diz ela. “Minha mãe falou que, se eu conseguir bastante moeda no farol, ela me dá.” A mãe da menina sorri e complementa. “Se Deus quiser, o Natal vai ser bom.” Desempregada, Jacira de Souza, 35 anos, faz as mesmas promessas desde 2003, quando começou a levar suas filhas e seus sobrinhos para pedir dinheiro nos semáforos. Só esmola no período de festas, quando os paulistanos, acometidos de bons sentimentos natalinos, costumam ficar mais caridosos. Com o que recebe, ela ajuda seu marido, também desempregado, no orçamento da casa de três cômodos na região de São Mateus, na Zona Leste.

Jacira e a garotada arrecadam até 600 reais no mês. Não são os únicos. Aproximadamente 2 000 crianças e adolescentes que normalmente cumprem expediente nos cruzamentos de São Paulo ganham em dezembro a companhia de 600 meninos e meninas, trazidos por seus pais de outros municípios da região metropolitana. Segundo estimativa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, esse contingente de pedintes arrecada 2 milhões de reais por mês, sem contar doações de roupas, comida e brinquedos – em dezembro o valor cresce 30%. “É um negócio lucrativo, pois quatro em cada dez motoristas dão dinheiro”, diz o secretário Floriano Pesaro. “A longo prazo, a prática se revela mais um problema do que uma solução.” A socióloga Maria Adelaide Schröder, da ONG Núcleo de Apoio ao Jovem Carente, concorda. “Existem famílias inteiras que esmolam no centro de São Paulo há três gerações”, afirma.

Para tentar coibir a doação de dinheiro nos semáforos, a secretaria criou a campanha Dê Mais que Esmola, Dê Futuro, na qual agentes sociais passam as noites rondando os cruzamentos com o objetivo de tirar as famílias das ruas. Os 120 funcionários, que ganharão o reforço de outros 200 agentes nas próximas semanas, já cadastraram 1 000 crianças nos programas sociais da prefeitura desde o começo do ano. Mas a concorrência é difícil. A bolsa dada pelo governo a famílias que aceitam parar de trabalhar nos faróis é de 40 reais por mês por criança. Num dia de bom movimento, as irmãs Daniela e Carolina de Freitas, de 3 e 6 anos, ganham quase a mesma coisa. Elas praticamente nasceram pedindo esmola na esquina da Rua Cancioneiro Popular com a Avenida Roque Petroni Júnior, perto do MorumbiShopping, no bairro de Chácara Santo Antônio – sua mãe, Eliana de Freitas, 23 anos, desempregada, as leva desde que eram bebês. Nenhuma das duas meninas está matriculada em creche ou escola. “Venho cedinho de Itapecerica da Serra e só volto às 18 horas”, diz Eliana, que com o dinheiro arrecadado paga o aluguel de 200 reais e já conseguiu comprar uma televisão e um fogão usado para sua casa. “As pessoas que passam por aqui não precisam dessas moedinhas, mas para nós isso é a sobrevivência da família.”

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